Episódio 9

EPISÓDIO 9 – A Festa das Máscaras

Tudo começou com um convite.

Um envelope dourado, discreto, deslizado por debaixo da minha carteira logo pela manhã.

"Você está convidada para a Festa das Máscaras – nesta sexta, às 20h, na casa da Camila. Use preto. Leve segredos."

Camila. A garota que até outro dia queria minha cabeça numa bandeja, agora me chamava para uma festa secreta? Eu não sabia se era armadilha ou uma tentativa de paz. Mas havia algo naquela mensagem que cutucava minha curiosidade.

E, como uma boa protagonista dramática... é claro que eu fui.

A semana passou lenta, como se cada aula fosse um capítulo de suspense. Bianca estava relutante em me deixar ir.

— Você confia nela? — perguntou, cruzando os braços.

— Não. Mas eu confio em mim.

Ela suspirou, resignada.

— Então promete que se ela tentar alguma coisa, você sai na hora?

— Prometo. E levo você junto por precaução.

Ela sorriu. E no fundo, eu sabia: se o circo pegasse fogo, Bianca jogaria gasolina só pra me defender.

Na sexta, me vesti com um vestido preto simples, justo, que eu mesma nunca teria usado meses atrás. O cabelo solto, maquiagem leve, e uma máscara dourada. Eu estava nervosa... mas pronta.

A casa da Camila era uma mansão. Literalmente. Portões altos, carros de luxo na entrada, luzes por todos os lados. Dentro, adolescentes mascarados riam, dançavam, se exibiam. Era como entrar num filme.

Léo me encontrou perto da escada.

— Você está linda — ele disse, segurando minha mão.

— E você está disfarçado de galã?

— Não. Esse sou eu mesmo — ele piscou, e eu ri.

Nos sentamos num canto mais reservado, observando o caos social em forma de festa. Até que Camila apareceu. Usava uma máscara prateada e um vestido digno de passarela. Todos notaram sua chegada. Ela era boa nisso: ser o centro sem precisar fazer esforço.

— Isabelly! — ela me chamou com um sorriso encantador demais pra ser sincero. — Que bom que veio.

Me levantei, respirando fundo.

— Vim ver com os próprios olhos o que você está armando.

— Só diversão, querida. Mas... — ela se aproximou, baixando o tom — toda festa tem sua atração principal.

Levantei uma sobrancelha.

— E qual é a de hoje?

Ela piscou.

— Você.

Minutos depois, as luzes diminuíram. Um telão acendeu no meio do salão. Todos se viraram para assistir. Camila pegou o microfone.

— Bem-vindos à Festa das Máscaras! — anunciou, e a plateia aplaudiu. — Hoje, vamos brincar de "Verdade ou Desafio". Mas... com um toque especial. As verdades serão exibidas.

Eu soube naquele instante que alguma coisa vinha.

Camila clicou num botão.

No telão, começou a rodar um vídeo. Era uma montagem. Cortes de vídeos da escola. Trechos das minhas apresentações, áudios de mensagens de voz que mandei pra Bianca. E, de repente... prints das conversas com Léo. Inclusive os mais íntimos.

A sala caiu em murmúrio.

Senti meu estômago revirar.

— O que é isso? — gritei.

Camila sorriu, triunfante.

— Uma pequena lembrança de que ninguém é perfeito. Nem mesmo a queridinha.

O sangue me subiu à cabeça. Mas antes que eu respondesse, Léo subiu no palco. Pegou o microfone das mãos dela.

— Chega, Camila. Você passou dos limites.

— Estou só mostrando a verdade.

— Não. Você está tentando destruir alguém porque não suporta ver outra pessoa no centro. Mas sabe o que é mais feio do que perder? É não saber perder.

A plateia explodiu em murmúrios de aprovação.

Camila ficou sem fala. Pela primeira vez... tremia.

Eu me aproximei devagar. Subi no palco. Peguei o microfone.

— Se ser "a queridinha" significa ser odiada por ser eu mesma... então tudo bem. Prefiro ser odiada por ser verdadeira do que amada por usar máscaras.

E arranquei minha máscara, jogando no chão.

Aplausos. Gritos. Alívio.

Camila desceu do palco. E naquela noite, pela primeira vez, eu soube: o poder que ela tanto segurava agora estava quebrado.

Quando voltei pra casa, escrevi:

“Hoje, enfrentei meu maior medo: ser exposta. Mas descobri que a vergonha só existe quando a gente tem algo a esconder. E eu? Eu não escondo mais quem sou.”

“Porque a garota que antes se encolhia na cadeira agora dança no palco. E sem máscara nenhuma.”

[Continua no Episódio 10…]