Klaus despertou com uma sensação estranha, uma tensão no ar que parecia diferente de tudo que sentira nos últimos dias. Por um momento, permaneceu imóvel, encarando o céu cinzento da masmorra, tentando decifrar a origem daquele incômodo. Algo estava mudando, e ele sabia disso antes mesmo de entender o que era.
Dessa vez, dedicou mais tempo à organização do acampamento improvisado. Havia limpado tudo com cuidado, dobrado suas roupas endurecidas pelo suor seco e pelo sangue dos monstros, guardado cada item na mochila. Não deixaria nada para trás—o aviso recebido no dia anterior ainda ecoava em sua mente.
O dia começou de maneira lenta. Ele caminhou pela vegetação alta, observando os rastros das batalhas passadas. Não demorou muito até encontrar mais seis criaturas semelhantes às anteriores—vermes lentos, previsíveis, que já não ofereciam qualquer ameaça real para ele. Seus movimentos eram fáceis de ler, suas investidas tão repetitivas que Klaus se sentia quase entediado ao esmagá-los com sua marreta.
Seis monstros. Apenas seis.
O número total de mortes aumentou modestamente. Seus créditos subiram mais sete unidades, um crescimento insignificante comparado ao que conquistara antes. Mas ele não se importava. Aquela não era mais uma luta desesperada por sobrevivência. Era apenas o último ciclo, um desfecho para um capítulo que logo se encerraria.
Foi quando se preparava para explorar mais um pouco que sentiu.
Um puxão súbito.
Uma força invisível arrancando algo dentro de si.
O impacto da energia mágica o atingiu como um choque silencioso, e ele soube instantaneamente—a masmorra havia sido finalizada.
O ar ao redor mudou. O peso da mana corrompida desapareceu como se nunca tivesse estado ali. Klaus olhou ao redor, seus olhos percorrendo a planície agora estranhamente vazia.
Nenhum monstro. Nenhuma presença.
O ambiente parecia morto, quase como uma criatura gigantesca que finalmente exalava seu último suspiro. O campo silencioso não era um alívio—era o fim de algo.
Com rapidez, checou sua bolsa pela última vez. Como esperado, além dos monstros abatidos, havia conseguido apenas mais uma única pedra mágica naquela manhã.
Não era um mau resultado. Ele conquistou muito, mesmo sem variedade de inimigos ou desafios novos.
Aproximadamente trinta e três minutos depois, um segundo puxão veio.
Desta vez, mais forte.
Uma corrente mágica foi fisgada, puxando-o sem resistência para fora do campo de batalha.
Klaus fechou os olhos, e quando os abriu novamente… estava fora.
O campo aberto onde os alunos foram transportados era exatamente o mesmo de onde haviam partido duas semanas antes. A grama alta se movia com o vento brando da manhã, e o cheiro da natureza ali era diferente da masmorra—mais limpo, mais real. Mas havia algo ausente.
O antigo portal—aquela massa de energia vibrante, pulsante, que iluminava o centro do acampamento—havia desaparecido.
Restava apenas o vazio, um espaço silencioso onde antes havia uma passagem para um inferno vivo.
Carruagens estavam organizadas à frente, enfileiradas em meio ao campo. Alguns professores de teoria e prática se posicionavam ali, conversando em voz baixa. Nenhum deles parecia satisfeito—apenas atento à movimentação dos alunos que voltavam.
Klaus olhou em volta.
O aperto no peito veio antes que ele conseguisse evitar.
De cem alunos da divisão Eule que haviam entrado na masmorra… apenas setenta e oito retornaram.
Vinte e dois não sobreviveram.
As perdas haviam sido distribuídas de maneira desigual.
O seu professor de turma Makonnen Dula, os informou assim que saíram e o seu grupo Eule 3 foram reunidos.
— Da turma Eule 1, nenhum aluno morreu.
— Da turma Eule 2, apenas um aluno morreu.
— Da Eule 3, mesmo com minhas advertências, três alunos não retornaram.
Makonnen Dula citou o nome de cada aluno, o que incluía o magricela franzino que sentava ao seu lado nas aulas teóricas. Klaus sentiu um peso incomum ao lembrar-se dele. O garoto falava pouco, mas sempre demonstrava interesse pelas lições. Agora, sua cadeira estaria vazia.
— Da turma Eule 4, cinco alunos haviam sucumbido.
— Já a turma Eule 5, considerada a mais fraca, perdera treze de seus membros.
O peso do silêncio pairava sobre todos como uma sombra.
Ninguém comemorava.
Ninguém falava alto.
O retorno não era uma celebração—era um luto silencioso, uma aceitação amarga da realidade da masmorra.
Sobreviver não era garantido.
E a morte sempre vinha sem aviso.
Klaus segurou firme a marreta ainda presa às costas. Seu corpo havia suportado o pior que a masmorra podia oferecer, e agora, mesmo no campo aberto, a sensação de batalha ainda pulsava dentro dele.
Ele sobreviveu. Mas a que preço?