Capítulo 8 - Parte 2

Makonnen Dula permaneceu imóvel por alguns instantes, como se saboreasse o silêncio pesado que havia envolvido a sala após sua última declaração. Seus olhos percorreram os rostos atentos dos alunos, analisando quem realmente absorvia suas palavras e quem apenas fingia compreendê-las. Então, sem alterar o tom de voz ou a expressão severa, ele retomou.

— Mesmo com toda essa imprevisibilidade — disse, sua voz grave preenchendo o espaço com um peso quase físico — nós conseguimos estabelecer, ao menos dentro dos portais, uma classificação funcional.

Ergueu uma mão no ar, como se sustentasse algo invisível.

— Ouçam bem: essa classificação não é perfeita. Mas ainda é a melhor ferramenta que temos.

Seus passos ecoaram pela plataforma enquanto ele caminhava lentamente, suas palavras se estendendo como uma sombra sobre os alunos.

— Tomemos o exemplo dos goblins — criaturas que, infelizmente, vocês conhecerão em breve.

Um ou dois alunos riram baixinho, talvez nervosos. Makonnen os ignorou completamente.

— Um goblin com pouca mana, sem habilidades especiais e sem inteligência estratégica é considerado um Comum. Seu poder é bruto, primitivo e facilmente derrotado por qualquer guerreiro minimamente treinado.

Ele pausou e ergueu dois dedos.

— Mas se um goblin demonstra astúcia — se arma emboscadas, trabalha em equipe com eficiência ou utiliza armas e armaduras de maneira inteligente — mesmo possuindo a mesma quantidade de mana que um Comum, ele é classificado como Elite.

Passou o olhar pela turma, certificando-se de que sua explicação estava sendo absorvida.

— Um Elite geralmente tem o dobro de mana em relação aos outros monstros do mesmo portal. Não subestimem isso.

Makonnen manteve a mão suspensa por mais um instante antes de prosseguir.

— E se a criatura possui uma quantidade anormal de mana, mesmo sem muita inteligência ou habilidade, nós a classificamos como Semi-Chefe.

Ele fechou o punho lentamente.

— Semi-Chefes são formidáveis. Eles se destacam pela força bruta, resistência e, às vezes, até por habilidades mágicas instintivas que tornam o combate contra eles mais perigoso do que deveriam ser por natureza.

Então, sua voz ganhou um tom ainda mais grave.

— Por fim, quando encontramos uma criatura com imensa quantidade de mana, e que possui inteligência, técnica e uma diversidade de habilidades, nós a reconhecemos como um Chefe.

A sala parecia prender a respiração, como se os alunos sentissem o peso daquela palavra.

— Um Chefe é, frequentemente, o terror de um portal. — A frase foi dita com uma solenidade sombria.

Makonnen cruzou os braços.

— Em muitos casos, o Chefe é o responsável pela própria existência daquele espaço. Derrotá-lo não é apenas vencer uma batalha — é silenciar toda uma dungeon.

Ele caminhou até a ponta da plataforma, e, pela primeira vez, sua voz perdeu a dureza implacável e tornou-se quase reflexiva.

— Ainda assim... — disse, como quem pondera uma verdade desconfortável — a classificação não é garantida.

Seu olhar afiado se dirigiu à turma, como se desafiasse qualquer um a discordar.

— Haverá vezes em que um monstro Comum agirá como um Elite.

Fez uma pausa.

— Outras vezes, um Elite se comportará como um Chefe.

Seu tom ficou ainda mais baixo, quase um aviso sussurrado.

— Ou um Semi-Chefe, desprovido de inteligência, se mostrará mais mortal do que qualquer Chefe que já enfrentamos.

Ele cruzou os braços, como se delimitasse uma linha invisível entre a ordem e o caos.

— Essa é a natureza da distorção.

Olhou cada aluno nos olhos antes de concluir.

— E é por isso que o verdadeiro perigo nunca é o que você vê — mas o que você não espera.

Makonnen girou sobre os calcanhares, seu manto escuro ondulando no movimento.

— Nos portais, essa classificação nos permite organizar expedições, treinar novatos e manter o controle sobre os riscos conhecidos.

Fez uma pausa, como se ponderasse por um breve momento sobre o que viria a seguir.

— Mas fora dos portais... não há garantias.

A sala ficou ainda mais silenciosa, como se as palavras tivessem drenado qualquer certeza que ainda pairasse no ar.

Seu olhar endureceu.

— Na natureza selvagem, monstros não obedecem a qualquer escala.

A afirmação parecia carregar o peso de incontáveis batalhas e massacres.

— Um goblin isolado pode se tornar uma ameaça regional.

Os olhos de Makonnen se tornaram ainda mais sombrios.

— Um simples bicho-papão pode devorar exércitos inteiros.

Ele inspirou fundo, como se sua próxima frase fosse algo que raramente se ouvia dentro da academia.

— É por isso que o Reino de Reisenmark não busca expandir suas fronteiras.

Os alunos se entreolharam. A frase parecia quase contradizer a postura imperial do reino, mas Makonnen não os deixou tempo para contestar.

— Isso não é covardia.

Levantou um dedo indicador.

— É sabedoria.

A luz das lâmpadas mágicas refletiu contra seu rosto enquanto ele explicava.

— Consolidar zonas de baixa densidade mágica, proteger os portais estabilizados, treinar soldados capazes de reagir... Este é o caminho da sobrevivência.

Baixou lentamente o dedo, como quem sela um destino.

— Vocês — ele disse, com um peso imenso em cada sílaba — são parte dessa estratégia.

Não havia promessa. Não havia ilusão de grandeza. Apenas a crua realidade do mundo em que estavam prestes a enfrentar.