Capítulo 9 - Parte 3

O silêncio que pairava sobre os cem estudantes foi abruptamente cortado pelo eco ritmado dos saltos da instrutora Annemarie von Drachenfels contra o piso polido do ginásio. Com seu sorriso cínico de sempre, ela tomou o centro do espaço assim que Erika se afastou, o tablet mágico descansando contra a palma de sua mão como um instrumento de julgamento.

— É... — disse ela, batendo levemente o aparelho contra a mão. — Se fosse só isso, ia ser fácil demais, não é?

O olhar afiado de Annemarie percorreu os estudantes como um chicote invisível, caçando cada mínimo traço de hesitação em seus rostos.

— Então deixem eu ser ainda mais clara para vocês, já que nossa querida Erika não se dá a esse trabalho.

Alguns alunos se entreolharam nervosamente. Outros engoliram seco, como se já soubessem que algo desagradável viria a seguir.

— Se você é da Classe Eule-1... — ela ergueu um dedo, pontuando cada palavra — e se recusar a ir para a dungeon, ou fracassar miseravelmente lá dentro... adivinhem?

Sua voz cortante deixou uma pausa dramática no ar antes da resposta.

— Rebaixado para a Classe Eule-2.

O peso da afirmação caiu sobre os alunos como uma rocha.

O sorrisinho de lado de Annemarie não deixava dúvidas de que ela estava se divertindo com aquilo.

— E assim sucessivamente... Se você é da Classe 2, vai para a 3. Se é da 3, vai para a 4. Se é da 4... — girou o dedo no ar, como quem conjura uma magia invisível — vai para a 5.

Seu sorriso se ampliou levemente.

— E se é da 5... — sua voz ficou propositalmente mais suave, quase gentil, tornando a ameaça ainda mais fria.

Ela inclinou o corpo para frente, como se estivesse confiando um segredo mortal.

— Adeus.

Silêncio.

A palavra pairou no ar com uma tensão opressiva.

— Expulso.

A sentença veio com uma certeza implacável.

— Mandado embora da Falkenflug Akademie.

— Sem direito a recurso. Sem segunda chance.

Um arrepio percorreu o ambiente.

Klaus sentiu a tensão aumentar ao redor, como uma muralha invisível que se erguia entre os alunos.

Annemarie voltou à postura ereta.

— Vocês têm uma semana.

— Uma — repetiu, enfatizando a palavra como um selo final.

— Para se prepararem. Para treinarem. Para melhorarem suas habilidades patéticas. Para comprarem equipamentos decentes.

Seu tom se tornou ainda mais cruel.

— Ou para escreverem suas cartinhas de despedida, se preferirem.

Ela deu de ombros.

— Vão visitar suas famílias se quiserem. Saiam da Academia, voltem cambaleando para casa se for necessário.

— Só... não apareçam no dia da incursão achando que improvisação vai salvar a vida de vocês.

Ela fez um último aceno com o tablet, como quem se despede de uma plateia entediada.

— Agora, sumam daqui. E aproveitem a folga da tarde.

— Vocês vão precisar.

Sem esperar qualquer reação, Annemarie virou nos calcanhares e se afastou, deixando um rastro de inquietação para trás.

Os estudantes começaram a se dispersar, ainda trocando olhares apreensivos. Klaus demorou um instante a mais. Respirou fundo.

Apesar das palavras duras, Annemarie não estava errada.

A responsabilidade agora recaía completamente sobre eles.

Ele seguiu para o saguão principal da academia, onde o fluxo de alunos já se intensificava. Grupos se organizavam em conversas apressadas, dividindo estratégias e preocupações.

Primeiro passo: verificar seu saldo de créditos.

O terminal mágico brilhava suavemente enquanto Klaus passava seu cartão de identificação.

Um número dourado apareceu na tela.

Saldo atual: 380 créditos.

Ele franziu a testa.

Não era um valor impressionante. Daria para comprar alguns equipamentos básicos, talvez uma arma melhor, mas nada excepcional.

Suspirou.

Faria o que pudesse com o que tinha.

Procurou Lukas, o veterano de cabelos vermelhos desgrenhados que o havia recepcionado meses antes. Encontrou-o próximo aos dormitórios, conversando animadamente com outros alunos mais velhos.

— Lukas! — chamou, erguendo a mão.

O rapaz virou-se e sorriu de imediato.

— Ora, ora, se não é o pequeno Von Hammer! Klausão! — disse ele, se aproximando num trote descontraído. — O que manda?

Klaus mostrou o cartão de identificação.

— Que tipo de apelido é esse, hein... — murmurou, mas ignorou a provocação. — Tenho 380 créditos. E vou para a dungeon na próxima semana.

— Preciso de conselhos.

Lukas cruzou os braços, encarando-o com um sorriso quase paternal.

— Primeiro conselho: não gaste tudo em uma arma bonita e inútil.

— Segundo conselho: não entre lá sem pelo menos uma marreta de verdade e uma adaga reserva.

Ele coçou a cabeça, pensativo.

— Ah, e tenta guardar uns trocados pra poções de cura. Nunca se sabe.

— Mesmo em uma dungeon azul-claro, um arranhão pode virar um problema se você não tiver como se recuperar.

Klaus assentiu, gravando cada palavra.

— Tem alguma loja que você recomendaria?

Lukas sorriu de lado.

— Fala com o velho Baumer, na Rua Leste.

— É feio, mal-humorado, mas honesto.

— Se ele não te vender gato por lebre, considere-se sortudo.

Agradecendo rapidamente, Klaus apertou a mão do veterano e seguiu seu caminho.

Ainda não satisfeito, foi até a biblioteca.

O bibliotecário Friedrich Baumann, um homem calvo de óculos grossos e olhar penetrante, ajeitava alguns tomos antigos quando Klaus se aproximou.

— Senhor Baumann, teria recomendações de leitura sobre sobrevivência em dungeons?

— Para novatos? — acrescentou em um tom seco.

O velho bibliotecário ergueu uma sobrancelha, surpreso.

— Hm. Poucos jovens se preocupam com isso hoje em dia.

— Espere um instante.

Ele sumiu entre as estantes e retornou com três livros robustos.

— Leve estes. Leia. Memorize.

— Se não morrer na primeira semana, volte e agradeça.

Klaus sorriu, genuinamente grato.

— Pode deixar.

Por fim, antes de retornar ao dormitório, esbarrou em Leonhard, o colega franzino que havia conhecido semanas antes.

Leonhard equilibrava uma pilha absurda de livros nos braços.

— Preparando-se para a incursão? — perguntou Klaus.

Leonhard riu.

— Tentando. Vou ser esmagado antes pelos livros do que pelos monstros, provavelmente.

Conversaram brevemente sobre suas expectativas. Leonhard parecia tranquilo — sabia que sua força física era medíocre, mas confiava na própria inteligência para se manter vivo.

E de alguma forma, Klaus também confiava nele.

Naquela noite, deitado em sua cama sob a luz suave do abajur mágico, Klaus revisou mentalmente tudo o que precisava fazer.

A semana seria dura.

Mas ele estava determinado.