Capítulo Extra 1 – Parte 2

As memórias que carrego, nítidas como se tivessem acontecido ontem, são tanto um tesouro quanto um peso. Eu, Greta von Hammer, guardo cada palavra, cada silêncio da nossa casa em nos subúrbios de Edelheim, mas nenhuma é tão vívida quanto a noite em que nosso pai enfrentou sua mortalidade.

Ele adoeceu subitamente, acometido por uma doença que nem a ciência existente em Reisenmark, nem a magia conhecida no continente podiam curar. Apenas um milagre de Der Eine.

Um mal silencioso, que consumia seus pulmões e roubava sua força, reduzindo o homem que outrora comandava valentes em batalha com vigor como capitão do exército, a uma figura frágil, confinada a uma cama de madeira rangente.

Em apenas um mês, ele passou de um diagnóstico sombrio a um sopro de vida, sustentado por uma falsa melhora que enganava a todos, menos ele próprio. Eu tinha apenas quatro anos, mas com a minha habilidade de Camuflagem — ranking SS, que descobri instintivamente que tinha e que guardo como um segredo — permitiu-me ouvir o que não deveria.

Escondi-me na penumbra do quarto, minha presença apagada como uma sombra, enquanto meu pai chamava Klaus para uma conversa que marcaria nossas vidas.

O quarto cheirava a ervas medicinais e cera queimada, a luz trêmula de uma vela lançando sombras dançantes nas paredes de pedra. Nosso pai, com a voz rouca e entrecortada, falou com uma clareza que desafiava sua fraqueza:

— Klaus, meu filho, a família von Hammer depende de você. É sua responsabilidade restaurar nossa honra, nosso nome.

Eu, agachada atrás de uma cortina, senti meu coração apertar. Klaus tinha apenas nove anos, as sete estrelas de seu potencial já conhecidas, mas ainda era um menino, com ombros estreitos para carregar tal fardo. Esperei uma resposta cheia de promessas heroicas, como as histórias que ele me contava à noite, mas Klaus, com uma sinceridade que cortava como uma lâmina, respondeu:

— Desculpe, pai. Não posso prometer isso. Não sei se sou forte o bastante para restaurar tudo o que perdemos. Mas juro uma coisa — ele disse. — Enquanto eu viver, protegerei a mamãe e a Greta. Talvez a Greta se torne mais forte que eu. Talvez ela me proteja um dia. Mas até lá, serei eu a protegê-la, para que ela cresça e seja poderosa. Por mais que me entristeça vê-lo partir, pode ir tranquilo, pai. Eu cuidarei delas.

Aquelas palavras ecoaram em mim, gravadas como runas em pedra. Klaus não prometia glória, mas algo mais profundo: amor, dever, sacrifício. Eu sabia, mesmo tão jovem, que ele falava a verdade, porque minha outra habilidade — Presciência, ranking A+ — pulsava justo nesse momento, com vislumbres do futuro.

Vi fragmentos do caminho de Klaus: batalhas na Falkenflug Akademie, monstros caindo sob sua marreta, um coração que nunca vacilava, mesmo sob o peso da inveja alheia, ele voltando a ser um nobre, suas conquistas e como reconstruía o território ancestral do von Hammer em Dunkelhornkette.

Ele cumpriria aquela promessa, não por orgulho, mas porque era quem ele era. Escondi-me ainda mais, as lágrimas silenciosas escorrendo, enquanto nosso pai, com um suspiro aliviado, apertava a mão de Klaus. A cena era um pacto, um momento que definia não só o futuro da nossa família, mas o laço entre mim e meu irmão.

Nunca contei a Klaus o que ouvi.

Guardo minhas habilidades como segredos, não por desconfiança, mas para preservar a promessa que ele fez. Ele sabe das minhas dez estrelas, vê meu talento florescer, mas desconhece as habilidades de Camuflagem e a Presciência. Que eu pretendo não revelar para ninguém nessa vida.

Quero que ele continue sendo meu protetor, minha muralha.

Enquanto Klaus carrega o peso de nos proteger, eu carrego o peso de honrar seu juramento. Minha Presciência me mostra que serei mais poderosa, que talvez um dia o mundo me coloque acima dele. Mas isso não importa.

Ele é meu irmãozão, o menino que, aos nove anos, prometeu me proteger mesmo sabendo que eu poderia superá-lo.

Naquela noite, enquanto nosso pai descansava, aliviado por saber que sua família estaria segura, eu fiz minha própria promessa silenciosa: nunca deixar Klaus duvidar de si mesmo. Ele é a força que me permite sonhar, e eu serei a luz que ele jurou proteger, mesmo que ele nunca saiba de tudo.