EPISÓDIO 4 – Uma Nova Regra no Jogo
Depois da apresentação, tudo ficou... diferente. Não exatamente melhor. Mas diferente.
As pessoas passaram a olhar pra mim como se eu tivesse feito algo incrível, tipo uma mágica. Alguns até cochichavam quando eu passava no corredor. Era como se, de repente, eu tivesse deixado de ser a “nova estranha” pra virar a “nova promissora”.
Mas nem todo mundo gostou disso.
Na aula de educação artística, sentei na minha carteira com um certo alívio. Era uma das poucas matérias em que o silêncio dominava. O som do lápis no papel, o cheiro da tinta guache... tudo era mais tranquilo.
— Isabelly — sussurrou Camila atrás de mim — sua letra é bonita ou foi só no cartaz?
Virei devagar.
— Por quê?
— A professora vai pedir cartaz de novo. A Bianca quer que você escreva. E com caneta permanente, tá?
Engoli seco. Era um elogio? Uma ordem? Ou uma armadilha?
— Tá bem — respondi, sem saber o que esperar.
Quando a aula terminou, fui chamada para um grupo improvisado no pátio. Bianca e Alana estavam discutindo o tema do novo trabalho, sentadas como se fossem membros de um conselho estudantil.
— “A importância das Regras de Convivência”. Que tema mais sem sal — disse Bianca, revirando os olhos. — Mas se a gente fizer certo, ganha ponto extra.
— A parte escrita você faz — declarou Alana. — Afinal, a estrela é você, né?
Respirei fundo.
— Tudo bem. Mas seria bom a gente fazer juntas. Se cada uma escrever um pouco, fica mais original.
Elas riram.
— Ai, que fofa — disse Camila. — Você ainda acredita em trabalho em equipe?
Eu me senti como se tivesse dito algo inocente demais. Como uma criança pedindo um brinquedo em loja de joias.
Mas então Bianca falou algo inesperado:
— Sabe… talvez a gente devesse tentar isso.
As outras a encararam surpresas. E eu também.
— Como assim? — perguntou Alana.
— Sei lá. Vai que funciona. Vamos tentar fazer tudo juntas. Tipo aquelas equipes de filmes adolescentes.
— Sério mesmo que você assistiu isso, Bianca? — Camila zombou.
— Shhh. Vai ser bom pra nota. E a Isabelly… ela tem ideias. Isso pode ajudar.
Senti meu coração bater mais forte. Era um passo. Um teste. Uma nova regra no jogo.
Nos dias seguintes, passamos a nos reunir na biblioteca. Entre risadas abafadas, discussões sobre fontes e desenhos malfeitos, algo começou a mudar. Não viramos melhores amigas, mas pela primeira vez, elas me deixaram fazer parte.
— Essa parte aqui tá boa, Isabelly — disse Alana, apontando um parágrafo. — Você escreve diferente. Parece… adulto.
Sorri.
— Meu pai era jornalista. Acho que herdei isso.
Elas se entreolharam.
— Seu pai é famoso? — perguntou Bianca, curiosa.
— Não… Ele faleceu quando eu tinha sete anos.
Silêncio.
— Ah — murmurou Camila. — Sinto muito.
Pela primeira vez, ela falou comigo sem sarcasmo.
Depois da aula, Léo veio ao meu encontro com uma expressão meio cética.
— Você anda andando com as meninas do Corredor 3.
— Elas não são tão ruins quanto parecem, sabia?
Ele arqueou a sobrancelha.
— Cuidado pra não se enganar. Elas são boas em parecer boas. Principalmente quando querem algo.
— Eu sei. Mas talvez elas também estejam tentando mudar.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos.
— Só não perca quem você é tentando fazer parte de quem elas são.
Aquelas palavras ficaram ecoando em mim o resto da tarde.
No fim da semana, apresentamos o novo trabalho. Juntas. Com cada uma lendo um trecho, intercalando frases e até brincando no final com uma pequena encenação. A sala aplaudiu. A professora ficou impressionada.
E quando a nota foi anunciada — 10 com louvor — as meninas me abraçaram como se eu fosse parte do grupo desde sempre.
Naquele instante, me senti... aceita.
Mas dentro de mim, a voz do Léo ainda repetia:
“Só não perca quem você é...”
Naquela noite, escrevi no diário:
“Talvez fazer parte de algo não signifique mudar quem você é. Talvez signifique descobrir que você pode ser mais… sem perder o que te faz única.”
“Mas mesmo num jogo novo, é bom lembrar de onde vim. E por que comecei.”
Eu ainda era Isabelly.
Mas talvez, agora… fosse também uma nova versão de mim mesma.
[Continua no Episódio 5…]