O quarto era algo que Klaus jamais imaginara ver, muito menos chamar de seu.
Assim que atravessou a porta, deparou-se com um ambiente que parecia ter saído de um conto nobre. O piso de madeira mágica polida refletia suavemente a luz emitida por pequenas lâmpadas de mana flutuantes; segundo os rumores, aquele tipo de madeira jamais envelhecia, permanecendo impecável por décadas. As paredes eram revestidas com painéis de mana pulsante, ajustáveis para regular a temperatura ao gosto do ocupante.
Ao centro do quarto, uma cama de dossel ocupava lugar de destaque. Os lençóis, feitos de linho fino com bordados de runas para purificação e conforto, pareciam tão macios que Klaus hesitou em tocá-los. A escrivaninha, entalhada com detalhes intrincados e adornada com runas de organização automática, oferecia uma superfície ideal para estudos e planejamentos. Próxima à cama, havia um armário de madeira escura que, ao ser tocado, revelou compartimentos internos que se ajustavam às necessidades de quem o utilizasse.
Um cristal de mana azulada flutuava no canto superior do quarto, emanando uma brisa refrescante que mantinha o ambiente sempre agradável.
Ele girou lentamente no centro do quarto, embasbacado. Só aquele espaço devia valer pelo menos dez vezes mais que a casa inteira onde sua família morava atualmente. Era outra realidade, um mundo que parecia tão distante de tudo o que ele havia conhecido.
Estava começando a organizar suas poucas coisas — uma mochila reforçada com feitiços de compressão, alguns itens pessoais, e um conjunto básico de roupas — quando ouviu uma batida na porta.
— Klaus? Sou eu, Lukas — disse a voz familiar do outro lado.
Klaus abriu a porta, encontrando Lukas com um sorriso despreocupado e um gesto de desculpas no rosto.
— Cara, eu mosquei bonito. Era para ter te entregue seu uniforme antes — disse Lukas, balançando a cabeça e rindo de si. — Mas tudo bem, tô aqui agora.
Sem entrar, Lukas ergueu a mão. Um anel simples de prata cintilava em seu dedo, emanando um brilho suave. Com um estalo delicado, um pacote cuidadosamente embalado surgiu em suas mãos.
Klaus ergueu uma sobrancelha, surpreso.
— Relaxa — disse Lukas, percebendo a reação dele. — Anéis de inventário são comuns aqui na Falkenflug. Não são tão caros quanto lá fora. Você provavelmente vai ganhar o seu ainda este ano.
Entregando o pacote, Lukas explicou:
— Seu uniforme é esse. Cinza-claro, com bordas douradas. Todos os novatos vestem assim. No segundo ano, você troca para um cinza-médio, e no terceiro ano, cinza-escuro, como o meu.
Lukas bateu levemente no próprio peito, indicando o uniforme que vestia. Klaus abriu o pacote, revelando um conjunto simples, porém elegante. O tecido era reforçado com runas mágicas para resistência contra desgaste, cortes superficiais e até pequenas mudanças climáticas.
— Ah, e fica ligado — continuou Lukas. — Cada ano vem com novas responsabilidades. Primeiro ano é fácil: só estudar. Cai matando nos livros, nas aulas práticas, tira boas notas. Se fizer isso, pode melhorar sua classe.
Klaus franziu a testa, intrigado.
— Classes?
— É. Aqui a gente divide as turmas de acordo com desempenho e potencial. As classes vão de 1 a 5. Classe 1 é a elite, os melhores. Classe 5... bom, é o pessoal que provavelmente não vai durar muito.
Lukas deu de ombros, pragmático.
— Você foi colocado na Classe Eule-3. Meio-termo. Nem ótimo, nem ruim. Uma boa posição pra começar.
Klaus guardou a informação mentalmente, refletindo sobre o sistema e onde ele se encaixava.
— Agora, no segundo ano — prosseguiu Lukas — você vai ter que fazer trabalhos internos ou externos. Pode ser ajudar na farmácia, cuidar das fazendas da academia ou participar de pequenas caçadas em dungeons fracas. Nada absurdo, mas já começa a pesar.
Ele fez uma pausa, e seu rosto ficou mais sério.
— No terceiro ano, você entra pra valer nos estágios. Igual eu agora. Estágio em clã, guilda ou instituições especializadas.
Klaus assentiu, absorvendo cada palavra com atenção.
Lukas sorriu novamente, mas seu olhar trazia um traço de advertência.
— Ah, deixa eu te dar umas dicas que ninguém vai te contar nas aulas.
Ele começou a contar nos dedos:
— Primeiro: evita virar alvo de bullying. Falkenflug preza a força. Se você for fraco, vão pisar em você — e a academia vai fingir que não viu.
— Segundo: amizades são valiosas. Faz amigos nas áreas certas. Eu, por exemplo, fiquei de bem com o pessoal da cozinha. Sempre ganho as melhores partes do jantar.
Ele piscou, brincalhão.
— Terceiro: vi que você curtiu a biblioteca. Faz amizade com o bibliotecário. O nome dele é Friedrich Baumann. Cara meio rabugento, mas, se você conquistar ele, vai ter acesso a livros raros que não ficam disponíveis pra qualquer aluno.
Klaus deu uma risada leve. Parecia um conselho vindo de um irmão mais velho.
Lukas então olhou para o céu avermelhado do entardecer, que iluminava o corredor com tons suaves.
— Bom, tá tarde. Preciso sair agora. Meu estágio não vai se cumprir sozinho.
Ele estendeu a mão para um cumprimento rápido — sem jamais cruzar a soleira do quarto — e sorriu, daquela maneira despreocupada que parecia tão típica dele.
— Se cuida, Klaus. Amanhã a academia te mostra o que ela realmente é.
Com um aceno final, Lukas se afastou pelo corredor, deixando Klaus sozinho na entrada do quarto.
O jovem von Hammer fechou a porta com cuidado, encostando-se nela por um momento. O quarto parecia mais amplo, como se refletisse o peso e as possibilidades de seu novo futuro.
Olhando para sua mochila e o uniforme ainda embalado, Klaus sentiu uma determinação silenciosa despertar.
Um novo capítulo estava começando. E ele não pretendia desperdiçá-lo.