As palavras do Professor Makonnen ainda pareciam ecoar pelas paredes do auditório, como se fossem gravadas diretamente no ambiente. Era impossível ignorá-las — não apenas pelo peso de seu tom, mas também pela intensidade com que atingiam os pensamentos dos alunos.
Klaus, sentado em sua bancada, mantinha os olhos fixos no painel de mana flutuante ao centro da sala. Cada frase dita pelo professor era acompanhada por sua atenção, e ainda assim ele não podia negar o desconforto que sentia.
Havia algo rude na maneira como Makonnen falava. Não era apenas firmeza militar ou objetividade de instrutor experiente — era mais bruto, mais direto, como uma lâmina sem afiação que ainda assim cortava com precisão.
Makonnen não parecia ter paciência para metáforas elegantes ou sutilezas acadêmicas. Era o tipo de homem que jogaria alguém na lama sem hesitar, apenas para ensiná-lo a importância de manter o equilíbrio.
Klaus suspirou internamente, mas não se incomodava com isso. Para ele, era quase reconfortante. Depois de anos lidando com professores que mais pareciam bardos envoltos em histórias floridas, era uma mudança bem-vinda ter alguém que ia direto ao ponto, sem rodeios.
Ainda assim, ele sabia que nem todos compartilhavam dessa perspectiva. Klaus lançou um olhar breve para o colega franzino ao seu lado e imediatamente percebeu o desconforto nele. O rapaz permanecia com a expressão tensa, o olhar perdido como se cada palavra de Makonnen fosse uma afronta pessoal.
Klaus desviou a atenção e abaixou ligeiramente a cabeça, fingindo ajeitar o uniforme. Aproveitou o momento para observar os outros colegas na sala.
O que viu não foi exatamente uma surpresa.
A maioria dos alunos, com seus broches de casas nobres reluzindo no peito como medalhas de vaidade, parecia ouvir as explicações do professor da mesma forma que se escuta o bater da chuva em uma vidraça: distante, automático, sem real interesse.
Havia os que mantinham a postura ereta por puro hábito. Outros olhavam para o painel de mana, mas seus olhos vagavam como se já estivessem em outro lugar. Alguns brincavam com seus broches, girando-os entre os dedos, como se o objeto fosse mais digno de atenção do que a própria aula.
Poucos, porém, pareciam genuinamente focados. Klaus contou mentalmente: quatro. Incluindo ele próprio.
Quatro alunos que absorviam cada palavra, mesmo que fossem noções básicas sobre rankings e atributos. Talvez fosse apenas o entusiasmo do primeiro dia. Talvez fosse algo mais — a diferença entre aqueles que vinham para aprender e aqueles que vinham apenas para manter o status.
Makonnen continuava falando, sua voz grave e constante como o som de um martelo golpeando pedra. Ele explicava sobre os limites físicos que separavam homens comuns de lendas, sobre como a ausência de força verdadeira podia custar vidas, não apenas posições sociais.
Klaus se inclinou um pouco para frente, apoiando os antebraços na bancada de madeira escura e polida.
Não era o conteúdo em si que o fascinava. Ele já conhecia boa parte do sistema de avaliação, estudado por conta própria nos livros antigos herdados de seu pai. O que realmente chamava sua atenção era a postura de Makonnen — dura, sem cerimônias, sem ilusões, sem desculpas.
Era um mundo de números, de pesos, de corpos resistindo ou quebrando. Simples assim.
Ao seu lado, o jovem franzino resmungou algo inaudível, remexendo-se desconfortavelmente no assento. Klaus preferiu ignorá-lo, sabendo que não era o momento de se perder em reclamações ou na arrogância que tantos ali exibiam.
A tensão na sala era perceptível, pesada. Não pelo conteúdo da aula, mas pelo constrangimento mútuo — como se ouvir aquelas verdades básicas fosse, de algum modo, um insulto ao orgulho dos nobres que se consideravam naturalmente superiores.
Klaus, entretanto, não compartilhava desse orgulho.
Ele sabia muito bem de onde vinha. Sabia que sua família, outrora honrada, agora era apenas uma sombra quase esquecida. E sabia que estar ali, entre os alunos da Falkenflug, era um mérito conquistado com esforço e dedicação, não um direito herdado.
Respirou fundo, deixando que as palavras de Makonnen penetrassem em seus pensamentos como marteladas.
Se Makonnen era bruto, isso era bom. Se Makonnen era direto, isso era necessário.
No fim das contas, Klaus preferia cem vezes uma lição dura e real do que um discurso polido e vazio.
A aula seguia em frente, enquanto a determinação de Klaus se solidificava cada vez mais.