Capítulo 3 - Parte 2

— Antes de você se acomodar, deixa eu te mostrar mais alguns lugares — disse Lukas, com um sorriso descontraído, enquanto puxava Klaus novamente pelo pátio.

O tour, que Klaus pensava ter acabado, estendeu-se por mais algumas horas. A Falkenflug Akademie parecia crescer a cada esquina dobrada: campos de treinamento especializados, salas de simulação mágica, pequenas forjas para aprendizado de arcanotécnica, áreas dedicadas à botânica mágica... O mundo dentro da academia era quase um pequeno reino por si só.

Apesar do entusiasmo inicial, Klaus logo sentiu o peso da caminhada e das informações se acumulando. Seu corpo, embora acostumado a treinos físicos, começava a protestar silenciosamente.

De todos os lugares visitados, apenas um capturou sua atenção de forma especial: a Biblioteca Central de Falkenflug.

Era um prédio majestoso, feito de pedra escura, com vitrais encantados que mudavam de cor conforme a hora do dia. Guardava conhecimento ancestral — tomos antigos sobre mana, dungeons, histórias de batalhas, técnicas de armas e relatos detalhados de monstros que pareciam saídos de pesadelos.

Klaus ficou parado por alguns instantes diante das portas enormes, sentindo a aura quase solene que emanava do local.

— Impressionante, não é? — comentou Lukas, notando o fascínio em seu rosto. — Esse lugar é um dos tesouros da Falkenflug. Se você for do tipo estudioso, pode acabar passando mais tempo aqui do que gostaria.

Klaus apenas assentiu. Ali, ele sabia, seria um de seus refúgios nos dias que viriam.

Mas o tempo para contemplação era curto. Lukas logo o puxou adiante.

— Agora sim, vamos para os dormitórios — anunciou, apontando para uma longa ala de prédios conectados por passarelas cobertas.

À medida que se aproximavam, Klaus começou a notar a movimentação de outros alunos.

Veteranos do terceiro ano, claramente encarregados da recepção, exibiam a impaciência típica de quem já está habituado à rotina. Um deles, apoiado em uma coluna, bocejava descaradamente enquanto entregava documentos. Outro distribuía instruções com um cenho permanentemente franzido, como quem preferiria estar em qualquer outro lugar.

Pouquíssimos tinham a leveza e a boa vontade de Lukas.

Entre os novatos, o clima era diferente. A maioria caminhava hesitante, com olhos arregalados, carregando mochilas ou malas reforçadas por feitiços de compressão. Alguns olhares estavam cheios de nervosismo, e outros, de excitação contida. A tensão no ar era palpável — todos sabiam que aquele era apenas o início de uma longa provação.

Klaus observava tudo com uma calma quase desconcertante, que contrastava com os olhares ansiosos ao seu redor. Talvez fosse a orientação tranquila de Lukas que fazia a diferença — ou talvez fosse a preparação silenciosa que amadurecia em seu peito há anos.

Enquanto atravessavam os corredores dos dormitórios, Klaus notou algo peculiar: meninos e meninas entrando pelos mesmos caminhos. Ele franziu a testa levemente.

— Dormitórios mistos? — pensou em voz baixa, mas antes que pudesse verbalizar, Lukas já respondia como se tivesse lido seus pensamentos.

— É, a Falkenflug mistura tudo — disse Lukas, com um sorriso torto. — Mas não precisa se preocupar. Cada quarto é protegido por um selo de mana pessoal. Só você pode entrar no seu dormitório.

Ele fez um gesto como quem desenha uma barreira invisível no ar.

— Nem eu posso entrar no seu quarto, nem suas colegas. Só professores e o pessoal autorizado da limpeza têm acesso especial.

Klaus assentiu, aliviado. Fazia sentido. Com tantas linhagens nobres e orgulhosas misturadas, garantir privacidade e segurança não era apenas uma questão prática, mas de sobrevivência política.

Lukas parou por um instante, o tom mudando para algo mais sério.

— Ah, e outra coisa... nem pense em tentar forçar a entrada em outro dormitório. As runas de segurança ativam um alarme mágico que chama a guarda da academia. Dependendo da gravidade, pode até rolar expulsão.

— Expulsão? — Klaus ergueu as sobrancelhas, surpreso.

Lukas riu, mas sem suavizar o alerta.

— Acredite, eu quase fiz besteira no meu primeiro ano. Ainda bem que parei a tempo. Não vale a pena. Falkenflug não brinca com disciplina.

As palavras ficaram gravadas na mente de Klaus. Ele já entendia que a academia era mais do que uma escola — era uma forja. Quem quebrava as regras não era apenas punido: era descartado.

Chegando à área destinada aos novatos, Lukas parou diante de um prédio com paredes brancas e portas de madeira escura, rodeado por lanternas mágicas que flutuavam suavemente no ar.

— Seu quarto é no segundo andar, ala leste. Você vai encontrar seu nome na porta — explicou Lukas.

Ele deu um passo para trás, cruzando os braços.

— Vou deixar você se instalar. Amanhã, o verdadeiro treinamento começa.

Klaus olhou para o prédio à sua frente, sentindo uma mistura de empolgação e responsabilidade crescer dentro de si. Subiu os degraus, sentindo o peso de seu próprio futuro acompanhá-lo a cada passo.