Episódio 10

EPISÓDIO 10 – Depois da Tempestade

O silêncio do sábado de manhã contrastava com o caos da noite anterior.

Ainda estava deitada quando recebi as primeiras mensagens. Prints. Vídeos. Comentários.

"A Isabelly arrasou!"

"Camila perdeu a moral."

"Finalmente alguém teve coragem de se levantar contra ela!"

Fui abrindo tudo, devagar, com o coração acelerado. Era como assistir ao eco de algo que, no fundo, eu ainda não acreditava que fiz.

— Bom dia, heroína — disse Bianca, entrando no meu quarto com um copo de suco e aquele olhar debochado.

— Eu ainda tô tentando entender o que aconteceu...

— Você foi pro palco, deu um discurso digno de Oscar e quebrou a Camila na frente de todo mundo. Isso é o que aconteceu.

Sorri. Mas lá no fundo, eu sabia que o que vinha depois da queda... era o impacto.

Na segunda-feira, a escola parecia diferente. O mesmo prédio, as mesmas salas, os mesmos corredores. Mas os olhares mudaram.

Alguns alunos me cumprimentavam com respeito. Outros com curiosidade. Alguns, só observavam à distância, esperando meu próximo movimento.

Camila não apareceu.

E, sinceramente? Eu esperava que ela não aparecesse tão cedo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que ela não era de desistir tão fácil.

Léo me esperava no portão. Ao vê-lo, meu coração deu um salto bobo.

— Sobre sexta... — ele começou.

— Eu sei. Obrigada por ter me defendido.

— Eu faria de novo, mil vezes. E não só porque gosto de você...

Travei.

— Léo...

— Calma. Não tô te cobrando nada. Só quero que você saiba que tem alguém do seu lado.

Fiquei quieta. Mas segurei sua mão. E naquele momento, não precisava dizer mais nada.

Durante o intervalo, fui chamada na sala da diretora.

— Isabelly, entre — disse ela, com um sorriso contido. — Queria parabenizá-la pela postura que teve na festa. Muitos pais vieram comentar. Mas, também quero saber... você gostaria de ser representante de turma?

Arregalei os olhos.

— Eu?

— Sim. Você mostrou coragem, empatia e liderança. O tipo de aluna que inspira os outros.

Fiquei muda por uns segundos. Eu, que meses atrás era invisível... agora recebia um convite desses?

— Eu... aceito.

As aulas seguiram. O tempo parecia andar em ritmo acelerado. Tanta coisa estava mudando. Mas uma em especial me deixava inquieta.

Camila.

Ninguém sabia onde ela estava. Algumas meninas diziam que ela viajou. Outras, que foi suspensa. Mas Bianca, que era excelente farejadora de encrenca, tinha outra teoria.

— Ela tá preparando o contra-ataque.

— Contra-ataque?

— Claro. Você acha que a Camila vai desaparecer assim, sem um último ato dramático?

Engoli seco. Porque, no fundo, eu sabia: Bianca tinha razão.

Na sexta-feira, exatamente uma semana depois da festa, encontrei um envelope na minha mochila. Igual ao da outra vez. Só que, dessa vez, com letras vermelhas:

"A guerra só começou. Prepare-se para cair."

Mostrei pra Bianca.

— Bingo — ela murmurou. — Ela vai voltar.

Mas eu não estava mais com medo. Não como antes.

No fim de semana, sentei com minha mãe na varanda. Ela olhou pra mim com aquele olhar calmo, mas que enxerga tudo.

— Está diferente.

— Eu?

— Você cresceu. Enfrentou uma situação difícil, e se manteve firme.

— Mas tenho medo do que vem agora. Camila não é de perdoar.

— E você não é de fugir. A Isabelly de antes talvez fosse. Mas a de agora...

Ela apertou minha mão.

— Está aprendendo a voar.

Sorri, emocionada. Porque era verdade. Cada queda tinha me ensinado a levantar com mais força.

Na segunda-feira seguinte, Camila voltou.

Ela entrou na sala como se nada tivesse acontecido. Cabeça erguida. Olhar afiado. O silêncio foi geral.

Ela passou por mim. Parou.

— Bonito o show que deu. Mas o espetáculo ainda não acabou.

— Eu tô preparada — respondi, encarando-a.

Ela sorriu, e pela primeira vez, aquele sorriso parecia... cansado.

— Veremos.

Na saída, Léo me esperava.

— Preparada pra mais uma semana de guerra?

— Dessa vez, não é guerra. É resistência.

— E o que você vai fazer?

Olhei para ele. Para a escola. Para dentro de mim.

— Ser eu mesma. O resto... a gente enfrenta junto.

Ele sorriu, me puxando pela mão.

— Então vamos.

E fomos. Não como fugitivos da guerra. Mas como sobreviventes da verdade.

[Continua no Episódio 11...]