Capítulo 37 – O Coração da Tapeçaria

O núcleo da tapeçaria não era um local, mas um estado. Um lugar entre as linhas da realidade, onde os fios que mantinham o mundo coeso cruzavam uns sobre os outros, formando padrões antigos e pulsantes. Era preciso mais do que força para chegar lá. Era necessário querer romper a verdade do próprio mundo.

Masaki conduzia o grupo com seus fios, que tremiam a cada passo dado. Yura preparava feitiços de ancoragem mágica, enquanto Hiro, silencioso, mantinha a guarda.

— Estamos entrando numa costura viva — explicou Masaki. — Se formos engolidos por ela, viraremos parte da história. Literalmente.

Renji respirou fundo.

— Então vamos escrever a nossa.

Quando atravessaram a barreira final, o mundo pareceu inverter-se. Estavam em um campo branco infinito, onde grandes agulhas flutuavam no céu e fios de todas as cores dançavam como serpentes. Ao centro, um trono vazio. Mas ele pulsava. Como um coração.

— Esse é o Coração da Tapeçaria — sussurrou Yura. — Tudo que foi, é e será... começa aqui.

Uma figura surgiu à frente. Era Sari.

— Bem-vindos. Vocês chegaram ao núcleo. Mas não estão prontos para tocá-lo.

— Você escolheu o lado errado — disse Renji.

— Eu escolhi o lado que pode parar o sofrimento.

Ela levantou uma das mãos. Os fios do núcleo reagiram. E começaram a se entrelaçar, criando criaturas feitas de memória: visões distorcidas de Masaki quando criança, da queda de Hiro na academia, da dor de Yura ao perder seu irmão... e de Renji, sendo ignorado, humilhado e chutado por todos que um dia riram de seu “poder fraco”.

— Isso... é o que nos fez fortes — murmurou Renji. — Você quer apagar isso? Quer que ninguém precise superar nada?

— Quero que ninguém precise sofrer para evoluir.

— Mas sem cicatrizes, não há verdade. — Hiro avançou — E a sua... é a mais profunda.

A luta começou. Não contra Sari. Mas contra tudo que eram. E contra o que poderiam ter sido.

As criaturas da tapeçaria atacaram com o peso da emoção. Cada golpe doía mais do que uma espada. Mas a Raiz lutou como nunca.

No fim, Sari caiu de joelhos. Chorando.

— Então me costurem aqui. E nunca mais deixem alguém cair.

Renji se ajoelhou diante dela.

— Não costuramos erros. Damos pontos de esperança.

E ofereceu a mão.