Capítulo 5 – Primeiro Passo como Desperto

A luz pôs-do-sol se derramava pelas ruas enquanto eu caminhava de volta para casa com o crachá da Associação no bolso. Era um pedaço de metal comum, com meu nome gravado em letras simples, mas para mim, tinha o peso de um troféu. Eu finalmente era um Desperto oficial. Classe D, sim, mas um começo de verdade.

Não contei para minha mãe de imediato. Esperei até ela estar sentada na varanda, envolta no cobertor, observando o fim do dia. Ela sorriu ao me ver, como sempre fazia, mesmo nos dias ruins.

— E então? — ela perguntou, antes mesmo que eu dissesse qualquer coisa.

Puxei o crachá do bolso e entreguei a ela.

— Oficialmente classificado. Classe D.

Ela segurou o crachá por alguns segundos, como se analisasse algo mais do que o nome ou o brilho do metal. Quando levantou os olhos para mim, havia lágrimas discretas ali.

— Eu sempre soube que você tinha algo especial.

Sorri. Era a primeira vez em muito tempo que eu via nos olhos dela algo parecido com orgulho.

Naquela noite, mal consegui dormir. A adrenalina ainda pulsava nas veias. Toda vez que fechava os olhos, revivia o soco no peito do ogro, o salto inesperado na caverna, o lobo explodindo em fumaça. E, acima de tudo, aquela sensação estranha de que meu corpo não estava apenas ficando mais forte, mas se moldando a cada luta.

Logo pela manhã, recebi uma notificação do sistema:

> Missão recomendada: Refúgio das Mandíbulas

> Rank da Dungeon: D+

> Status: Ativa, não conquistada

> Recompensa base: 2.000 créditos, 1 Cristal de Energia Verde

Aceitei sem hesitar. Eu não podia perder o ritmo.

Me equipei com o básico: uma luva de reforço, bandagens, e uma pequena mochila com suprimentos. Roupas flexíveis, leves, como sempre. Não tinha dinheiro para armaduras caras. Ainda.

Cheguei à entrada da Dungeon indicado no sistema, no limite de uma zona urbana abandonada. Era um buraco largo no chão, coberto por fumaça cinza, cercado por cones de segurança e sensores mágicos.

Um agente da Associação me parou.

— Nome?

— Renji Arata. Classe D. Missão solo, autorizada pelo sistema.

Ele verificou em um tablet e acenou com a cabeça.

— Boa sorte lá dentro. Essa dungeon tem um dos ambientes mais traiçoeiros para novatos.

Sorri de canto.

— Sorte não. Vou levar preparo.

Saltei para dentro da abertura. A luz sumiu. Meu corpo foi tomado por uma sensação de pressão, como se atravessasse uma membrana.

E então, estava lá.

O Refúgio das Mandíbulas fazia jus ao nome. Era como estar dentro da boca de um monstro. As paredes eram carnudas, pulsantes. Cada passo produzia um som viscoso. O ar cheirava a metal e sangue.

Minhas habilidades ativaram por instinto. Eu estava em alerta total.

Caminhei devagar. Não demorou para os primeiros inimigos aparecerem: criaturas rastejantes, como formigas do tamanho de um cachorro, com mandíbulas de cristal. Elas se moviam em enxames, coordenadas, afiadas.

O primeiro confronto foi caótico. Eu não podia lutar em linha reta. Tive que usar o terreno: saltar, correr nas paredes, esquivar pelas laterais. Cada golpe meu era metálico, doloroso, mas eficaz. O Soco Explosivo rachou o chão. A Recuperação Acelerada me mantinha em pé mesmo com os cortes nas pernas.

Foram quarenta minutos de batalha constante. Ao final, eu estava ofegante, coberto de sangue e gosma... mas vivo.

E melhor.

> Você subiu de nível.

> Novas habilidades liberadas.

Sentei num canto seguro e abri a tela de status.

> RENJI ARATA

> Nível: 2

> Força: 18 | Agilidade: 16 | Resistência: 19 | Magia: 35

> Habilidade Única: Transcendência Corpórea (Despertada)

> Nova habilidade: Tensão Muscular – aumenta sua força em 25% por tempo limitado.

Sorri.

Era apenas o começo.