O tempo na Falkenflug Academie parecia ter suas próprias regras. O ciclo dos dias era marcado por uma precisão implacável, como se cada ação fosse predeterminada e qualquer desvio fosse um erro a ser corrigido. Klaus Erich von Hammer logo se acostumou a essa cadência, seus dias se tornando uma sequência quase cronometrada de movimentos que se repetiam sem falhas.
Ele acordava cedo, sempre antes do sino mágico anunciar o início da rotina. Fazia sua refeição leve no refeitório ainda meio vazio, onde o cheiro de pão recém-assado e suco de mana pairava no ar, e seguia direto para as aulas teóricas da manhã. Lá, encontrava o sempre imponente Professor Makonnen Dula, cuja presença por si só carregava o peso de uma batalha silenciosa.
As manhãs eram rigorosas. O conhecimento derramava sobre os alunos como chuva pesada, exigindo atenção absoluta. Makonnen não permitia distrações, erros ou falta de foco. Cada lição era apresentada com precisão e intensidade, e Klaus aprendeu rapidamente a absorver os conteúdos sem permitir que a exaustão o dominasse.
Assim que o sino ecoava anunciando o fim da aula, ele tomava seu almoço rapidamente, sem tempo para conversas inúteis, e partia para as sessões práticas da tarde. Sob a supervisão incansável de Annemarie e da silenciosa Erika, ele alternava entre treinamentos físicos e exercícios de manipulação de energia.
O treino com armas era, de longe, seu momento favorito. Mesmo com os comentários ácidos de Annemarie pairando constantemente sobre sua cabeça, ele sentia uma espécie de satisfação cada vez que empunhava sua marreta.
— Ao menos você sabe usar uma marreta. Mais ou menos. — ela dissera uma vez, e Klaus, sem piscar, decidiu tomar aquilo como um elogio.
No final do dia, após a última refeição, Klaus se refugiava na biblioteca. Por uma ou duas horas, mergulhava em livros, grimórios e manuais, absorvendo cada fragmento de conhecimento que jamais tivera acesso em sua infância.
Histórias de grandes generais, tratados mágicos, estratégias de combate, anatomia de monstros — tudo o que pudesse fortalecer sua mente para o futuro incerto que o aguardava.
Era uma rotina dura. Simples. Cansativa.
Mas, para Klaus, cada gota de suor, cada página virada e cada treino até a exaustão eram parte da reconstrução da honra perdida de sua família.
Seu esforço não demorou a dar frutos.
Nos exames teóricos preliminares realizados após os primeiros meses, Klaus não foi o melhor — longe disso. Mas também não foi esquecido.
Suas notas o posicionaram confortavelmente entre os sete melhores alunos de sua turma, um feito digno para alguém vindo da obscuridade, cercado de filhos de grandes casas nobres.
Um passo de cada vez, ele pensava. Ainda havia muito a conquistar.
E agora, um novo desafio se aproximava.
Os rumores começaram a circular nos corredores da Falkenflug semanas antes. Sussurros sobre uma missão real, um teste para os novatos, um primeiro contato com o mundo fora das paredes da academia.
Na última sexta-feira, a confirmação veio dos próprios instrutores.
Os cem alunos das classes Eule seriam enviados para uma dungeon de classificação azul-claro.
Uma dungeon recém-surgida, a menos de meio dia de viagem da academia.
O anúncio teve reações variadas. Alguns alunos vibravam com a expectativa, ansiosos por finalmente provarem suas habilidades. Outros, mais cautelosos, ponderavam sobre os riscos.
A expedição seria liderada não apenas pelas professoras da tarde, mas também pelos cinco professores de disciplinas teóricas. Sete instrutores no total, responsáveis por garantir que a primeira incursão fosse, ao menos em teoria, segura.
Ainda assim, havia advertências.
Makonnen, como sempre, foi direto.
— A classificação azul-claro indica apenas a média de mana encontrada no local. Isso não garante quantos monstros existem. Não garante que não haverá surpresas.
Ele olhou para os alunos como quem os avaliava, testando sua reação.
— Uma dungeon azul-claro pode esconder cem inimigos fracos... ou mil.
As palavras ecoaram pela sala como uma sentença que ninguém queria ouvir.
Os rastreadores mágicos — especialistas treinados para entrar e sair das dungeons em reconhecimento — já haviam verificado o local e enviado um relatório oficial.
O número de monstros era baixo, e a mana geral estava fraca.
Era um cenário perfeito para uma primeira missão.
Ou assim todos esperavam.
A academia entrou em um ritmo acelerado de preparação. Equipamentos começaram a ser revisados, planos de batalha discutidos, armas testadas e reexaminadas. Cada aluno, independente do nível de animação ou medo, sabia que este seria um momento crucial.
Para Klaus, não havia dúvida.
Este seria seu primeiro teste real.