A primeira semana em Falkenflug passou como um vendaval — ou, talvez, Klaus refletia, como uma sequência de furacões meticulosamente organizados. Nada parecia sair de lugar, mas tudo se movia com intensidade suficiente para deixar qualquer um exausto.
A rotina se estabeleceu sem qualquer compaixão. Seis dias de aulas intensas seguidos por um único dia de descanso. Não havia espaço para distrações ou para qualquer senso de complacência. Era um ciclo que começava implacavelmente a cada manhã.
Logo ao amanhecer, o sino mágico ecoava pelos corredores da academia, seguido pela entrada enérgica do Professor Makonnen Dula. Ele não caminhava para a sala de aula; ele invadia o espaço como um general prestes a assumir o campo de batalha. Seus passos firmes carregavam a mesma autoridade que sua voz trovejante, preenchendo a sala com uma força quase tangível. Não havia lugar para sorrisos, tampouco para explicações simplistas.
Makonnen transformava cada aula em uma verdadeira tempestade de conhecimento. Fórmulas mágicas intricadas eram colocadas lado a lado com estratégias militares e conceitos avançados de combate. Nada era diluído, nada vinha fácil. Boa parte do que ele ensinava já era familiar para Klaus, que crescera mergulhado em velhos livros da família von Hammer. Mas havia algo na precisão metódica de Makonnen que tornava tudo mais claro, mais urgente. Ele não ensinava para impressionar; ele ensinava para equipar.
Alguns colegas, no entanto, não compartilhavam da mesma preparação. Para os plebeus de origens humildes ou mesmo para filhos de comerciantes endinheirados, conceitos como campos de mana e formações defensivas mágicas eram completamente novos. Era evidente que muitos lutavam para acompanhar o ritmo implacável do professor.
Makonnen, porém, era inflexível. Ele não fazia distinções entre nobres e plebeus, entre casas abastadas e jovens desconhecidos. Para ele, todos estavam sujeitos às mesmas regras.
— Se está aqui, vai aprender ou vai sofrer — declarou logo no primeiro dia, e essa frase ecoava em cada lição desde então.
Se as manhãs eram preenchidas por essa tempestade de informações, as tardes traziam uma brutalidade diferente.
O ginásio de treinamento tornava-se um palco de exaustão física. Todos os alunos das turmas Eule se reuniam para exercícios que testavam os limites de seus corpos. Corridas intermináveis ao redor do ginásio faziam os pulmões arderem. Agachamentos, flexões, saltos sobre plataformas mágicas e séries de polichinelos pareciam nunca terminar.
Magos e guerreiros compartilhavam o mesmo sofrimento. Nem mesmo aqueles que se destinavam a manipular mana escapavam da rotina básica. Para a Falkenflug, a força do corpo era tão crucial quanto a da mente.
No centro desse turbilhão estavam as duas instrutoras: Annemarie von Drachenfels e Erika Baumgarten. O contraste entre elas era tão gritante que por vezes parecia dissonante. Annemarie, com sua elegância inabalável mesmo sob o sol abrasador, parecia se divertir às custas dos alunos.
— Assim você chega ao campo de batalha e já deita para descansar, não é? — dizia com um sorriso que oscilava entre o divertido e o cruel.
Se alguém errava um salto:
— Está tentando voar sem bater as asas? Uma águia sem penas talvez?
Esses comentários, embora mordazes, arrancavam risos abafados entre os alunos que não eram o alvo. Já Erika era o completo oposto. Sua fala era contida, prática, quase mecânica.
— Abaixe mais o centro de gravidade.
— Controle melhor sua respiração.
— Atenção ao ângulo do braço.
Não havia sarcasmo, apenas instruções precisas. Enquanto Annemarie usava o humor ácido para expor os erros dos alunos, Erika preferia desconstruí-los metodicamente.
Quando os exercícios gerais terminavam, as turmas se dividiam. Guerreiros seguiam com Annemarie para os treinos de armas, enquanto magos eram levados por Erika para sessões dedicadas à manipulação de mana. Era nesses momentos que Klaus sentia o peso de suas limitações.
Com a marreta, ele mantinha um desempenho decente. Seus golpes eram sólidos, fruto de anos de prática. Não chamava atenção como Lisette ou outros alunos mais habilidosos, mas podia manter-se confiante com sua arma. Contudo, o mesmo não podia ser dito sobre outras armas.
A espada parecia um instrumento estranho em suas mãos, uma ferramenta que ele não compreendia plenamente. E o mangual... bem, aquilo era um desastre. A corrente parecia lutar contra ele, rebelando-se como se fosse um inimigo adicional no campo de batalha.
Annemarie, é claro, não deixava essas falhas passarem despercebidas.
— Domínio de Armas Pesadas (Marreta): decente. Domínio de Espadas Curtas: embaraçosa. Domínio de Armas de Impacto Simples (Clava): uma piada — sentenciou em um dos treinos, com a precisão cruel de quem não se importava com egos.
Num dia particularmente frustrante, após vê-lo lutar contra a corrente do mangual, ela disparou com um sorriso venenoso:
— Você só serve para a marreta. Qualquer outra coisa nas suas mãos é um desastre digno de estudo. Aliás, von Hammer, talvez devesse dar um curso: "Como falhar com armas semelhantes."
Klaus limitava-se a respirar fundo. Ele sabia que rebater ou se queixar seria inútil. A academia não era lugar para lamentos ou egos feridos. Era um campo de provas, e ele estava ali para ser moldado, não para ser poupado.
Ao final de cada dia, seus músculos doíam de formas que ele nunca havia experimentado. Caminhar até o dormitório era, por vezes, um desafio que ele só superava pela força de vontade.
Mas, em meio à exaustão, uma pequena centelha brilhava.