Capítulo 7 - Parte 2

As noites em Falkenflug tinham um silêncio peculiar. Apesar da quantidade de alunos e da constante movimentação nos prédios, o toque do sino mágico marcando o recolher parecia lançar uma manta de tranquilidade sobre a academia. O ar, antes cheio de vozes e passos, transformava-se em algo quase místico, como um convite à introspecção.

Klaus caminhava de volta para os dormitórios, sentindo os músculos pesados a cada passo. O dia havia sido tão intenso quanto todos os outros daquela primeira semana, e o cansaço acumulado se fazia sentir. Mas, mesmo assim, ele seguia seu ritual.

Sem desvios perceptíveis, Klaus fazia seu caminho para a biblioteca. Todos os dias, antes de encerrar suas atividades, ele buscava aquele lugar quase sagrado. A biblioteca era uma construção imponente de pedra negra encantada, com janelas altas e arqueadas que pareciam capturar cada raio de luz do luar. Seus corredores se estendiam como um labirinto infinito, e as estantes cheias de grimórios, compêndios e manuais criavam um ambiente carregado de conhecimento e mistério.

Entre esses livros, ele encontrava refúgio. Não era uma obrigação; ninguém o cobrava por isso. Mas ele sabia que, se queria mudar seu destino, precisaria trabalhar mais duro que qualquer outro aluno. Ali, entre teorias mágicas, técnicas de combate com marretas e tratados de estratégia, Klaus dedicava horas ao estudo e ao aprendizado. Ele moldava, pouco a pouco, a base do que desejava se tornar.

Após deixar a biblioteca, ele passava brevemente pelo refeitório para uma refeição rápida. Evitava permanecer ali por muito tempo; preferia a solidão do dormitório, onde finalmente permitia que o cansaço o consumisse. Seu corpo caía na cama como uma pedra lançada na água, afundando no colchão e trazendo consigo o alívio silencioso de um dia vencido.

Era uma rotina difícil, mas para Klaus, era inegociável.

Ao longo da semana, Klaus encontrou algo inesperado: uma amizade.

Leonhard Auster, o primeiro aluno chamado para as demonstrações práticas no ginásio, começou a frequentar a biblioteca quase todos os dias. Era um encontro casual, no início. Trocas de acenos educados deram lugar a breves conversas, que logo se tornaram mais frequentes.

Leonhard era de aparência despretensiosa. Cabelos loiros desgrenhados e uma postura relaxada contrastavam com a pressão constante da academia. Ele fazia parte da turma Eule-4, e sua postura sempre carregava um humor autodepreciativo.

— Se estou lá, é porque sou bom na teoria. No físico... digamos que corro o risco de tropeçar em mim mesmo — disse em uma conversa, arrancando um sorriso discreto de Klaus.

Descobriram que Leonhard tinha uma habilidade matemática impressionante, avaliada como Rank A pela academia.

— Espero alcançar um A+ até o final do ano — comentou em tom modesto, mais como um desejo reservado do que como algo para se exibir.

Havia uma sinceridade tranquila em Leonhard que Klaus apreciava. Em meio ao ambiente saturado de arrogância e ostentação, ele era uma presença que trazia alívio. Aos poucos, a amizade entre eles se consolidou, quase sem esforço.

Enquanto isso, Klaus também se pegava observando Lisette von Stragberg com mais atenção. Descobriu que ela fazia parte da turma Eule-1, a mais prestigiosa entre todas as turmas.

Nas manhãs, raramente tinham interações diretas. Mas nas tardes, quando as turmas se reuniam no ginásio para os treinamentos gerais, ela se tornava impossível de ignorar.

Lisette era o tipo de pessoa que atraía olhares sem pedir. Enquanto Annemarie von Drachenfels usava seu sarcasmo ácido para apontar falhas em quase todos os alunos, Lisette permanecia como uma das poucas exceções. Poucos passavam incólumes pelas críticas afiadas da instrutora, e Lisette era, sem dúvida, a mais marcante entre eles.

Ela corria com precisão. Seus ataques eram executados com eficiência. Sua manipulação de mana exalava controle e elegância. Cada movimento dela era tão calculado e organizado que parecia natural, quase artístico.

Klaus não sabia exatamente como descrever, mas havia algo mais em Lisette. Algo que transcendia o talento puro. Era disciplina. Era força de vontade. Era... uma presença.

Mesmo sem ter trocado uma palavra com ela, Klaus sentia uma admiração genuína por sua determinação silenciosa.

Quando se deitava em seu quarto ao final do dia, exausto demais para pensar em qualquer coisa além de sobreviver àquela rotina intensa, Klaus refletia sobre o que havia aprendido, sobre cada esforço e cada vitória silenciosa.

Ele não era o mais forte, nem o mais rápido, nem o mais talentoso. Mas estava lá. De pé. Lutando para absorver cada lição, cada oportunidade, crescendo na medida de seus esforços.

O sino mágico do recolher tocou ao longe, e Klaus fechou os olhos, deixando o cansaço finalmente levá-lo ao sono. Amanhã seria outro dia, e ele o enfrentaria como sempre: firme e de pé.