O movimento repentino no ginásio interrompeu qualquer conversa e desviou o olhar de todos os alunos. Duas mulheres entraram com passos firmes, irradiando uma autoridade que parecia transformar o ar ao seu redor.
A primeira chamou atenção instantaneamente. Alta — embora não tanto quanto Klaus, mas ainda acima da média feminina —, ela tinha uma presença magnética e avassaladora. Seus cabelos, de um loiro platinado quase branco, estavam presos em um rabo de cavalo alto que lhe conferia um toque elegante e prático ao mesmo tempo. O uniforme cinza-claro, idêntico ao dos alunos, ajustava-se perfeitamente ao seu corpo atlético, como se tivesse sido feito para ela.
Klaus sentiu o estômago revirar levemente ao observar aquela figura. Era impossível ignorá-la, não apenas pela postura firme e energética, mas também pela beleza que irradiava com intensidade. Refinada e feroz, ela parecia quase intangível, como algo que não pertencia inteiramente à realidade.
Ao lado dela estava outra mulher, em um contraste quase calculado. Mais baixa, talvez por volta de um metro e sessenta, seus cabelos negros estavam cortados curtos e alinhados, destacando o rosto sério e os olhos atentos que pareciam analisar tudo ao redor com precisão clínica. Enquanto a primeira era como uma tempestade controlada, esta segunda figura lembrava uma adaga oculta: discreta, mas evidentemente afiada.
Sem hesitar, a mulher mais alta parou diante dos alunos reunidos e falou. Sua voz clara e firme cortou o ambiente, como o som de um trovão que não precisa ser alto para comandar atenção.
— Sejam bem-vindos, alunos da Classe Eule. Meu nome é Annemarie von Drachenfels, e serei responsável pelo treinamento prático físico de vocês durante este ano.
Cada palavra parecia carregar o peso de sua autoridade, e sua presença preenchia o espaço sem esforço. Com um gesto breve, ela indicou a mulher ao seu lado, que permanecia em silêncio.
— Esta é Instrutora Erika Baumgarten, que ficará encarregada do suporte e do treinamento de práticas mágicas.
Erika respondeu apenas com um leve aceno de cabeça. Seu semblante mantinha uma neutralidade quase impenetrável, sem deixar escapar traços de simpatia ou indiferença.
Annemarie retomou a palavra, sem perder o ritmo.
— O formato é padrão em Falkenflug. Cada classe, seja Eule, Bär, Adler ou qualquer outra, conta com dois instrutores: um dedicado às habilidades físicas e outro à magia.
Ela cruzou os braços, uma postura que parecia reforçar o tom direto e profissional de suas palavras.
— Como hoje é nosso primeiro encontro, e muitos de vocês vieram de formações diferentes, queremos conhecer suas capacidades. Cada aluno será chamado, se apresentará brevemente e demonstrará seus talentos.
Um murmúrio baixo percorreu o ginásio, os alunos trocando olhares inquietos.
Annemarie ignorou com facilidade, mantendo o foco em suas instruções.
— Vocês poderão escolher três armas — ou três formas de habilidade — para demonstrar onde se sentem mais confiantes. Não espero perfeição, mas quero ver do que são capazes sem treino adicional.
Erika, até então em silêncio, acrescentou com sua voz baixa e firme, como o corte de uma lâmina.
— Para aqueles cuja especialização seja a magia, a demonstração de controle de mana será suficiente. Mas queremos observar também qualquer afinidade inicial que possam apresentar.
Klaus não pôde deixar de notar o contraste entre as duas. Enquanto Erika parecia alguém que observaria atentamente cada detalhe sem demonstrar reação, Annemarie exibia um leve sorriso. Não era um sorriso amigável ou acolhedor, mas sim algo que sugeria antecipação. Ela parecia genuinamente interessada em ver quem ali se destacaria — e quem apenas acreditava que poderia.
— Preparem-se — concluiu Annemarie, sua voz carregando um tom que parecia vibrar no ambiente. — Esta será apenas a primeira de muitas vezes que vocês terão que provar seu valor.
A tensão no ginásio parecia crescer como eletricidade estática, espalhando-se entre os alunos. Klaus respirou fundo, sentindo o peso desse momento.
Para alguns, a ideia de se apresentar publicamente, expondo suas habilidades e potenciais, era desconfortável. Mas para ele, aquilo era apenas mais um desafio — uma oportunidade de mostrar que sua presença ali era merecida.
— Hora de mostrar que eu mereço estar aqui — murmurou para si mesmo, com determinação.
O ginásio estava prestes a se tornar um palco.