Klaus girou a marreta da Aurekym, sentindo o impacto reverberar pelos ossos enquanto descia com força sobre o verme gigante à sua frente. O som do golpe era grotesco, um estalo molhado e abafado seguido pelo jorrar de fluidos viscosos que encharcaram ainda mais seu uniforme cinza-claro. Ele cambaleou um pouco com a força do golpe, os músculos tensos, ardendo, como se protestassem contra cada movimento.
Seus pés afundavam na terra alaranjada, um campo de batalha que parecia não ter fim. A masmorra não lhe dava descanso. Não importava quantas criaturas ele derrubasse, mais surgiam das hastes altas e exóticas ao redor, serpenteando entre a vegetação como uma infestação imparável.
Mais três vermes emergiram, suas bocas serrilhadas pulsando, os tentáculos finos e rosados se contorcendo no ar como línguas famintas. Klaus prendeu a respiração ao notar um quarto monstro logo atrás dos demais, maior, com glândulas pulsantes no pescoço. Em um instante, cuspiu um jato de ácido esverdeado que chiou ao tocar a vegetação, corroendo folhas e caules como se fossem papel fino.
— Não tem fim — murmurou, o peito queimando com a respiração acelerada.
Pelo menos sessenta vermes já haviam caído, talvez mais de setenta. Ele não sabia mais contar. A luta havia se tornado pura sobrevivência, uma repetição de movimentos que consumiam sua energia com cada golpe.
O ácido cortou o ar em sua direção. Klaus reagiu rápido, saltando para o lado enquanto a substância tóxica atingia o lugar onde ele estivera instantes antes. Rolou pelo chão, sentindo o uniforme rasgar nos cotovelos.
— Quinto ácido — sussurrou, percebendo um padrão.
A cada dez criaturas, pelo menos uma apresentava essa variação, lenta, mas mortal à distância. Já matara cinco como esse, e cada um exigiu mais precisão, mais força, mais cuidado.
Klaus ergueu a marreta, pesada demais nas mãos exaustas, e sentiu uma pontada de arrependimento.
— Por que uma marreta?
Mesmo sendo uma arma da Aurekym, mais leve do que outras marretas do mesmo porte, o peso o traía a cada golpe. Na Falkenflug Akademie, ele escolhera pelo impacto brutal, pelo poder absoluto de destruição. Mas agora, seus braços formigavam, sua visão estava embaçada, e cada balanço custava energia demais. Ainda assim, era tudo o que tinha.
Sem dar espaço para hesitação, girou o corpo e acertou um golpe lateral contra o verme ácido. O impacto foi certeiro, rachando seu corpo disforme e fazendo o fluido corrosivo escorrer pelo solo.
Outro monstro veio logo em seguida, seus dentes vibrando como uma serra faminta. Klaus avançou com passos curtos e calculados, desviando de um tentáculo que chicoteou o ar ao seu lado. Seu instinto já antecipava o ataque seguinte, e ele desceu a marreta com precisão, esmagando a cabeça da criatura com um som seco e final.
Gosma respingou em seu rosto, ardendo nos olhos.
Ele piscou furiosamente, forçando-se a continuar.
— Maldita marreta — pensou, sentindo o peso cada vez maior puxando seus ombros para baixo.
Mas era sua única proteção, a única barreira entre ele e a morte.
O vento zumbia ao redor, e a vegetação parecia se mover de forma errática, como se reagisse à sua batalha. Klaus viu mais sombras se formando, os contornos sinuosos de pelo menos cinco novas criaturas surgindo entre as hastes. Dois tinham glândulas ácidas.
Ele recuou rapidamente, quase tropeçando em uma raiz oculta. O primeiro ácido cuspiu sua substância tóxica sem aviso, e Klaus rolou para evitar o ataque. Mesmo assim, o jato pegou sua perna de raspão, queimando o tecido e atingindo a pele abaixo.
A dor foi instantânea, cortante.
Ele gritou, sentindo o ardor se espalhar, mas se obrigou a ficar de pé antes que os outros monstros aproveitassem sua hesitação.
O segundo ácido se preparava para atacar. Klaus analisou o ambiente em segundos, usando a vegetação como cobertura. Quando o momento certo veio, ele se lançou para frente, acertando a cabeça da criatura com um golpe diagonal.
Os três vermes comuns vieram ao mesmo tempo, tentando cercá-lo.
Klaus percebeu a armadilha.
O primeiro avançou direto, sem estratégia. Klaus desviou no último segundo, deixando-o exposto para um golpe esmagador.
O segundo foi mais inteligente, roçando sua perna ferida. A dor se intensificou, sangue misturando-se à gosma que cobria o chão. Klaus rangeu os dentes, retaliando com um golpe que sacudiu seus ossos.
O terceiro foi o mais perigoso. Seus tentáculos chicotearam, buscando seu rosto. Klaus ergueu o braço esquerdo para se proteger, sentindo o impacto rasgar a manga do uniforme. Com um urro, ele desceu a marreta, farpas de osso voando pelo ar.
Seu corpo estava no limite.
Cada golpe cobrava um preço maior.
Mesmo para uma dungeon azul-clara, esse fluxo constante de criaturas era errado.
A pulseira brilhava no pulso, registrando créditos—setenta? Oitenta? Ele já não sabia.
O fedor se tornava sufocante, sua respiração falhava, e sua perna pulsava com dor. Mas parar era impossível.
— Não posso parar — repetia, um mantra contra o desespero.
Ele pensou em Makonnen Dula, cujo ensinamento ecoava:
"A masmorra não perdoa fraqueza."
A vegetação sacudia, mais sombras visíveis.
Seis novos vermes.
Três ácidos.
Klaus flexionou os joelhos, preparando-se para outro ataque, apesar do cansaço que pesava sobre seus ossos como chumbo. Seus olhos faiscavam com determinação, recusando-se a ceder.
Então, um rugido grave, diferente do arrastar viscoso dos vermes, cortou o ar.
Algo maior se movia na penumbra, partindo as hastes como se fossem frágeis.
Klaus ergueu a marreta, o coração acelerando apesar da exaustão.
— Mais um. Só mais um.
O combate não tinha fim.
E ele, no coração do frenesi, lutava para não ser engolido pela masmorra.