Capítulo 39 – Vozes Entre Linhas

As noites começaram a ficar mais densas.

Não como uma escuridão física, mas como uma pressão nas fibras do mundo. Renji sentia. Sari sentia. E Masaki... ouvia.

— Tem alguém mexendo nas linhas — disse ele uma noite, enquanto costurava um campo de proteção ao redor da base da Raiz Carmesim. — Mas não é alguém vivo.

— Como assim? — Yura arqueou a sobrancelha.

Masaki não respondeu de imediato. Ao invés disso, jogou um fio contra a parede. Ele prendeu ali... e começou a vibrar.

Uma voz sussurrada ecoou do nada:

"Vocês remendaram o mundo... mas esqueceram os fantasmas que nele habitam."

Renji se levantou de onde estava meditando.

— Isso é um eco residual? Ou uma manifestação de um Tecedor morto?

— Não é um Tecedor — disse Sari, pálida. — É alguém anterior a todos nós.

As linhas vibraram novamente. Masaki desmaiou.

Quando acordou, estava em uma sala branca.

— Bem-vindo, filho da fibra.

Diante dele, uma mulher de olhos costurados e cabelos feitos de fios flutuantes. Ela se apresentava como Filaria, a primeira Tecelã.

— Fui apagada da tapeçaria. Mas agora, estou voltando. E trago comigo todos os fios que foram negados. Os erros, os traumas, os esquecidos.

— Isso não é restauração — disse Masaki. — É possessão.

— É equilíbrio. Vocês criaram um novo núcleo. Mas esqueceram que o tecido da dor também é parte do todo. Eu sou a costura oculta. A retificação.

Ela tocou a testa dele. E sussurrou:

— Acordem os ecos. Ou a tapeçaria vai se enforcar com suas próprias linhas.

Masaki despertou gritando. Fios saltavam de sua pele, e suas mãos tremiam.

— Temos um novo inimigo — disse ele. — Um que não quer controlar. Quer corrigir.

Renji olhou para o céu. Pela primeira vez em semanas, ele viu... uma linha negra cruzando o firmamento.

E sentiu: essa história ainda não tinha fim.