O céu sobre a cidade nunca havia parecido tão pesado. Após o confronto com Kei, a Raiz Carmesim passou dias em silêncio, reconstruindo o que pôde — emocional e fisicamente. Mas a imagem daquela figura encapuzada com o olho roxo ainda assombrava todos, especialmente Renji.
Ele se encontrava na sala de meditação da guilda, suando frio mesmo sentado. A imagem do colapso da dungeon e as últimas palavras de Kei ecoavam em sua mente como tambores de guerra.
— Ele está vindo... quem? — murmurava, os dedos trêmulos.
Foi interrompido por um toque sutil na porta.
— Pode entrar — disse, sem virar.
Era Yura, com um envelope em mãos. A expressão dela estava estranhamente calma.
— Chegou uma carta oficial da Aliança Mundial de Caçadores. Você foi convocado para o Conselho dos Quatro Continentes. Eles querem ouvir o que viu.
Renji pegou o envelope e leu. As palavras eram formais, mas o tom deixava claro: algo grande se aproximava.
— Eles chamaram só a mim?
— Só você, por enquanto. Mas também citaram sua guilda. Estão observando.
Dalki apareceu encostado na porta, bocejando.
— Estão tentando recrutar ou controlar?
Renji não respondeu. Dobrou o envelope e encarou o brasão da guilda na parede.
Horas depois, já no terminal mágico que levava aos portais de transferência da capital, ele se despediu com poucas palavras:
— Protejam a Raiz.
A viagem foi silenciosa. O portal o levou até a Ilha de Etheon, uma fortaleza suspensa onde se reuniam os representantes das maiores forças mundiais. Magos, guerreiros, líderes de guildas globais.
Renji se sentia um peixe fora d’água.
— Bem-vindo — disse uma voz feminina. Era Alika, representante da Guilda Oceânica do Norte. — Você é mais jovem do que eu esperava.
— E vocês são mais assustadores do que imaginei — respondeu ele, sem sorrir.
Foram levados para o salão central. Um holograma mágico exibia imagens do “olho roxo” e fragmentos de dungeon colapsadas. Ao lado de Renji estavam figuras lendárias: Saulo do Brasil, Irina da Rússia, Ko Tanaka do Japão.
— Então, Renji Arata — disse o Mestre do Conselho. — O que viu naquele portal... pode mudar tudo. Queremos saber o que sabe.
Renji respirou fundo. E começou a falar. Sobre Kei. Sobre o colapso. Sobre a figura no céu.
Mas enquanto falava, um arrepio subia por sua espinha.
Porque uma das figuras na sala — alguém encapuzado entre os representantes — o observava sem piscar.
E o olho... era roxo.