Capítulo 4 – O Príncipe da Imobiliária e o Ex com Cara de Ciúmes
Você sabe que sua vida virou uma novela quando a campainha toca, você abre a porta e dá de cara com um homem bonito, bem vestido, e dizendo:
— Você deve ser Clarisse Albuquerque.
Eu só consegui piscar.
— Hã… tecnicamente, sim. Clarisse. O “Albuquerque” ainda me parece um sapato apertado demais. E você é...?
Ele estendeu a mão com um sorriso de comercial de pasta de dente.
— Miguel Varela. Especialista em restauração de patrimônios históricos. E seu novo consultor de projeto. A emissora me enviou. E também... patrocinadores querem alguém com “apelo estético” para levantar a audiência.
Apelo estético?
— Você foi contratado porque é bonito?
— E porque sei salvar casarões em ruínas. Mas o bonito ajuda, né?
Ele piscou.
Atrás de mim, ouvi um pigarro. Eduardo.
— Ah, claro — falei, virando e cruzando os braços. — Eduardo, esse é Miguel. Miguel, esse é meu ex. Ele mora aqui. Longa história. Quer café?
— Aceito — Miguel disse, entrando com naturalidade. — E se não for pedir muito, gostaria de conhecer a casa. Vai ser um prazer restaurar sua história. E, se você quiser, construir algo novo.
Eduardo tossiu. Engasgou com o próprio ar, acho.
Sueli apareceu com sua tradicional bandeja de pães e olhou para Miguel como quem vê um milagre.
— Deus me livre, mas quem é esse homem? — sussurrou pra mim, sem nem tentar disfarçar.
— Um anjo de terno — respondi.
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Nas gravações daquele dia, os produtores estavam em êxtase. Nada como um triângulo amoroso surgindo naturalmente.
— Miguel, fique perto da Clarisse, mas com naturalidade, sabe? Tipo: “sou confiável, sexy e engraçado”. — dizia Caíque, pulando de alegria. — Eduardo, você fica no canto, com cara de quem não se importa, mas está morrendo por dentro. Perfeito!
— Eu não estou com ciúmes — Eduardo retrucou, cruzando os braços.
— Tá com ciúmes, sim — Miguel sorriu, colocando uma fita métrica na parede. — Mas é compreensível. A Clarisse é... difícil de esquecer.
Eu? Silenciosa. Mas por dentro, dançando a Macarena com o ego inflado.
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À noite, a casa estava mais animada que nunca.
Miguel passeava pelos cômodos, fazendo anotações, dando sugestões, rindo das minhas piadas, elogiando meus olhos (oi?) e me perguntando se eu queria jantar com ele fora das câmeras.
— Você quer dizer… um encontro?
— Se você chamar assim, eu não vou negar.
Sorri.
— Ainda estou em processo de recuperação emocional, falência parcial e exposição pública. Mas... talvez. Um jantar pode ser divertido.
Do outro lado do corredor, Eduardo escutava. De braços cruzados. Com aquela cara de “eu não ligo”, mas com o maxilar travado.
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Mais tarde, sozinha na biblioteca com Tartufo dormindo sobre meus pés, Eduardo entrou.
Sem câmera. Sem plateia. Só ele.
— Então... Miguel, é?
— Sim. Ele é educado, talentoso e não me deixou plantada no baile de formatura.
— Você nunca vai me perdoar por isso, né?
— Eu já perdoei. Mas não esqueci. Tem diferença.
Silêncio.
— Você gosta dele?
A pergunta veio baixa. Quase um sussurro.
— Não sei ainda. Mas ele não tenta me diminuir. Ele olha pra mim como se eu fosse... suficiente.
— Você sempre foi suficiente.
— Você só demorou demais pra perceber.
Ele respirou fundo. Se aproximou. Ficou perto demais.
— Clarisse... se você me der outra chance...
— Eduardo — interrompi, firme —, a gente é história. Bonita, bagunçada, cheia de drama... mas história. Se quiser fazer parte do presente, vai ter que provar. Com ações. Não com palavras bonitas.
Ele assentiu. Engoliu o orgulho.
— Eu vou provar.
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Deitei naquela noite pensando em tudo: a dívida, o reality, a audiência subindo, o tal jantar com Miguel, e Eduardo com olhos de arrependimento verdadeiro.
Tartufo roncava.
A mansão fazia seus estalos noturnos.
E eu, deitada numa cama de rainha decadente, percebi: talvez eu não fosse mais só a herdeira do nada. Talvez... eu fosse a mulher que ia escolher tudo que queria. E pela primeira vez, os dois lados do triângulo pareciam dispostos a me conquistar.
A guerra do coração estava oficialmente declarada.
E eu?
Tava adorando ser o prêmio.