Capítulo 4 - Parte 2

O som suave do despertador mágico ecoou no quarto, arrancando Klaus de um sono tranquilo e profundo. A luz matinal filtrava-se pelas linhas encantadas que adornavam as paredes, criando sombras suaves no piso polido de madeira mágica. Klaus ergueu-se com movimentos automáticos, ainda sentindo no corpo o peso acumulado das emoções e atividades do dia anterior.

Vestiu o uniforme cinza-claro com as bordas douradas, ajustando cuidadosamente a gola enquanto tentava se acostumar à sensação nova do tecido reforçado por mana. Pegou o cartão de identificação, agora repousando como um lembrete constante de sua nova realidade, e saiu.

O ar matinal estava fresco, carregado do cheiro de mana renovada que parecia permear todos os cantos da academia. Klaus percorreu o caminho pavimentado em pedra branca até o prédio acadêmico, enquanto seus passos, leves mas firmes, ecoavam suavemente no silêncio matinal. Cada passo parecia carregar o peso de suas expectativas.

A breve refeição no restaurante da Falkenflug havia sido simples, mas suficiente para renovar suas forças. Agora, vestido com o uniforme impecável dos novatos, sentia-se parte daquele novo mundo — ainda pequeno diante de sua vastidão, mas determinado a crescer dentro dela.

Ao chegar à sala designada para a Classe Eule-3, Klaus parou por um momento, absorvendo os detalhes da construção diante de seus olhos.

O auditório era monumental, uma fusão entre tradição e tecnologia mágica. As paredes de pedra clara brilhavam com sutis encantamentos que amplificavam o som e estabilizavam o fluxo de energia no ambiente. O professor ficava no nível mais baixo, enquanto as fileiras de alunos ascendiam em arquibancadas suaves.

As bancadas, feitas de madeira escura impecavelmente polida, exalavam a solidez de algo criado para durar gerações. Cada uma era espaçosa, projetada para acomodar dois alunos lado a lado com conforto e funcionalidade. Três corredores dividiam as fileiras em uma geometria ordenada e precisa.

Vinte alunos ao todo. Dez duplas de cada lado, distribuídas em cinco fileiras que se elevavam em uma curva harmoniosa.

No centro da sala, um painel flutuante feito de mana condensada ocupava o espaço onde normalmente haveria um quadro comum. A estrutura pulsava levemente, ajustando-se ao ambiente, capaz de projetar imagens holográficas, esquemas e conteúdos dinâmicos em resposta às aulas. Era uma síntese perfeita da tecnologia mágica que definia Falkenflug — moderna, funcional e com um toque de elegância mística.

Klaus escolheu um lugar livre em uma fileira intermediária, próximo ao corredor esquerdo. Nem muito acima, nem muito próximo do professor. Era a posição ideal para observar discretamente e ainda assim ouvir cada detalhe da aula. Ele ajeitou-se no assento, sentindo o toque frio da madeira contra os antebraços, enquanto seus olhos percorriam o espaço ao redor.

Aos poucos, os colegas começaram a chegar.

Todos vestiam o mesmo uniforme cinza-claro com detalhes dourados, cuidadosamente alinhados e impecavelmente ajustados. Mesmo na uniformidade, havia traços que denunciavam diferenças sutis — a postura altiva de quem carregava tradição, o brilho nos olhos que sugeria confiança nata, e, acima de tudo, os broches.

Prendidos à altura do peito, os broches eram símbolos de linhagens familiares, reluzindo como pequenas obras de arte esculpidas em formas que denunciavam origens. Klaus reconheceu alguns: o leão dourado dos von Stein, o dragão prateado dos Edelbrück, a coruja azul dos Falkenrath.

Símbolos de status. Símbolos de linhagem.

Por instinto, Klaus olhou para o próprio peito. Nada.

Seu uniforme era impecável, mas vazio.

Os dedos tocaram de leve o tecido da túnica, onde deveria estar o orgulho da Casa von Hammer — um martelo cruzado com uma estrela. Mas não estava lá.

A ausência do broche não era por falta de história. Era por falta de recursos. Falta de condições. Era um vazio que pesava. Um lembrete cruel de quão longe os von Hammer haviam caído.

Broches de família não eram meros enfeites; eram artefatos mágicos, símbolos reforçados ao longo das gerações. Eram caros, legados passados de pai para filho. Sua ausência falava mais alto do que qualquer palavra poderia dizer.

Os olhos de Klaus percorreram a sala novamente, tentando afastar o pensamento. Entre os vinte alunos, apenas um outro também estava sem broche.

Era um rapaz de cabelos loiro-escuros, sentado perto do corredor direito. Sua postura era rígida, seu olhar sério. Não havia adereços em seu uniforme que sugerissem conexão com qualquer casa nobre. Outro plebeu, talvez.

Ou alguém cuja família, como a sua, havia sido engolida pela história. Mas Klaus não concluiu nada imediatamente. Era apenas uma observação silenciosa, um reflexo do próprio vazio que ele carregava.

Mais tarde, por conversas soltas ou pelo tratamento dos outros, ele teria certeza.

O ambiente na sala era impregnado de uma tensão discreta.

A maioria dos alunos parecia carregar traços típicos das regiões centrais de Reisenmark: cabelos loiros, variando do dourado ao trigo pálido, dominavam o espaço. Alguns exibiam cabelos prateados lisos e impecavelmente aparados, como rios brilhantes entre os tons dourados.

Um único aluno ruivo destacava-se como uma chama viva, seu cabelo ardendo como uma tocha em meio ao cinza uniforme dos colegas.

Além disso, havia apenas um feral na sala, enquanto os outros dezenove eram humanos. O jovem de aparência que lembrava um texugo exibia pelo marrom e cabelos que destoavam do restante da classe.

Tudo ali exalava ordem, disciplina e expectativa.

Cada detalhe, das bancadas às insígnias reluzentes, deixava claro: aquele não era um lugar para os fracos.

Klaus ajeitou-se no banco, endireitando as costas e ajustando seu foco.

O sino mágico soou, uma nota cristalina que reverberou suavemente no ar.

Logo, o professor surgiu como um furacão.