Capítulo 8 - Parte 1

O salão de aulas estava imerso em um silêncio rígido quando Makonnen Dula entrou. O som pesado de suas botas ecoou pelo auditório, reverberando pelas fileiras de cadeiras elevadas. Nenhuma conversa ousou continuar.

Sem hesitação, ele depositou um bloco de anotações sobre a mesa e ergueu os olhos, analisando os alunos como se buscasse fraquezas invisíveis.

— Hoje falaremos de monstros — anunciou, sua voz cortante preenchendo o espaço como uma lâmina sendo arrastada sobre pedra. — O que são, de onde vieram e por que continuam sendo uma ameaça constante para todos nós.

Deu um passo à frente, cruzando os braços como quem desafia qualquer dúvida.

— Monstros não pertencem a este mundo — disse, com uma ênfase que parecia fincar raízes. — Mas existem nele desde antes do que chamamos de história. Surgiram junto às grandes rupturas da mana, infestaram terras e tornaram vastas regiões inabitáveis. São criaturas do caos, da corrupção, da distorção.

Seu olhar percorreu a sala, atento às reações dos alunos.

— Desde os primeiros registros, tentamos classificá-los. Tentamos medir seus corpos, seus poderes, suas capacidades.

Makonnen inspirou fundo, como se quisesse reforçar a importância do que diria a seguir.

— E falhamos. Miseravelmente.

A afirmação caiu sobre os alunos como uma rocha pesada, afundando qualquer expectativa de certeza.

— Goblins — criaturas que vocês encontrarão mais cedo do que gostariam — são o melhor exemplo disso.

Ele caminhou lentamente pela frente da sala, os olhos afiados como lâminas ocultas.

— Alguns são patéticos, mal sabem brandir uma pedra. Mas há goblins que dizimaram vilarejos inteiros, exigindo a intervenção de guerreiros lendários.

Ele fez uma pausa calculada, permitindo que os alunos digerissem a informação antes de continuar.

— Um goblin, para vocês, deveria ser fraco. Mas e se não for? Como irão prever?

Um sorriso duro, sem vestígios de humor, curvou seus lábios.

— Não vão.

A resposta era definitiva, implacável.

Makonnen continuou sua caminhada pela frente da sala, então se virou, com um gesto preciso, e uma projeção mágica surgiu na parede, exibindo um esquema simplificado.

— Entre nós, conseguimos estabelecer sistemas razoáveis de avaliação. Chamamos isso de potencial.

O diagrama brilhava, exibindo um sistema simples: uma escala de estrelas numeradas de um a dez.

— Uma criança é avaliada aos cinco anos. Seu potencial define até onde pode chegar.

As estrelas pulsavam levemente enquanto ele explicava.

— Uma estrela representa fraqueza extrema. Cinco estrelas são medianas, comuns. Sete estrelas indicam alguém acima da média. Dez estrelas? Raridade absoluta.

Fechou a mão em um punho, como se quisesse reforçar que aquilo não era uma lei imutável.

— Atenção: o potencial não é um limite absoluto.

Seu olhar percorreu a sala, certificando-se de que cada aluno compreendia.

— Há quem ultrapasse seu destino natural, quem desafie todas as probabilidades. E há aqueles que, tendo dez estrelas, fracassam de forma vergonhosa.

A projeção mágica desapareceu como fumaça.

— O potencial é uma estrada. Quem percorre ou não depende do próprio esforço, da sorte e da determinação.

Os alunos permaneciam atentos. A explicação fazia sentido, era direta e crua.

Makonnen fez uma pausa e então endureceu sua postura.

— Mas com monstros... não há estrada. Não há mapa.

Ergueu um dedo, destacando a importância do que viria a seguir.

— Tudo que temos é a mana.

Com um novo gesto, outra projeção surgiu: uma esfera luminosa, pulsando em tons suaves e oscilantes, como um coração de energia bruta.

— A quantidade de mana que uma criatura possui geralmente é um indício de seu poder.

Os alunos se inclinaram levemente para frente, atentos.

— Pouca mana significa que a criatura provavelmente será fraca. Muita mana, criatura provavelmente forte.

Ele pausou deliberadamente, deixando um espaço de incerteza se formar antes de completar a frase.

— Provavelmente.

A palavra ficou no ar por um instante, carregando o perigo da imprevisibilidade.

— Nada é garantido.

Os alunos engoliram seco.

Makonnen fechou a projeção da esfera e voltou seu olhar afiado para a turma.

— Por isso, confiamos nos portais.

Um novo movimento de sua mão fez o diagrama surgir, agora exibindo faixas coloridas: azul-claro, azul, verde, amarelo, laranja e vermelho.

— Portais se formam em zonas de baixa, média ou alta densidade mágica. Quando um portal se abre, conseguimos medir a média de mana concentrada em seu interior.

Apontou para a faixa azul-claro.

— Azul-claro: portais de baixa ameaça. Criaturas geralmente mais fracas.

Moveu o dedo sobre cada faixa conforme explicava.

— Azul: ainda seguros, mas requerem atenção. Verde: perigo moderado, baixo para veteranos, quase suicídio para iniciantes. Amarelo: exige atenção máxima. Laranja: alto risco. Vermelho: apenas verdadeiros especialistas ou um exército bem preparado entram nele.

Fechou a mão, dissolvendo o gráfico.

— Portanto, confiamos não no monstro, mas no portal que nos leva até ele.

Deu alguns passos à frente, sua postura rígida como sempre.

— É isso que nos permite preparar expedições, organizar academias como esta e treinar soldados.

Então, ele se inclinou levemente, sua voz assumindo um tom mais grave.

— Mas jamais esqueçam...

Seu olhar percorreu os alunos, um por um, imprimindo a gravidade de suas palavras.

— Mesmo em um portal azul-claro, vocês podem encontrar a morte.

O impacto da afirmação era absoluto. Nenhuma hesitação, nenhuma tentativa de suavizar a realidade.

— Monstros são imprevisíveis. A mana pode mentir. A aparência pode trair.

Endireitou-se novamente, imponente.

— Nas próximas semanas, muitos de vocês terão sua primeira experiência em um portal.

Ele fez uma pausa antes de concluir.

— Preparem-se. E nunca subestimem nada.