Capítulo 16 – Parte 1

Após seis meses intensos na Falkenflug Akademie, onde Klaus finalmente alcançou os critérios de aprovação e viu sua habilidade com a marreta estabilizar-se no Ranking C, ele teve sua primeira chance de retornar para casa.

A viagem de volta, feita em um transporte público lotado que cruzava as estradas poeirentas do interior. Klaus mantinha sua bolsa reforçada próxima ao corpo, sentindo o peso das pedras mágicas que carregava — algo que poderia fazer diferença para sua família. Enquanto encarava a paisagem monocromática das planícies, imaginava os rostos de sua mãe, Eleni, o entusiasmo característico de sua irmã, Greta, e a acolhida calorosa de Marta, a empregada que há tempos se tornara parte da família.

Aquelas pessoas e a casa modesta que ocupavam eram o alicerce de tudo o que ele conhecia antes da academia, tirando seu pai Erich que infelizmente já falecera.

Quando finalmente chegou ao bairro nos subúrbios de Edelheim, um aperto no peito o surpreendeu. As casas apertadas, as ruas de terra batida, o cheiro de lenha queimando—cada detalhe evocava memórias de uma infância dura, mas também de momentos felizes, especialmente os que compartilhava com Greta. A casa da família, cedida pelo Estado devido ao alto potencial de Klaus e Greta, parecia ainda mais modesta diante dos amplos salões da Falkenflug.

Era uma moradia temporária, um lembrete de que não pertenciam verdadeiramente àquele lugar, ou ao menos, um dia poderia ter que sair dali. A possibilidade de realocação pairava como uma nuvem escura, algo que Klaus tentava não pensar, mas que o assombrava nos momentos de silêncio.

O que mais o surpreendeu, no entanto, foi a recepção na comunidade.

Os instrutores de Greta, que ocasionalmente passavam pela casa para acompanhar seu progresso, mal erguiam os olhos quando Klaus cruzava seus caminhos. Os vizinhos, que, assim como ele esperava, ofereciam apenas acenos vagos e frases protocolares.

— Ah, você passou? Parabéns.

A voz de um deles soava distraída, sem qualquer emoção real.

— Bem-vindo de volta. Continue se esforçando.

Outro murmurou rapidamente, sem demonstrar interesse genuíno.

A indiferença era nítida. Klaus sentiu um vazio característico, algo que ele já estava acostumado pois ninguém tinha grandes expectativas dele. Ele havia conquistado sua passagem da Classe 3 para a Classe 2, algo que exigiu meses de esforço e determinação, mas ali, na capital, isso parecia apenas um detalhe trivial.

A exceção, como sempre, foi Greta.

Assim que Klaus abriu a familiar porta de madeira de mogno casa, ela correu em sua direção, os cabelos loiros soltos balançando enquanto pulava em seus braços.

— Irmãozão! Você voltou! Eu sabia que você ia arrasar na Falkenflug! Li todas as suas cartas, sabia? Você passou da Classe 3 pra Classe 2! Conta tudo, como foi?!

O sorriso dela, largo e genuíno, iluminava a sala modesta, dissipando o peso da recepção fria do bairro.

Klaus riu, abraçando-a com força, sentindo o calor familiar que só Greta conseguia trazer. Marta, que observava da cozinha com um pano de prato nas mãos, aproximou-se, os olhos brilhando de carinho.

— Você cresceu, menino! E trouxe orgulho pra essa casa.

A mulher foi rápida em preparar uma refeição especial com os poucos ingredientes que tinham—uma sopa reforçada com ervas e um pão caseiro, cujo aroma preenchia o ambiente com um conforto que nenhuma riqueza poderia comprar.

Eleni, sua mãe, estava sentada à mesa, os cabelos presos em um coque apertado que revelava sua tentativa de manter a compostura. Quando viu Klaus, sorriu, mas havia um peso nos olhos, uma contenção que ele conhecia bem.

A luta para sustentar a família, manter Greta nos estudos e economizar para um futuro melhor a consumia.

— Você fez bem, meu filho. Estou orgulhosa.

A voz dela era suave, mas carregada de emoção contida. Afinal mesmo que o primeiro ano fosse relativamente seguro, ainda assim, alguns colegas de dele morreram. Não tinha como Klaus não entender sua mãe ao ver o olhar dela.

Klaus sentiu o coração apertar.

Ele sabia que Eleni queria mais para eles, mas a realidade da vida em Edelheim era implacável.

Mais tarde, enquanto Marta servia um chá quente, feito com ervas do quintal, Klaus abriu sua bolsa e revelou seu presente.

Com cuidado, despejou mais de duzentas pedras mágicas sobre a mesa, o brilho tênue delas refletindo na luz fraca da lamparina.

— Mãe, esses cristais são para você. Venda pelo melhor preço que conseguir.

Sua voz era firme, mas carregada de esperança.

Eleni arregalou os olhos, as mãos trêmulas tocando as pedras como se fossem um pequeno milagre.

Cada pedra, mesmo as mais simples, valia entre cinco e vinte créditos. No mínimo, representavam mil créditos. Com sorte, poderiam render até quatro mil.

Para uma família que vivenciava dificuldades com duzentos créditos por mês, era uma quantia transformadora.

Klaus sabia que o sonho de Eleni ia além do alívio imediato.

Ela economizava há anos para comprar uma casa própria, algo que os livraria da dependência das moradias estatais.

Em Edelheim, uma casa decente, como essa que eles moravam, custava entre trinta mil e cinquenta mil créditos—um valor astronômico para uma família que, com muito esforço, havia juntado cerca de sete mil créditos.

Ainda assim, ao ver o sorriso grato de Eleni, o entusiasmo brilhante de Greta, que agora segurava uma pedra mágica como se fosse um tesouro, e o olhar esperançoso de Marta, Klaus soube que suas conquistas na academia valiam cada gota de suor.