O salão de aulas estava imerso em um silêncio rígido quando Makonnen Dula entrou. O som pesado de suas botas ecoou pelo auditório, reverberando pelas fileiras de cadeiras elevadas. Nenhuma conversa ousou continuar.
Sem hesitação, ele depositou um bloco de anotações sobre a mesa e ergueu os olhos, analisando os alunos como se buscasse fraquezas invisíveis.
— Hoje falaremos de monstros — anunciou, sua voz cortante preenchendo o espaço como uma lâmina sendo arrastada sobre pedra. — O que são, de onde vieram e por que continuam sendo uma ameaça constante para todos nós.
Deu um passo à frente, cruzando os braços como quem desafia qualquer dúvida.
— Monstros não pertencem a este mundo — disse, com uma ênfase que parecia fincar raízes. — Mas existem nele desde antes do que chamamos de história. Surgiram junto às grandes rupturas da mana, infestaram terras e tornaram vastas regiões inabitáveis. São criaturas do caos, da corrupção, da distorção.
Seu olhar percorreu a sala, atento às reações dos alunos.
— Desde os primeiros registros, tentamos classificá-los. Tentamos medir seus corpos, seus poderes, suas capacidades.
Makonnen inspirou fundo, como se quisesse reforçar a importância do que diria a seguir.
— E falhamos. Miseravelmente.
A afirmação caiu sobre os alunos como uma rocha pesada, afundando qualquer expectativa de certeza.
— Goblins — criaturas que vocês encontrarão mais cedo do que gostariam — são o melhor exemplo disso.
Ele caminhou lentamente pela frente da sala, os olhos afiados como lâminas ocultas.
— Alguns são patéticos, mal sabem brandir uma pedra. Mas há goblins que dizimaram vilarejos inteiros, exigindo a intervenção de guerreiros lendários.
Ele fez uma pausa calculada, permitindo que os alunos digerissem a informação antes de continuar.
— Um goblin, para vocês, deveria ser fraco. Mas e se não for? Como irão prever?
Um sorriso duro, sem vestígios de humor, curvou seus lábios.
— Não vão.
A resposta era definitiva, implacável.
Makonnen continuou sua caminhada pela frente da sala, então se virou, com um gesto preciso, e uma projeção mágica surgiu na parede, exibindo um esquema simplificado.
— Entre nós, conseguimos estabelecer sistemas razoáveis de avaliação. Chamamos isso de potencial.
O diagrama brilhava, exibindo um sistema simples: uma escala de estrelas numeradas de um a dez.
— Uma criança é avaliada aos cinco anos. Seu potencial define até onde pode chegar.
As estrelas pulsavam levemente enquanto ele explicava.
— Uma estrela representa fraqueza extrema. Cinco estrelas são medianas, comuns. Sete estrelas indicam alguém acima da média. Dez estrelas? Raridade absoluta.
Fechou a mão em um punho, como se quisesse reforçar que aquilo não era uma lei imutável.
— Atenção: o potencial não é um limite absoluto.
Seu olhar percorreu a sala, certificando-se de que cada aluno compreendia.
— Há quem ultrapasse seu destino natural, quem desafie todas as probabilidades. E há aqueles que, tendo dez estrelas, fracassam de forma vergonhosa.
A projeção mágica desapareceu como fumaça.
— O potencial é uma estrada. Quem percorre ou não depende do próprio esforço, da sorte e da determinação.
Os alunos permaneciam atentos. A explicação fazia sentido, era direta e crua.
Makonnen fez uma pausa e então endureceu sua postura.
— Mas com monstros... não há estrada. Não há mapa.
Ergueu um dedo, destacando a importância do que viria a seguir.
— Tudo que temos é a mana.
Com um novo gesto, outra projeção surgiu: uma esfera luminosa, pulsando em tons suaves e oscilantes, como um coração de energia bruta.
— A quantidade de mana que uma criatura possui geralmente é um indício de seu poder.
Os alunos se inclinaram levemente para frente, atentos.
— Pouca mana significa que a criatura provavelmente será fraca. Muita mana, criatura provavelmente forte.
Ele pausou deliberadamente, deixando um espaço de incerteza se formar antes de completar a frase.
— Provavelmente.
A palavra ficou no ar por um instante, carregando o perigo da imprevisibilidade.
— Nada é garantido.
Os alunos engoliram seco.
Makonnen fechou a projeção da esfera e voltou seu olhar afiado para a turma.
— Por isso, confiamos nos portais.
Um novo movimento de sua mão fez o diagrama surgir, agora exibindo faixas coloridas: azul-claro, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho.
— Portais se formam em zonas de baixa, média ou alta densidade mágica. Quando um portal se abre, conseguimos medir a média de mana concentrada em seu interior.
Apontou para a faixa azul-claro.
— Azul-claro: portais de baixa ameaça. Criaturas geralmente mais fracas.
Moveu o dedo sobre cada faixa conforme explicava.
— Azul: ainda seguros, mas requerem atenção. Verde: perigo moderado, baixo para veteranos, quase suicídio para iniciantes. Amarelo: exige atenção máxima. Laranja: alto risco. Vermelho: apenas verdadeiros especialistas ou um exército bem preparado entram nele.
Fechou a mão, dissolvendo o gráfico.
— Portanto, confiamos não no monstro, mas no portal que nos leva até ele.
Deu alguns passos à frente, sua postura rígida como sempre.
— É isso que nos permite preparar expedições, organizar academias como esta e treinar soldados.
Então, ele se inclinou levemente, sua voz assumindo um tom mais grave.
— Mas jamais esqueçam...
Seu olhar percorreu os alunos, um por um, imprimindo a gravidade de suas palavras.
— Mesmo em um portal azul-claro, vocês podem encontrar a morte.
O impacto da afirmação era absoluto. Nenhuma hesitação, nenhuma tentativa de suavizar a realidade.
— Monstros são imprevisíveis. A mana pode mentir. A aparência pode trair.
Endireitou-se novamente, imponente.
— Nas próximas semanas, muitos de vocês terão sua primeira experiência em um portal.
Ele fez uma pausa antes de concluir.
— Preparem-se. E nunca subestimem nada.