Episódio 6

EPISÓDIO 6 – Festival das Máscaras

Dizem que o palco revela quem você é. Mas naquela noite do festival escolar, o palco parecia fazer o oposto: esconder todo mundo atrás de personagens que nunca seriam na vida real.

Nossa sala decidiu fazer uma apresentação sobre “A dualidade do ser”. Soava filosófico demais pra alunos do ensino médio, mas com a orientação da professora Mônica e as ideias criativas de todos, aquilo se tornou... mágico.

Cada um de nós interpretaria um lado da própria personalidade — o lado que mostramos e o que escondemos. Tínhamos máscaras pretas e brancas, figurinos simples, e luzes que mudavam conforme os sentimentos expressos.

E eu, a novata silenciosa, era a responsável pela narração principal.

Sim, eu. Logo eu. No palco. Com microfone.

— Tem certeza de que quer fazer isso? — Bianca perguntou, enquanto retocava a maquiagem no camarim improvisado.

— Não. Mas preciso fazer.

Ela sorriu.

— Corajosa.

— Ou desesperada pra vencer minha própria voz trêmula.

Ela tocou meu ombro.

— Você vai brilhar.

Era estranho o quanto aquilo importava vindo dela.

Léo apareceu pouco antes da apresentação.

— Veio mesmo? — perguntei, surpresa.

— Não podia perder o grande show da garota que mais mudou em três semanas.

— Isso é um elogio?

— É um fato.

Sorri.

— Tô com medo.

— Isso é bom. Sinal de que você ainda se importa.

Quando as cortinas se abriram, meu coração quase saiu pela boca. As luzes me cegaram por um segundo, e o silêncio da plateia me pareceu uma eternidade.

Mas então ouvi minha própria voz:

— “Todos usamos máscaras. Umas feitas de medo. Outras de orgulho. Algumas de dor. Mas, às vezes, a maior coragem é tirá-las diante de quem não vai rir.”

A plateia ficou em silêncio. O bom tipo de silêncio.

E enquanto os colegas dançavam, recitavam textos e se revezavam nas dramatizações, fui percebendo algo: eu fazia parte. De verdade.

Não era mais a nova. Nem a deslocada. Nem a que ficava atrás do livro. Eu era... Isabelly. Do meu jeito.

No fim da apresentação, as luzes se apagaram. E quando acenderam, todos nós estávamos de mãos dadas no palco. Máscaras caídas no chão.

Aplausos. Muitos aplausos.

E então, uma surpresa: a escola anunciou que nossa turma tinha vencido o festival. A melhor apresentação entre todas.

Bianca me abraçou.

— Você foi incrível, Isa!

Camila chegou logo depois:

— Nunca pensei que a nossa narradora tímida fosse arrasar desse jeito. Quase chorei.

Alana riu.

— Você chorou, sim. Eu vi.

Na saída, Léo me esperava perto do portão. Sorriu ao me ver.

— Então... agora é estrela?

— Só hoje. Amanhã volto a ser só uma garota com caligrafia bonita e notas medianas em matemática.

Ele me olhou nos olhos.

— Você brilhou, Isabelly. Sério.

— Obrigada por vir.

— Sempre. Mesmo que de longe.

O “de longe” ficou preso no ar.

— Por que de longe?

Ele deu de ombros.

— Porque às vezes, a gente acha que não tem lugar perto de quem está crescendo tão rápido.

— Isso não é verdade.

— Mas é o que parece.

E ali, naquele instante, entendi: Léo também usava uma máscara. A da indiferença. Quando na verdade, talvez sentisse o mesmo que eu.

Naquela noite, deitada na cama, escrevi no diário:

“As máscaras caem. Mas o que fazemos depois é o que realmente nos define.”

“Hoje, tirei a minha. E vi outras caírem também. Mas será que estou pronta pra ver o que vem depois?”

“Porque, às vezes, o que mais assusta... é ser você mesma.”

[Continua no Episódio 7…]