Capítulo 3 - Parte 1

O processo de registro foi mais rápido do que Klaus esperava, mas ainda assim carregado de formalidades.

Primeiro, tiraram sua foto — um retrato mágico que flutuou brevemente diante de seus olhos antes de ser fixado na superfície de um cartão negro com bordas prateadas. Depois, colocaram-lhe um artefato no pulso para registrar sua assinatura de mana, conectando seu novo cartão diretamente à sua identidade espiritual.

O cartão era pequeno, resistente e elegantemente simples. De um lado, exibia seu nome completo: Klaus Erich von Hammer. Logo abaixo, vinha sua classe: Eule. Depois, sua aptidão: Armas. E, em seguida, seu potencial: 7 Estrelas.

Havia, em letras menores, uma linha adicional destacando sua especialidade: Domínio de Armas Pesadas. Segundo a explicação de Lukas, essa parte só aparecia no crachá daqueles que demonstravam habilidades excepcionais em algo. Klaus encarou a inscrição com um misto de surpresa e alívio. Acho que isso é bom, pensou.

Mas o cartão era mais do que um crachá. Ligado a uma conta bancária administrada pela própria Falkenflug, ele também funcionava como uma forma de pagamento — tanto para despesas cotidianas quanto para recompensas de serviços prestados. Derrotar monstros, completar missões internas ou obter reconhecimento acadêmico prático garantiriam créditos depositados diretamente no cartão.

Klaus girou o cartão entre os dedos, sentindo seu peso simbólico. Não era apenas um pedaço de mana solidificada — era a representação concreta da nova vida que estava começando.

Quando saiu do salão de registro, encontrou Lukas encostado em uma coluna, braços cruzados e um sorriso descontraído no rosto.

— Terminou? — perguntou Lukas.

Klaus assentiu, guardando o cartão no bolso. O sorriso de Lukas diminuiu um pouco, ganhando uma nuance mais sóbria.

— Bom. Brincadeiras à parte, agora começa a parte séria.

Klaus endireitou a postura quase instintivamente.

— Vou te fazer um tour rápido pela academia. É muita coisa, mas se você souber o básico, já evita passar vergonha nos primeiros dias — disse Lukas, gesticulando para que o seguisse.

Eles cruzaram o pátio principal, uma vasta extensão de pedra branca marcada com antigos símbolos de proteção. Estudantes passavam de um lado para o outro, vestindo uniformes cinzentos simples. Alguns usavam mantos de cores diferentes, indicando áreas específicas de especialização.

— Ali é o Centro de Treinamento — apontou Lukas, indicando um enorme prédio circular cercado por arenas abertas. — É lá que você vai treinar combate com armas. Espadas, lanças, marretas, machados... Se alguém puder te ensinar a bater melhor, vai ser lá.

Klaus observou a movimentação no local. Instrutores gritavam comandos enquanto sons metálicos ecoavam; jovens soldados aprimoravam suas habilidades em intensos treinos.

Seguiram adiante até um edifício mais sóbrio, com grandes janelas e um brasão exibindo um haltere gravado em mana.

— Esse é o que a gente chama de Academia de Força — disse Lukas, rindo de leve. — É onde você vai trabalhar o físico. Musculação, corrida, resistência... Não adianta ter técnica se o corpo não aguenta.

Ele deu um leve tapinha no próprio peito, exibindo sua estrutura musculosa.

— Aqui é onde muita gente desiste. Treinar força não é glamoroso, mas salva vidas.

Mais alguns passos e chegaram a uma construção menor, rodeada por jardins silenciosos e pequenas fontes mágicas.

— Centro de Meditação — continuou Lukas. — Mesmo quem não é mago precisa manter a mana interna fluindo bem. Aqui você aprende a sentir, controlar e, se possível, expandir sua capacidade mágica.

Klaus olhou em volta. As árvores baixas que cercavam o lugar pareciam sussurrar ao vento, e o ar carregava uma estranha energia, ao mesmo tempo pesada e revigorante.

Pouco depois, passaram por um grande edifício com portas largas e um irresistível cheiro de pão fresco no ar.

— Esse é o Restaurante — ou Refeitório, como o pessoal prefere chamar. Três refeições por dia, com direito a bônus dependendo da sua pontuação em atividades. Comer bem é obrigatório. Treinar sem energia é suicídio.

O som reconfortante de panelas e o aroma de comida quente despertaram um aperto no estômago de Klaus que ele nem sabia que tinha.

Por fim, chegaram a uma praça central aberta, cheia de bancos de pedra, quadras mágicas para esportes e espaços reservados para música, jogos e descanso.

— Esse é o Espaço de Lazer — disse Lukas, girando nos calcanhares com uma expressão descontraída. — Confia em mim: você vai precisar dele. A Falkenflug é puxada. Se você não arrumar tempo para relaxar, vai surtar antes da primeira temporada de provas.

Klaus absorveu tudo com olhos atentos, cada local, cada estrutura. Era um mundo inteiro, projetado para moldá-los — física, mental e espiritualmente — para algo muito maior.

Lukas parou no centro da praça, cruzou os braços e olhou para ele com seriedade.

— Isso aqui vai te desafiar de formas que você ainda nem imagina, Klaus. Mas, se você aguentar...

Ele sorriu de novo, aquele sorriso despreocupado, mas cheio de força.

— ...vai sair daqui alguém que muda o mundo lá fora.

Klaus fechou a mão em torno do cartão no bolso, sentindo o peso real da responsabilidade. Não respondeu com palavras. Apenas assentiu e respirou fundo.

Com passos firmes, seguiu Lukas, pronto para enfrentar a jornada que só começava.