Capítulo 26 – Sussurros da Tormenta

O céu sobre a cidade nunca havia parecido tão pesado. Após o confronto com Kei, a Raiz Carmesim passou dias em silêncio, reconstruindo o que pôde — emocional e fisicamente. Mas a imagem daquela figura encapuzada com o olho roxo ainda assombrava todos, especialmente Renji.

Ele se encontrava na sala de meditação da guilda, suando frio mesmo sentado. A imagem do colapso da dungeon e as últimas palavras de Kei ecoavam em sua mente como tambores de guerra.

— Ele está vindo... quem? — murmurava, os dedos trêmulos.

Foi interrompido por um toque sutil na porta.

— Pode entrar — disse, sem virar.

Era Yura, com um envelope em mãos. A expressão dela estava estranhamente calma.

— Chegou uma carta oficial da Aliança Mundial de Caçadores. Você foi convocado para o Conselho dos Quatro Continentes. Eles querem ouvir o que viu.

Renji pegou o envelope e leu. As palavras eram formais, mas o tom deixava claro: algo grande se aproximava.

— Eles chamaram só a mim?

— Só você, por enquanto. Mas também citaram sua guilda. Estão observando.

Dalki apareceu encostado na porta, bocejando.

— Estão tentando recrutar ou controlar?

Renji não respondeu. Dobrou o envelope e encarou o brasão da guilda na parede.

Horas depois, já no terminal mágico que levava aos portais de transferência da capital, ele se despediu com poucas palavras:

— Protejam a Raiz.

A viagem foi silenciosa. O portal o levou até a Ilha de Etheon, uma fortaleza suspensa onde se reuniam os representantes das maiores forças mundiais. Magos, guerreiros, líderes de guildas globais.

Renji se sentia um peixe fora d’água.

— Bem-vindo — disse uma voz feminina. Era Alika, representante da Guilda Oceânica do Norte. — Você é mais jovem do que eu esperava.

— E vocês são mais assustadores do que imaginei — respondeu ele, sem sorrir.

Foram levados para o salão central. Um holograma mágico exibia imagens do “olho roxo” e fragmentos de dungeon colapsadas. Ao lado de Renji estavam figuras lendárias: Saulo do Brasil, Irina da Rússia, Ko Tanaka do Japão.

— Então, Renji Arata — disse o Mestre do Conselho. — O que viu naquele portal... pode mudar tudo. Queremos saber o que sabe.

Renji respirou fundo. E começou a falar. Sobre Kei. Sobre o colapso. Sobre a figura no céu.

Mas enquanto falava, um arrepio subia por sua espinha.

Porque uma das figuras na sala — alguém encapuzado entre os representantes — o observava sem piscar.

E o olho... era roxo.