O som do sino mágico ainda reverberava suavemente pela sala quando a porta principal se abriu.
Todos os olhares se voltaram para a entrada, como se o momento carregasse um peso inevitável. Klaus também virou a cabeça, curioso.
O homem que entrou não era nada do que Klaus, ou qualquer outro aluno, parecia ter imaginado.
Alto — facilmente ultrapassando dois metros —, o professor tinha uma presença que dominava o ambiente antes mesmo de falar. Sua pele lembrava a terra escura recém-molhada pela chuva, reluzindo levemente sob a luz mágica da sala. A cabeça completamente careca brilhava como se tivesse sido polida, e seus olhos, profundos e castanhos, pareciam atravessar cada aluno que encarava, lendo além das aparências.
Seus ombros largos e o porte musculoso, de músculos compactos e firmes, davam-lhe a aparência de um veterano que já havia enfrentado o mundo e vencido. Não vestia o uniforme tradicional dos instrutores, mas sim roupas reforçadas por magia, práticas e sóbrias, de tonalidade escura — como se estivesse sempre pronto para o combate.
A aura que emanava dele era densa e vibrante, quase tangível. Uma força mágica tão concentrada que até Klaus, que nunca fora particularmente sensível à mana alheia, sentiu a pressão aumentar no ar. O oxigênio parecia mais pesado, cada respiração mais trabalhosa.
Por alguns segundos, o auditório mergulhou num silêncio reverente, quase sufocante.
O professor avançou até o centro da sala com passos firmes e medidos, sem desviar o olhar da turma. Não havia sorriso em seu rosto. Seu semblante era uma máscara de seriedade implacável.
Quando finalmente falou, sua voz grave cortou o silêncio como lâmina polida:
— Meu nome é Makonnen Dula. Vim de Imara Ka, um reino situado ao sul deste continente.
Sua fala era pausada, mas cada palavra carregava um peso que parecia se fixar na alma dos presentes.
— Em nossa língua ancestral, Imara Ka significa "Castelo Forte."
A frase ecoou com um tom quase cerimonial, como se carregasse séculos de significado.
Makonnen continuou, sem apressar o ritmo.
— Em Imara Ka, o sol é implacável, o solo é duro, e apenas os fortes prosperam.
Seu olhar percorreu a sala como um açoite invisível, fixando-se em cada aluno por um breve momento antes de passar para o próximo.
— Por convite da Coroa de Reisenmark, fui contratado para instruí-los. Sou agora o professor responsável pela Classe Eule-3.
Sem aviso, Makonnen liberou uma onda de pressão mágica que varreu o auditório.
Klaus arregalou os olhos, sentindo o impacto como um golpe físico. Era como ser esmagado por uma muralha invisível que se erguia e desabava sobre todos.
Pelo canto do olho, viu colegas de classe se encolherem instintivamente, mesmo os mais altivos, incapazes de resistir à força.
E então, tão repentinamente quanto veio, a pressão cessou.
Makonnen permaneceu parado no centro, encarando a turma com a mesma expressão inabalável.
— Fiz isso por uma razão simples — disse, sua voz cortando o ar com firmeza. — Aqui, seus nomes, suas famílias e seus títulos não terão valor diante de mim.
O silêncio na sala era quase palpável, como um véu de expectativa que ninguém ousava romper.
— Se desafiarem minha autoridade, seja com palavras ou ações, terão a resposta que merecem.
Cada palavra era um martelo que caía sobre as consciências dos alunos.
— Tenho autorização da Coroa para educá-los — à minha maneira, se necessário.
Alguns alunos começaram a remexer-se desconfortavelmente nos assentos, a tensão aumentando como um fio esticado prestes a arrebentar.
Makonnen não se moveu, sua postura sólida como pedra.
— Estão em Eule-3. Se estudarem e se superarem, podem subir para Eule-2. Se relaxarem ou provarem ser incompetentes, cairão para Eule-4. A escolha é de vocês.
Ele deu um passo à frente, como se desafiasse toda a sala a contradizê-lo.
— Entendido?
Um coro vacilante de "sim, senhor" ecoou pela sala, cada voz carregando um traço de hesitação e incerteza.
Makonnen pareceu satisfeito. Virou-se calmamente para preparar os materiais mágicos para a aula, enquanto o ambiente aos poucos começava a recuperar uma aparência de normalidade.
Klaus deixou escapar um leve suspiro de alívio. A demonstração de força havia sido intensa, mas o mais importante era que estava encerrada.
Ao seu lado, seu colega de bancada — um rapaz magro, de cabelos escuros e pele pálida, com uma expressão arrogante — bufou baixinho, como se considerasse o espetáculo ofensivo.
Klaus lançou-lhe um olhar discreto de canto, notando o broche preso à altura do peito do rapaz. Era uma insígnia em forma de flores de parreira entrelaçadas em moedas de ouro.
Símbolo de uma casa de Viscondes, pensou Klaus, reconhecendo a heráldica com facilidade. Aristocracia média.
O rapaz franzino cruzou os braços, murmurando com desdém:
— Uma selvageria sem sentido.
Klaus sentiu um impulso de revirar os olhos, mas conteve-se. Internamente, respondeu com sarcasmo silencioso:
Você fala de selvageria, mas olha pra você. Se for um mago, tudo bem. Mas se for um guerreiro, não parece ter força nem pra levantar uma marreta de treino. E ainda ousa olhar de cima para um homem que, sozinho, faria metade dessa sala se ajoelhar com a força de sua mana.
Preferiu não dizer nada, respirando fundo para evitar conflitos desnecessários. Era cedo demais para deixar que a arrogância dos colegas atrapalhasse seu foco.
Makonnen Dula não parecia ser alguém que toleraria brigas infantis.