Capítulo 15 – Parte 3

Os meses que se seguiram ao retorno de Klaus Erich von Hammer da masmorra foram um verdadeiro teste, não apenas para sua habilidade em combate, mas para sua resiliência emocional. Matar 708 criaturas e acumular 792 créditos naquele ambiente cruel da masmorra, fizera seu nome ecoar pelos corredores de pedra da Falkenflug Akademie, despertando curiosidade, respeito e, inevitavelmente, ressentimento entre os alunos das demais Classes, principalmente da Eule, Bär e Adler. Pois das quinze classes, eram as três que mais se destacaram esse ano.

Estes começaram a observar Klaus com mais atenção, medindo seus feitos e tentando decifrar se ele era de fato alguém excepcional ou apenas um afortunado sobrevivente. Mas onde muitos viam um talento promissor, outros enxergavam uma ameaça.

A notoriedade trouxe consigo um fardo inesperado. Erwin Krüger, um dos nomes mais promissores da Classe Bär, tornou-se sua maior sombra dentro da academia. Alto, musculoso e sempre carregando um sorriso afiado, Erwin parecia incapaz de aceitar que um aluno como Klaus, sem conexões nobres e sem uma linhagem prestigiada, havia conquistado tanto. Seu desprezo era evidente e se manifestava todos os dias, nos pequenos gestos de hostilidade, nos comentários provocativos e nas humilhações públicas.

No refeitório lotado, ele zombava da "sorte" de Klaus contra monstros fracos, deixando claro para todos que não considerava seus feitos dignos de reconhecimento. Nos treinos ao ar livre, empurrava-o de propósito, sempre rindo, sempre reforçando sua posição de superioridade. O escárnio era contínuo, e ignorá-lo parecia apenas intensificar a perseguição. Klaus, que havia enfrentado vermes voadores e cuspidores de ácido, sentia-se mais vulnerável diante dessa crueldade humana do que em qualquer batalha que travara na masmorra.

Ainda assim, os desafios não vinham apenas de Erwin. Seu desempenho na masmorra havia lhe garantido uma promoção inesperada—ele foi elevado da Classe Eule 3 para Eule 2. Não era um avanço tão celebrado quanto poderia ter sido, e a transição ocorreu de maneira discreta e quase fria. A Classe Eule 1, lar dos alunos mais seletos, como Lisette von Stragberg, não tinha vagas disponíveis, e seus integrantes permaneciam intocáveis. Mas a Classe Eule 2 havia perdido um estudante, alguém que não retornara da masmorra, e isso abriu espaço para Klaus.

Seu novo ambiente era muito mais competitivo. Os alunos da Eule 2 eram mais técnicos, mais exigentes, e os erros eram menos tolerados. Gretel von Albrecht, sua nova instrutora, possuía uma abordagem muito diferente de Makonnen Dula, algo que levou Klaus a um período de adaptação. Ainda assim, os instrutores de combate continuavam os mesmos, e Annemarie von Drachenfels seguia impiedosa em suas exigências, tornando os treinos ainda mais intensos.

Klaus sentia o peso dos olhares de seus colegas, sempre medindo cada movimento seu, sempre tentando avaliar se sua ascensão era merecida. A pressão crescia e, para corresponder às expectativas, ele se dedicou como nunca antes. Treinou até a exaustão, repetiu cada técnica até seu corpo responder por reflexo, estudou teoria de mana até tarde da noite, explorando cada aspecto da arte do combate. A Classe Eule 2 exigia mais, e Klaus não estava disposto a falhar.

Mas o bullying de Erwin continuava, como uma sombra que o perseguia. Nos momentos de descanso, no meio das aulas, nas interações casuais. A rivalidade não era apenas verbal—havia algo pessoal na forma como Erwin o provocava. Ele não aceitava que Klaus estivesse ali.

Seis meses após sua entrada na Falkenflug, chegou o segundo grande teste.

A primeira etapa era teórica, cobrindo táticas de combate, monstrologia, história, leis do reino e fundamentos de mana. Klaus, movido por determinação e noites sem dormir, enfrentou cada questão com a precisão de alguém que sobrevivera à prática, e não apenas à teoria. Ele não era o aluno mais brilhante da academia, mas seu foco e disciplina o mantiveram entre os melhores.

O teste prático, no entanto, era ainda mais desafiador. Cada aluno precisava demonstrar uma habilidade no ranking C-.

Klaus havia aprimorado o Domínio de Armas Pesadas (Marreta) de maneira absurda nos últimos meses. Seu domínio chegou ao rank C, beirando C+, um avanço que poucos esperavam.

Na arena de treino, sob os olhos atentos dos instrutores, Klaus empunhou a marreta como se fosse uma extensão de seu próprio corpo. Cada golpe ressoava, cada impacto ecoava no campo de treinamento, solidificando sua posição como um guerreiro técnico e implacável.

Ele passou nos dois testes.

Sua performance silenciou críticos.

Firmou sua posição na Classe Eule 2.

Mas mesmo depois do sucesso, Erwin permaneceu à espreita.

O fim dos testes marcou seis meses exaustivos, mas junto com ele veio uma recompensa inesperada—um mês inteiro de férias.

O peso de Erwin ainda pairava, mas Klaus não era mais o novato de antes.

Ele aprendera a resistir, a se adaptar, a crescer.

Ao arrumar suas coisas para voltar a sua casa no subúrbio de Edelheim, capital de Reisenmark, Klaus sentiu uma determinação silenciosa. As férias eram um respiro, mas ele sabia que os desafios da academia só ficariam maiores. Sobreviver, ele descobrira, era apenas o começo.