O vento cortava a planície com um sussurro inquietante, fazendo as hastes alaranjadas balançarem como ondas em um mar distorcido. A vegetação, alta o suficiente para roçar seus joelhos, se espalhava por quilômetros, sem fim aparente. Klaus Erich von Hammer avançava com passos medidos, a marreta segura em suas mãos calejadas, seu olhar varrendo cada detalhe ao redor. O mundo ao seu redor era opressor, carregado de uma estranheza que deixava claro que não pertenciam à realidade que conhecia.
Ele nunca havia pisado em uma masmorra antes, e o que via ali estava longe do que imaginara. Nada de túneis claustrofóbicos ou cavernas úmidas; em vez disso, havia uma extensão selvagem, aberta, onde o céu exibia um tom de verde pálido, como se a luz do sol fosse apenas uma lembrança vaga. Era uma paisagem artificial, feita por mana, por magia instável, por forças desconhecidas que rasgavam o tecido do mundo e o reconstruíam de maneira incoerente.
Quando cruzaram o portal mágico, os cem alunos da Falkenflug Akademie foram lançados a diferentes pontos da masmorra, separados intencionalmente, como os instrutores haviam alertado. Não haveria grupos seguros ou refúgios naturais. Cada estudante teria que sobreviver por si mesmo. Klaus sabia disso e se preparara com cuidado, consciente de que poderiam passar dias ali—dois, cinco, talvez até sete. A única saída era simples e brutal: eliminar todos os monstros. Quando a última criatura fosse derrotada, o núcleo da masmorra colapsaria, fechando o portal e expulsando qualquer um ainda dentro.
Seus 380 créditos foram gastos com sabedoria. Desses, 220 foram para sua marreta, uma arma da forja Aurekym, uma lenda entre os guerreiros experientes. Resistência sobrenatural. Precisão mortal. O metal era escuro, reforçado com encantamentos, e sua empunhadura trazia runas entalhadas que pulsavam suavemente ao toque. Uma arma confiável, forte, durável. Klaus não poderia ter feito escolha melhor. O restante de seus créditos foi usado para montar um kit de sobrevivência básico: uma capa encantada, que se aquecia magicamente à noite, compressas de cura embrulhadas em linho, provisões secas suficientes para uma semana, e uma pedra de mana de baixa qualidade, reservada para emergências.
Não era um arsenal digno das casas nobres, mas era suficiente.
O terreno sob seus pés era traiçoeiro. A terra solta misturava-se a raízes retorcidas e pedras escondidas sob a vegetação. As plantas exalavam um cheiro acre, quase metálico, irritando as narinas. Trilhas estreitas cruzavam a planície em pontos esparsos, algumas marcadas por hastes quebradas ou terra remexida—sinais de movimentação recente. Klaus evitava esses caminhos. Emboscadas eram um risco real. Abrir seu próprio trajeto era mais lento, mas mais seguro.
Duas horas se passaram desde que emergira naquele lugar, e o silêncio era ensurdecedor. Nenhum monstro, nenhum som além do roçar das folhas e do vento que parecia carregar vozes distantes, ilusórias. Seus sentidos estavam afiados, captando cada oscilação estranha na vegetação, cada movimento que não pertencia ao padrão do ambiente. Seu uniforme cinza-claro, com detalhes dourados, destacava-se perigosamente contra o mar alaranjado ao seu redor—um alvo fácil.
Ele odiava isso, mas não havia escolha.
Ajustou a alça da bolsa no ombro, sentindo o peso do kit de sobrevivência. Apertou a marreta, seus dedos deslizando sobre as runas da empunhadura.
"Talvez o silêncio seja bom," pensou, controlando a respiração. "Significa que estou vivo. Mas também significa que algo está esperando."
Ele se lembrou das palavras de Makonnen Dula, seu instrutor da Classe Eule-3.
"Na masmorra, o perigo não avisa. Ele observa."
Klaus engoliu em seco, seus olhos varrendo o horizonte, onde a vegetação se fundia em uma cortina densa, escondendo o que quer que o aguardasse.
Treinar na Falkenflug era uma coisa—golpes ensaiados, alvos de madeira, instrutores corrigindo a postura. Mas aqui, o erro não seria corrigido. Aqui, o erro significava o fim.
Pensou nos outros alunos, dispersos pela masmorra. Alguns, provavelmente, já haviam encontrado suas primeiras criaturas. Outros, quem sabe, já haviam cometido erros fatais.
Afastou o pensamento antes que ele se enraizasse.
Cada passo era uma escolha, cada movimento uma aposta. A vegetação parecia viva, suas hastes dançando com o vento. Mas vez ou outra, um movimento destoava do padrão—uma oscilação brusca, um tremor que não combinava com a brisa natural. Klaus parava, os músculos tensos, a marreta erguida. Nada surgia. Ainda não.
Então, um estalo seco cortou o ar, vindo de algum ponto à esquerda.
Ele girou a cabeça, o coração disparando, os olhos fixos na direção do som.
A marreta subiu num reflexo, pronta para o golpe.
O vento soprou, as plantas ondularam, mas nada se revelou.
Por enquanto.
Klaus inspirou fundo, o suor escorrendo pela testa.
A primeira batalha de sua vida real estava próxima.
Ele podia sentir.
E, com a marreta da Aurekym em mãos, estava pronto para enfrentá-la.