O ginásio principal da Falkenflug Akademie parecia menor diante da multidão de cem estudantes, alinhados em fileiras impecáveis sob os tons cinza e dourado de seus uniformes. O burburinho baixo que ecoava pelo espaço carregava uma tensão crescente, uma mistura de antecipação e nervosismo.
Quando as portas laterais se abriram, revelando os sete instrutores, o murmúrio cessou quase de imediato. Klaus Erich von Hammer, posicionado na terceira fileira, endireitou a postura, os olhos fixos nas figuras que avançavam com passos firmes.
A primeira a roubar os olhares foi Franziska Morgenstern, professora da Classe Eule-1. Alta, esguia, com cabelos dourados que caíam em ondas reluzentes até a cintura, sua presença era magnética. A elegância natural de seus movimentos, aliada à confiança evidente em seu olhar azul-claro, fazia dela uma figura que dominava qualquer espaço que ocupasse. Ela se movia com uma graça calculada, o uniforme impecavelmente ajustado ao corpo, e seu leve sorriso condescendente parecia insinuar que sabia exatamente o impacto que causava.
Gretel von Albrecht, da Classe Eule-2, contrastava fortemente com a opulência de Franziska. Ela era discreta, quase indistinta. Poderia facilmente se misturar aos alunos sem ser notada. Seus cabelos castanho-claros, presos em duas tranças simples, e as sardas espalhadas pelo rosto davam-lhe um ar juvenil, mas Klaus sabia que ninguém ali era comum. Mesmo com sua presença tranquila e os olhos serenos, Gretel não estava ali para ser subestimada.
Makonnen Dula, professor da Classe Eule-3 e instrutor prático de Klaus, impunha respeito com sua mera presença. Sua pele escura reluzia sob as luzes mágicas do ginásio, a cabeça raspada tornando sua silhueta ainda mais imponente. Musculoso e sólido como uma muralha, ele caminhava com a rigidez de um soldado veterano, e seus olhos negros carregavam um peso silencioso, como se guardassem histórias que poucos ali poderiam compreender. Cada passo seu ressoava autoridade, silenciando os murmúrios ao redor.
Lieselotte Weber, da Classe Eule-4, era uma presença desconcertante. Pequena, com pouco mais de 1,58m, seus cabelos castanho-avermelhados estavam presos de forma descuidada, algumas fitas amarradas às pressas segurando as mechas rebeldes. Sua expressão apática, quase entediada, fazia parecer que tudo ao seu redor era insignificante. Mas Klaus notou algo diferente em seus olhos — uma intensidade reprimida, um olhar que escondia algo sob sua fachada indiferente.
Otto Grünwald, da Classe Eule-5, parecia deslocado entre os acadêmicos. Com sua barba loira espessa e postura de lenhador, era impossível ignorar sua figura robusta. Alto e forte, sua presença era uma âncora firme no grupo de instrutores. Seus olhos cinzentos varreram os alunos com precisão analítica, como se estivesse mapeando cada fraqueza e qualidade antes mesmo da missão começar. Sua voz grave e ressonante, quando falava, parecia dominar o ambiente sem esforço.
Então veio Annemarie von Drachenfels, instrutora de práticas de combate, e a atmosfera mudou. Seu caminhar tinha a elegância letal de uma predadora. Seus cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo alto, cada movimento seu sendo medido e eficiente. Seus olhos castanhos, afiados, pareciam capazes de cortar qualquer aluno que não estivesse à altura das expectativas. Sem precisar falar, ela impunha respeito — sua postura dizia tudo.
Por fim, Erika Baumgarten, instrutora de práticas mágicas, avançou com uma precisão quase meticulosa. Seus cabelos loiros estavam presos em um coque impecável, e seu uniforme, alinhado perfeitamente, reforçava sua disciplina austera. Ao parar, ela ergueu uma prancheta mágica que pulsava com runas discretas antes de falar, sua voz cortante como gelo.
— Amanhã, ao nascer do sol, as divisões Eule iniciarão uma incursão prática em uma dungeon de classificação azul-claro, recentemente estabilizada.
A tensão no ginásio cresceu instantaneamente, os olhares trocados carregando expectativa e preocupação. Mas Erika manteve seu tom firme e impassível.
— Azul-claro refere-se à média de mana, não à quantidade de criaturas. Podem ser poucas. Podem ser muitas. Anomalias são raras, mas possíveis. Nosso papel, como instrutores, será observar. Só interviremos em caso de anomalias graves.
Ela pausou, seus olhos varrendo os alunos como se gravasse cada rosto ali presente.
— Se forem derrotados por monstros normais... — sua voz não vacilou, apenas se tornou ainda mais fria — morrerão. Por imprudência, despreparo ou azar. A Falkenflug não protege tolos.
O impacto de suas palavras foi imediato. Alguns alunos se encolheram, outros cerraram os punhos. Klaus permaneceu imóvel, absorvendo a dura realidade exposta sem nenhuma tentativa de suavização.
Erika prosseguiu, ainda impassível.
— A participação é voluntária. Recusar significa restrição ao currículo teórico e consequências acadêmicas severas. Decidam com sabedoria.
Baixou a prancheta com um gesto controlado, como se encerrasse qualquer margem para debate.
— Ponto de encontro: praça central, ao nascer do sol. Sem atrasos. Tragam o essencial.
Sem esperar reações, ela se virou, seguida pelos outros instrutores, que desapareceram pelas portas laterais sem mais palavras.
Klaus inspirou fundo, sentindo o peso do momento se acomodar sobre seus ombros. Não havia ilusões. A missão era real. O perigo, apesar das garantias, era real.
Era o momento pelo qual se preparara, consciente ou inconscientemente, desde que deixara sua família.
Amanhã, a verdade viria à tona.