O tempo parecia se arrastar, pesado e lento, como uma correnteza obstinada que resiste ao fluxo. Klaus só percebeu o quanto a aula se prolongara quando o sino mágico ecoou pela sala, lançando uma vibração dourada pelo ar, suave mas firme.
Makonnen Dula, com sua postura implacável e rígida, permaneceu no centro da sala. Ele sequer piscou enquanto anunciava:
— Quatro horas de aula. As aulas da manhã estão encerradas.
Com um último olhar que parecia registrar cada rosto presente no auditório, ele acrescentou:
— Vocês têm o intervalo para o almoço. Voltem para as aulas práticas da tarde descansados — ou sofram as consequências.
Sem cerimônias, o professor virou nos calcanhares e saiu, seus passos reverberando com uma firmeza que parecia deixar uma trilha invisível atrás de si. Foi como assistir a um furacão se afastar, ainda carregando o peso de sua presença.
A porta fechou-se com um leve baque, mas para Klaus, o som ecoava como o fim de uma batalha. Por alguns instantes, ninguém se moveu. O silêncio ficou preso na sala, quase opressor.
Então, lentamente, o fluxo natural começou a se restaurar.
Alguns alunos se levantaram de forma apressada, ansiosos para deixar o ambiente e aproveitar o intervalo. Outros pareciam mais relaxados, permanecendo em seus lugares enquanto puxavam de suas bolsas pequenos objetos de mana que lembravam tablets encantados.
As bordas desses dispositivos brilhavam em tons suaves, e logo as telas mágicas ganhavam vida, revelando imagens, mensagens flutuantes e ícones holográficos. Klaus observou em silêncio enquanto cada colega parecia mergulhar naquilo com naturalidade.
Alguns assistiam a vídeos, suas expressões descontraídas. Outros navegavam casualmente em redes sociais mágicas, trocando olhares e risos baixos ao compartilhar algum conteúdo. Havia ainda os que respondiam a mensagens com gestos leves e elegantes, imersos em conversas rápidas.
Anéis mágicos giravam habilmente em dedos, invocando livros digitais ou pequenas interfaces de jogos encantados. Tudo parecia tão simples, tão comum para eles.
Mas para Klaus, não era.
Ele passou os dedos pelo bolso vazio de seu uniforme, onde nada repousava além de um espaço que parecia acentuar o contraste entre ele e seus colegas. Não carregava tablets mágicos, nem possuía um anel de inventário. Muito menos tinha qualquer perfil em rede social.
Esses brinquedos mágicos são para nobres e ricos, pensou. A frase ecoou em sua mente com mais resignação do que rancor. Ele sabia muito bem da existência dessas tecnologias — já ouvira falar delas em conversas soltas nas áreas públicas e vira anúncios iluminando painéis nas cidades.
Mas nunca tivera acesso real.
Na periferia de Reisenmark, onde crescera, a tecnologia mágica era como uma miragem: visível à distância, mas completamente fora de alcance. Um luxo reservado para a elite, um mundo paralelo ao qual ele não pertencia.
Ainda não.
Suspirando, ajustou a alça do pequeno saco de mana que usava como mochila. Era um item modesto, adquirido com esforço, nada comparável aos artefatos brilhantes que alguns de seus colegas exibiam.
Seu olhar voltou ao colega de bancada. O rapaz franzino agora sorria enquanto navegava tranquilamente em um dos tablets mágicos, imerso em alguma notícia trivial. Klaus desviou o olhar com calma.
Melhor focar no que realmente importa.
Com passos firmes, levantou-se e ajeitou o uniforme. Deixou o assento, ignorando os risos baixos e as conversas descontraídas que começavam a preencher o ambiente do auditório.
Ele já havia conferido sua grade de aulas no dia anterior. Sabia que as manhãs eram reservadas às aulas teóricas — conceitos, história, teoria mágica e militar. Esse tempo, embora fundamental, era apenas um prelúdio.
As tardes, porém, eram o verdadeiro campo de provas: aulas práticas de combate, treinos físicos e desafios em pequenos portais artificiais que simulavam os perigos reais.
Era para isso que precisava se preparar. Corpo descansado, estômago abastecido, mente focada. Essas seriam as armas que ele usaria para encarar os desafios que viriam.
Com passos tranquilos, Klaus deixou o auditório. A luz suave do corredor envolveu sua silhueta como um manto silencioso enquanto ele desaparecia entre os fluxos de alunos que caminhavam pelo espaço, cada um seguindo seu próprio destino.