O leve balanço da carruagem cessou por um instante, e Klaus abriu os olhos.
O mundo do lado de fora havia mudado. A paisagem urbana de Edelheim ficara para trás, substituída por campos verdes e colinas onduladas que se estendiam até onde a vista alcançava. A estrada de mana encantada seguia em linha reta, serpenteando entre pequenas elevações do terreno.
E ali, adiante, sob a luz dourada do meio da manhã, erguia-se a Falkenflug Akademie.
Não era um castelo monumental como os que as baladas antigas descreviam, nem se escondia em meio a montanhas imponentes. A Falkenflug surgia como uma fortaleza serena no topo de uma grande colina, suas torres de pedra clara brilhando sob o sol, conectadas por passarelas arqueadas e pontes suspensas. Daquela distância, parecia tanto parte da terra quanto algo um pouco acima dela — como se pertencesse a um mundo à parte.
Klaus respirou fundo, sentindo o estômago se apertar. Era real agora. Inescapavelmente real.
Ao seu lado, Lukas se espreguiçou preguiçosamente e lançou um olhar para fora.
— Fica tranquilo. A primeira vez que vi essa visão também fiquei com a barriga toda revirada. Achei que ia esquecer tudo o que tinha aprendido — disse ele, com um sorriso de cumplicidade.
Klaus soltou um suspiro nervoso, tentando esconder a ansiedade que crescia dentro de si.
— Sabe... — continuou Lukas, inclinando-se com os cotovelos nos joelhos — é normal ficar assim. Em uma semana, você já vai estar reclamando das aulas como todo mundo.
Embora forçado, o pequeno sorriso que Klaus conseguiu expressar trouxe um mínimo de conforto ao momento.
Lukas, percebendo a tensão de seu companheiro, decidiu mudar o rumo da conversa.
— Me conta, como foram seus treinamentos? O que você já aprendeu antes de vir pra cá? — perguntou ele, com um tom genuíno de curiosidade.
Klaus pensou por um momento antes de responder.
— Durante esses últimos anos, treinei o manejo básico com quase todas as armas. Espadas, lanças, machados, adagas... Não sou especializado, mas tenho uma base sólida.
Ele fez uma pausa.
— A maioria dessas armas eu manuseio entre os rankings F- e F.
Lukas assentiu, parecendo satisfeito. Era o esperado de quem estava chegando ao primeiro ano.
— Mas — continuou Klaus — meu domínio de armas pesadas, especialmente a marreta... meu manejo está no ranking D-.
Lukas piscou, surpreso.
— D-?
Ele endireitou o corpo, encarando Klaus com uma expressão que misturava respeito e curiosidade.
— Caramba! Você conseguiu D- antes de entrar na academia? Isso é...
Ele riu de leve, coçando a cabeça cheia de cachos vermelhos.
— Geralmente, o pessoal entra com E-, às vezes E. Só quem vem de famílias tradicionais consegue D.
Ele soltou um assobio impressionado e completou:
— Você não parece alguém de uma casa super poderosa.
Klaus deu de ombros, sua expressão tranquila.
— Minha família foi importante há muito tempo. Hoje, somos apenas um nome no meio de tantos outros. Mas quando fui aceito para o programa de treinamento, prometi a mim mesmo que não ia desperdiçar a chance. Treinei todos os dias, aproveitei cada lição, cada técnica. Meus ancestrais empunhavam marretas. Não seria certo eu abandonar isso.
Lukas observou Klaus por um momento mais longo do que o normal e então sorriu, sincero.
— Respeito isso. De verdade.
A atmosfera dentro da carruagem tornou-se confortável novamente, quase como se os dois já se conhecessem há anos.
Do lado de fora, a Falkenflug se aproximava, revelando seus detalhes imponentes — os muros de pedra esculpidos com símbolos ancestrais de proteção, os portões reforçados com ligas de mana viva e as bandeiras douradas ondulando sob o vento suave.
A carruagem desacelerou, e as bestas de mana bufaram levemente, sua respiração cintilando como névoa azulada.
Com um ranger controlado das rodas encantadas, o veículo parou diante do enorme portão principal.
Lukas espreguiçou-se preguiçosamente e abriu a porta com um gesto ágil.
— Bem-vindo à Falkenflug — disse ele, com uma piscadela brincalhona. — Hora de dar o primeiro passo para o resto da sua vida.
Klaus desceu da carruagem, sentindo o peso da atmosfera mágica que envolvia a academia. Cada pedra, cada sopro de vento parecia carregar séculos de história e um propósito quase palpável.
Lukas posicionou-se ao lado dele, retomando seu papel como guia.
— Vem comigo. Primeiro, vamos ao salão principal pra fazer seu registro oficial. Depois te explico onde fica tudo e como funciona. Tranquilo, Klaus?
— Tranquilo — respondeu Klaus, sua voz ainda carregada por um misto de ansiedade e determinação.
Lukas retirou um tablet mágico de seu Anel de Inventário e o segurou com um sorriso divertido.
— Já fiz algumas anotações. Só não confie muito nisso aqui, porque às vezes esqueço de anotar as coisas mais importantes — disse ele, caindo na risada.
Com passos firmes, Klaus atravessou o grande portão da academia. Cada movimento parecia carregar o peso de uma transformação silenciosa, como se, ao cruzar aquela entrada, algo dentro dele se moldasse ao mundo de possibilidades que o aguardava.