Episódio 22 – Um Segredo no Cofre
Depois de um raro momento de paz com Leonardo — e risadas que eu jamais pensei ouvir naquela mansão —, a vida, como sempre, tratou de me lembrar de que eu ainda era apenas a noiva errada.
Naquela noite, acordei no meio da madrugada com um som estranho vindo do andar de baixo. Pensei que fosse mais uma das empregadas mexendo em algo, até ouvir... vozes baixas.
Leonardo não estava na cama.
Desci em silêncio, descalça, com o coração disparado. A mansão parecia ainda maior à noite, os corredores escuros e frios como um palácio abandonado.
Parei perto do escritório.
A porta estava entreaberta.
— ...se alguém descobrir, estamos ferrados, Henrique — disse Leonardo, a voz baixa e firme.
Meu coração quase saiu pela boca. Henrique?
— Ela não pode saber. Ninguém pode saber. Especialmente... ela.
Ela? EU?!
Meu nome não foi dito, mas quem mais seria?
Meu corpo gelou.
Tentei me afastar sem fazer barulho, mas esbarrei no vaso de cristal. O estrondo ecoou como um trovão.
A porta se abriu. Leonardo apareceu, camisa meio desabotoada, olhos surpresos — e em segundos, frios.
— O que está fazendo aqui?
— Eu... ouvi barulho. Achei que... — eu mentia muito mal. Minha voz tremia. Eu sabia disso. E ele também.
Henrique saiu do escritório com um sorriso falso nos lábios.
— Está tudo bem, Isabela. Estávamos só resolvendo uma questão antiga de negócios.
Leonardo me olhou de cima abaixo.
— Volte para o quarto.
Mas não foi uma ordem comum. Foi... gélida.
Subi, engolindo o nó na garganta. Mas uma coisa eu sabia: aquilo não era “só negócio”. Tinha algo muito maior escondido atrás daquela porta. E agora, eu queria descobrir o que.
**
No dia seguinte, Leonardo saiu cedo. E eu, bom... eu segui meu instinto.
Esperei a casa ficar vazia e voltei ao escritório. Meus dedos tremiam ao empurrar a porta. Era como invadir um território proibido. Mas eu precisava entender o que eles estavam escondendo.
Atrás de um quadro antigo, encontrei o que parecia ser a porta de um cofre embutido na parede.
Um cofre.
Claro. Um bilionário com segredos teria um, certo?
Tentei lembrar os números importantes que ele já me disse: datas, números de celular, até o valor da aliança ridícula de diamantes.
Nada funcionava.
Até que me lembrei de algo: a senha da porta do nosso quarto era “1987”. O ano de nascimento da mãe dele.
Tentei.
Bip.
O cofre abriu.
Dentro, havia uma pasta preta. Grossa. Com meu nome.
Sim, o meu nome.
"Isabela Fernandes Vasques – Dossiê Pré-Nupcial"
Abri, tremendo.
E ali estavam cópias do meu histórico médico, financeiro, até mensagens minhas com minha mãe... como ele tinha aquilo tudo antes do casamento?
Mas o pior não era isso.
Na última página, havia um documento:
"Contrato de Anulação – Casamento de conveniência, validade: 12 meses."
Validade?
Meu casamento era um prazo?
Foi como levar um soco.
Fechei a pasta, engoli o choro. O coração apertado. A verdade vinha como um furacão.
Leonardo não queria uma esposa. Ele queria um projeto temporário. Uma mulher discreta, submissa, descartável — e barata.
Mas ele escolheu a errada.
**
Quando ele chegou naquela noite, eu estava esperando na sala, com o documento em mãos.
— Estava brincando de esconde-esconde com o seu passado, querido?
Ele parou. Olhou o papel. Silêncio. Mas não negou.
— Você não devia ter mexido nisso.
— E você não devia ter me comprado como um móvel da mansão.
Ele respirou fundo.
— Você entrou nesse casamento por dinheiro, Isabela. Não finja inocência.
— Eu entrei pra salvar minha mãe. E você me usou como um fantoche.
Silêncio.
— Você sabia que eu era a noiva errada. Desde o início. Sabia. E mesmo assim, me manteve aqui.
Ele não respondeu.
Porque, no fundo, sabia que era verdade.
**
Aquela noite, dormimos em quartos separados.
Mas pela primeira vez... eu não chorei.
Porque eu sabia: a garota do pijama de unicórnio pode ter entrado naquela casa inocente, mas agora ela estava acordando.
E se Leonardo achava que podia me descartar, ele estava prestes a descobrir que a noiva errada pode ser o maior erro certo da vida dele.