Os dias de calmaria em Edelheim haviam chegado ao fim, deixando Klaus com uma sensação incômoda de que o tempo de férias fora curto demais. O retorno à Falkenflug Akademie, situada a dois dias de viagem da capital de Reisenmark, não era uma surpresa. Ele já aguardava a avalanche de estudos, os treinos exaustivos, as responsabilidades crescentes que voltariam a consumir seus dias.
Agora, como aluno da Classe 2 de Eule, ele não era mais um simples rosto entre dezenas. Se na Classe 3 ele era apenas mais um, desde sua transferência meses atrás, Klaus tornara-se um nome sussurrado nos corredores abarrotados da academia. Não era apenas o jovem que enfrentara e derrotara centenas de monstros na masmorra azul-clara. Era também aquele que, com uma determinação silenciosa, superara colegas igualmente promissores, conquistando o respeito até mesmo dos instrutores mais rígidos.
Apesar do reconhecimento, Klaus sabia que não brilhava nas provas teóricas. Ele nunca fora um gênio acadêmico, longe disso. Friedrich Baumann, o Bibliotecário, e seu amigo Leonhard eram os únicos que realmente sabiam quanto tempo Klaus passou enfurnado em livros, tentando absorver tudo.
Seus anotações rabiscadas às pressas em pergaminhos gastos refletiam mais esforço do que genialidade. Ainda assim, sua persistência e dedicação o mantinham no meio superior da turma, o que era suficiente para ouvir de alguns professores comentários como:
— Ele ainda pode ir mais longe.
Essas palavras, ditas em tons que variavam entre encorajamento e desafio, ecoavam em sua mente, mas não o definiam. Klaus carregava uma preocupação mais profunda, um peso que ninguém na academia conhecia.
Durante o mês em casa, ver o crescimento de Greta trouxe-lhe um orgulho imenso, mas também acendeu uma faísca de urgência dentro de si. Com apenas dez anos, sua irmã já exibia um potencial que ofuscava o dele.
Com seu talento lendário de dez estrelas, Greta já alcançara duas estrelas reais, enquanto Klaus, prestes a completar dezesseis, ainda lutava para se aproximar desse marco.
Ele não sentia inveja—nunca seria esse tipo de irmão. Para Klaus, ser ultrapassado por Greta era motivo de alegria, um sinal de que ela poderia alcançar alturas inimagináveis.
Mas, no fundo, um desejo ardente pulsava em seu coração.
"Quero ser forte o suficiente para ser o porto seguro dela. Para estar lá quando ela precisar de mim."
Enquanto lidava com esses pensamentos, uma sombra familiar ressurgiu para perturbar sua paz.
Erwin Krüger, o arrogante astro da Classe Bär, conhecido por sua postura imponente e cabelos loiros penteados com precisão, voltou a cruzar seu caminho.
As provocações de Erwin, que já eram um problema na Classe 3, agora ganhavam um tom mais afiado.
De alguma forma—Klaus não fazia ideia de como o boato se espalhara tão rápido—Erwin descobriu o segredo de Greta.
O fato de que sua irmã mais nova era um prodígio de dez estrelas, uma raridade quase mítica, tornara-se assunto quente nos dormitórios e refeitórios da academia.
E com isso veio o veneno disfarçado de sorrisos.
— Vejam só, o grande irmão da gêniazinha.
A voz de Erwin ecoou pelo pátio de treinamento, onde alunos se reuniam após as aulas.
Ele se inclinava contra uma coluna de pedra, o sorriso arrogante exibindo dentes perfeitamente alinhados.
— Deve ser duro, hein, Klaus? Sempre na sombra da sua irmãzinha. Sempre o medíocre da família.
Os risos de alguns colegas ao redor cortavam como lâminas, mas Klaus apenas fechava os punhos, as unhas cravando nas palmas.
Ele aprendera, à custa de muita raiva contida, que reagir às provocações só dava a valentões como Erwin o que eles queriam.
Não era fácil.
Cada palavra de Erwin batia como uma marreta em seu peito, reacendendo dúvidas que ele lutava para silenciar.
Mas Klaus se mantinha firme, não por covardia, mas por um propósito maior.
Ele sabia que seu valor não estava nos troféus que nunca ganhara ou no reconhecimento que raramente recebia.
Seu valor estava nas promessas que fazia a si mesmo:
Proteger Greta.
Apoiar Eleni.
Honrar o sacrifício silencioso de seu pai, Erich.
"Eu não estou na sombra da minha irmã."
O pensamento crescia dentro dele, como um fogo intenso que não podia ser apagado.
"Estou construindo o chão onde ela poderá caminhar sem medo."
Com essa resolução firme no coração, Klaus enfrentava mais um dia na Falkenflug Akademie.
Ele ignorava as zombarias, desviava o olhar dos sorrisos maliciosos de Erwin e focava no que realmente importava:
Os treinos.
As lições.
O próximo passo.
Ele não precisava responder às provocações com palavras ou socos.
O tempo, ele acreditava, mostraria quem ele realmente era.