Episódio 20 – Quando o Passado Bate à Porta
Depois daquele bilhete, meu coração não encontrou paz. Por mais que Leonardo estivesse ao meu lado, havia algo que pairava entre nós — uma sombra que crescia cada vez mais.
Ele tentou esconder, mas eu via. O medo nos olhos. A incerteza nos gestos. Como se a volta de Diana pudesse apagar tudo o que havíamos construído.
Nos dias seguintes, ele mergulhou em trabalho e silêncio. E eu... eu não sabia onde pisar.
— Você quer saber o que eu acho? — disse Letícia, minha amiga e confidente, enquanto tomávamos café na cafeteria escondida que eu frequentava desde antes do casamento. — Esse cara tá começando a te amar. Mas não sabe lidar com isso. Muito menos com o fantasma da ex grávida que ressuscita anos depois.
— Ele não me diz tudo, Letícia. Às vezes, é como se ainda tivesse segredos maiores do que eu posso suportar.
Ela levantou a sobrancelha.
— Isabela… você já parou pra pensar que talvez essa Diana nunca tenha sumido sozinha?
Arregalei os olhos.
— O que você quer dizer?
— E se ela foi forçada? Ou… usada?
A hipótese me gelou por dentro.
Naquela noite, cheguei à mansão decidida a falar com Leonardo. Precisávamos encarar tudo de frente. Sem jogos. Sem segredos.
Mas antes mesmo que eu subisse as escadas, a porta foi escancarada por Henrique.
Ele entrou furioso, jogando a pasta contra o sofá.
— Sabia! Eu sabia que ela ainda estava viva! — gritou, apontando o dedo na cara do irmão.
Leonardo se levantou devagar. Seu rosto era uma máscara de gelo.
— Você está bêbado, Henrique. Sai daqui antes que eu mande te arrastarem pelos pés.
— Não. Eu vou dizer tudo. Na frente dela. Já que você acha que pode esconder o passado com flores e contratos rasgados!
Olhei de um para o outro, confusa.
— Do que ele está falando?
Henrique me encarou com os olhos vermelhos de raiva e álcool.
— Pergunta pra ele, Isabela. Pergunta quem mandou Diana embora. Quem pagou pra ela sumir. Quem... quem destruiu a vida de uma mulher só porque ela era pobre demais pro sobrenome Vasques.
Minha respiração travou.
— Leonardo?
Ele não respondeu. Ficou imóvel. Como uma estátua prestes a desabar.
— Foi o nosso pai, Isabela — revelou Henrique. — Mas ele teve ajuda. De alguém dentro da casa. Alguém que Leonardo confiava.
Um silêncio pesado tomou conta da sala.
— E você só fala isso agora? — perguntei.
— Porque agora ela voltou! E se ela recuperar a memória? E se contar que nunca foi embora por vontade própria?
Leonardo passou a mão no rosto e respirou fundo.
— Ela foi embora... porque achou que estava me protegendo. Eu nunca soube o que meu pai fez. Nem que ela tinha sofrido tanto.
— E agora? — perguntei. — Vai fazer o quê?
Ele me olhou. Pela primeira vez em dias, com sinceridade.
— Vou descobrir quem foi. E vou proteger vocês duas. Diana... e você.
Henrique riu, amargo.
— Boa sorte. O inimigo tá dentro da sua casa.
Mais tarde, sozinha no quarto, recebi uma mensagem anônima no celular:
“Quer saber quem está mentindo? Visite o orfanato Santa Luzia. Quarto 8. Amanhã. Sozinha.”
Meu sangue gelou. Mas algo me dizia que era a pista que faltava.
No dia seguinte, fui até o orfanato. O lugar era antigo, mas bem cuidado. O quarto 8 ficava no segundo andar.
Abri a porta devagar.
E encontrei uma mulher sentada na cama, de costas. Cabelos grisalhos, postura cansada.
— Você veio — disse ela, sem se virar.
— Quem é você?
— A mulher que criou Diana quando ela foi deixada aqui… grávida, perdida, e com medo de morrer.
Meu coração parou.
— Diana ficou aqui?
Ela se virou. O rosto tinha marcas do tempo, mas os olhos brilhavam com lembranças dolorosas.
— Sim. Ela foi trazida por dois homens. Disseram que ela precisava sumir por um tempo. Prometeram apoio. Nunca voltaram.
— Você sabe quem eram?
Ela hesitou.
— Um deles se chamava Fernando. O outro… tinha olhos azuis. Olhos como os de seu marido.
Engoli seco.
— Henrique…
— Talvez. Ou talvez outro Vasques. Mas posso garantir uma coisa, menina: Diana nunca quis fugir. Ela foi forçada.
Me despedi, com o coração despedaçado.
Ao voltar, encontrei Leonardo no escritório. Mostrei a foto que tirei da mulher. Contei tudo.
Ele caiu no sofá, em choque.
— Henrique sempre soube. Ele deve ter participado. Meu pai… meu pai planejou tudo isso.
— E agora?
Ele me olhou com os olhos firmes.
— Agora, vamos derrubar todos eles. Um por um.
Mas naquela mesma noite, enquanto eu dormia, recebi uma ligação anônima.
— Se você continuar cavando... vai enterrá-lo junto.
E então a linha caiu.
Fim do episódio 20 ...