O silêncio do quarto era confortável, quase acolhedor.
Klaus estava deitado na cama, ainda vestido, os olhos presos no teto adornado por sutis linhas mágicas que pulsavam em tons suaves. As marcas fluíam como pequenos riachos de luz, mudando de cor em um ritmo sereno que parecia acompanhar a respiração lenta do ambiente. Era como se até o quarto sussurrasse um convite ao descanso.
Mas sua mente estava longe de dormir.
Que dia.
Era difícil assimilar tudo de uma vez. Quando recebeu a notícia de que seria aceito na Falkenflug, sua imaginação, embora fértil, limitara-se a idealizar algo parecido com os centros de formação em que havia estudado antes — salas de aula simples, campos de treino modestos e refeitórios barulhentos, onde as vozes se sobrepunham em um caos juvenil.
A academia, no entanto, era muito mais do que isso.
Era quase uma pequena cidade, cercada por muralhas vivas de magia pulsante. Cada espaço tinha algo especial. Centros de treinamento vastos, arenas impecáveis, bibliotecas encantadas que prometiam segredos esquecidos, forjas e laboratórios brilhando com uma luz própria, como se estivessem vivos. Até o refeitório, com seu aroma convidativo e organização impecável, parecia mais um templo dedicado à fartura.
Tudo parecia vivo. Majestoso. Maior do que ele.
E, ainda assim, Klaus não se sentia oprimido. Era uma sensação curiosa. Ele se sentia pequeno, sim, mas não insignificante. Era a pequena grandeza de quem sabia que tinha um caminho a trilhar. Era o peso de saber que fazia parte de algo maior, ainda que sua jornada estivesse apenas começando.
Seu olhar deslizou pela penumbra do quarto até o uniforme dobrado cuidadosamente na cadeira ao lado. O tecido cinza claro com bordas douradas parecia quase brilhar à luz suave do cristal encantado que flutuava no teto. Perto dele, o cartão de identificação repousava sobre a escrivaninha entalhada. Dois objetos pequenos, mas que carregavam a promessa de um futuro cheio de possibilidades.
Seu pensamento vagou para a biblioteca.
Aquele lugar monumental havia acendido algo nele. Um fascínio. Ali ele poderia mergulhar em técnicas esquecidas, estratégias avançadas e relatos de batalhas que moldaram o mundo. Mais do que um espaço de estudo, parecia ser um santuário do conhecimento.
E o centro de treinamento?
As arenas amplas, o som de espadas cruzando e o eco constante de ordens e gritos de esforço. Ali ele seria forjado. Seria o lugar onde colocaria à prova tudo o que aprendera até então. Era impossível não imaginar os desafios que enfrentaria, os rivais que conheceria, as batalhas que definiria sua força.
E havia ainda mais.
Tantas possibilidades. Salas de estudo avançado, centros mágicos que desafiam a compreensão, áreas para missões e desafios internos. A Falkenflug não era apenas uma academia: era uma máquina intricada, projetada para transformar meninos em soldados, estudiosos em mestres e guerreiros em líderes.
Um sorriso se formou lentamente em seus lábios.
Estava animado.
Mais do que ansioso, mais do que temeroso, ele sentia a excitação genuína de quem encara o desconhecido com coragem. Sabia que as dificuldades estavam por vir. Haveria provas e combates físicos. Haveria desafios políticos, tensões entre as linhagens nobres e, talvez, traições silenciosas.
Mas era para isso que havia treinado. Era por isso que havia resistido em silêncio durante anos, carregando o peso das expectativas e dos sonhos da Casa von Hammer.
Este é o meu momento.
Inspirou profundamente, sentindo o ar levemente perfumado pela magia ambiente. Era um aroma fresco, com notas que lembravam ervas e um toque sutil de energia viva. O quarto inteiro parecia acolhê-lo, embalando-o como um abrigo temporário antes da tempestade que seria a rotina da academia.
Um bocejo escapou sem que ele pudesse evitar. Seu corpo, exausto pelo longo dia, começava finalmente a cobrar o preço.
Klaus riu baixinho consigo mesmo enquanto se virava na cama, os lençóis macios envolvendo-o como um casulo.
— Melhor descansar — murmurou para si.
O amanhã aguardava, e com ele, o verdadeiro início de sua jornada. Fechou os olhos, deixando-se envolver pela paz temporária de seu novo lar.