As noites começaram a ficar mais densas.
Não como uma escuridão física, mas como uma pressão nas fibras do mundo. Renji sentia. Sari sentia. E Masaki... ouvia.
— Tem alguém mexendo nas linhas — disse ele uma noite, enquanto costurava um campo de proteção ao redor da base da Raiz Carmesim. — Mas não é alguém vivo.
— Como assim? — Yura arqueou a sobrancelha.
Masaki não respondeu de imediato. Ao invés disso, jogou um fio contra a parede. Ele prendeu ali... e começou a vibrar.
Uma voz sussurrada ecoou do nada:
"Vocês remendaram o mundo... mas esqueceram os fantasmas que nele habitam."
Renji se levantou de onde estava meditando.
— Isso é um eco residual? Ou uma manifestação de um Tecedor morto?
— Não é um Tecedor — disse Sari, pálida. — É alguém anterior a todos nós.
As linhas vibraram novamente. Masaki desmaiou.
Quando acordou, estava em uma sala branca.
— Bem-vindo, filho da fibra.
Diante dele, uma mulher de olhos costurados e cabelos feitos de fios flutuantes. Ela se apresentava como Filaria, a primeira Tecelã.
— Fui apagada da tapeçaria. Mas agora, estou voltando. E trago comigo todos os fios que foram negados. Os erros, os traumas, os esquecidos.
— Isso não é restauração — disse Masaki. — É possessão.
— É equilíbrio. Vocês criaram um novo núcleo. Mas esqueceram que o tecido da dor também é parte do todo. Eu sou a costura oculta. A retificação.
Ela tocou a testa dele. E sussurrou:
— Acordem os ecos. Ou a tapeçaria vai se enforcar com suas próprias linhas.
Masaki despertou gritando. Fios saltavam de sua pele, e suas mãos tremiam.
— Temos um novo inimigo — disse ele. — Um que não quer controlar. Quer corrigir.
Renji olhou para o céu. Pela primeira vez em semanas, ele viu... uma linha negra cruzando o firmamento.
E sentiu: essa história ainda não tinha fim.