EPISÓDIO 8 – A Rainha Destronada
A segunda-feira começou com um clima estranho. Como se todo mundo estivesse pisando em ovos, esperando o próximo escândalo da escola.
Camila não apareceu na aula. Dizem que foi drama. Outros dizem que os pais dela ficaram furiosos com a exposição dos prints. Mas, sinceramente? Eu estava mais preocupada em sobreviver à semana do que com a ausência da ex-rainha do colégio.
Sem Camila, o trono social da escola ficou vago. E adivinha quem começaram a apontar como a "nova popular"?
Sim. Eu.
Só que ao contrário do que se pensa, ser o centro das atenções não é exatamente uma bênção. É como andar com um refletor na cara: todo mundo vê seus passos... e torce pra você tropeçar.
Na hora do recreio, sentei com Bianca, Alana e mais duas meninas da turma, Clara e Yuna. Era estranho ver como o círculo de amizades tinha se expandido tão rápido.
— Não acredito que a Camila caiu mesmo — Yuna disse. — Nunca achei que isso fosse acontecer.
— Nem ela — Bianca respondeu, com uma mordida maldosa no sanduíche.
Alana mexia no suco, calada.
— Tá tudo bem? — perguntei.
Ela ergueu os olhos. Tristes, mas firmes.
— Fui amiga da Camila por anos. E ela sempre teve esse lado... manipulador. Mas a gente fingia que não via. Agora, só dói ver tudo desmoronando assim.
Toquei sua mão.
— Às vezes, pra crescer, a gente precisa deixar algumas pessoas pra trás.
Ela sorriu de canto. Foi sincero.
Léo me chamou depois da aula. Me esperava perto da escada de incêndio.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, um pouco apreensiva.
— Não. Só queria te ver sem todos os olhares em volta.
— Impossível nessa escola. Acho que até o zelador já tem teorias sobre nosso namoro.
Ele riu.
— Tô falando sério. Eu gosto de você, Isabelly. Mas... às vezes parece que a gente tá num palco o tempo todo. E isso me assusta.
— Também me assusta. Mas a gente não precisa provar nada pra ninguém.
— Então promete que, aconteça o que acontecer, a gente vai ser a gente?
— Prometo.
Ele me puxou pra um abraço apertado. E naquele momento, tudo pareceu silencioso de novo.
Mas a calmaria durou pouco.
Na terça-feira, Camila voltou.
Cabelo preso num rabo de cavalo tenso, maquiagem impecável e um sorriso... perigoso.
Ela entrou na sala como se nada tivesse acontecido. Como se não tivesse sido exposta publicamente. Como se ainda fosse... ela.
E o pior? Algumas pessoas ainda a seguiam.
Na hora do intervalo, ela passou por mim e disse baixo, quase sussurrando:
— Isso ainda não acabou, novata.
Sorri, sem medo.
— Ótimo. Porque eu também ainda nem comecei.
No grupo da sala, começaram a surgir boatos de que Camila estava planejando seu “retorno triunfal”. Até criaram uma figurinha com ela escrito: “A verdadeira rainha nunca perde a coroa. Só descansa o pescoço.”
Ridículo. Mas eficaz. Ganhou dezenas de reações.
E eu, de repente, me vi no meio de uma disputa invisível. Como se a escola fosse um tabuleiro e eu tivesse virado peça principal.
Na aula de teatro, a professora Mônica nos passou uma tarefa: montar um monólogo sobre “quem somos por trás do que mostramos”.
Tema perfeito. Ou cruel. Depende do ponto de vista.
Quando terminei meu texto e me levantei para apresentar, senti os olhos de todos sobre mim. Incluindo os de Camila.
— “Me chamam de queridinha da classe. A menina que chegou do nada e virou alguém. Dizem que sou exemplo, modelo, até rival. Mas ninguém sabe o quanto tremem minhas mãos antes de cada apresentação. Ninguém sabe dos choros escondidos no banheiro. Ninguém sabe o que custou pra que eu me sentisse... pertencente.”
Silêncio total.
— “Sou Isabelly. E antes de ser qualquer coisa pra vocês... eu precisei me reconhecer pra mim.”
Quando terminei, ouvi aplausos. Até Camila, com um meio sorriso, aplaudiu.
Confesso: aquilo me deu medo. Um elogio dela nunca vinha sem veneno.
Naquela noite, escrevi:
“Às vezes, o palco é o único lugar onde me sinto forte. Mas talvez esteja na hora de ser forte fora dele também.”
“Porque a verdadeira queridinha... é aquela que sabe quem é. Mesmo quando os outros tentam apagar sua luz.”
[Continua no Episódio 9…]