Capítulo 17 – Parte 2

Os dias na Falkenflug Akademie, situada entre as colinas verdejantes de Reisenmark, eram como chuva constante sobre terra seca para Klaus. Ele se entregava à rotina implacável com uma paixão ardente, apreciando cada momento de exaustão. O cansaço físico dos treinos, o esforço mental nas aulas teóricas e, acima de tudo, as horas perdidas nos corredores empoeirados da biblioteca eram onde ele encontrava paz.

Ali, entre o cheiro de papel velho e tinta seca, Klaus se reunia com Leonhard, seu velho amigo da academia. Leonhard, sempre com o cabelo desalinhado, era um gênio da matemática, cuja capacidade de cálculo já alcançara o impressionante Ranking A. Ele compartilhava com Klaus um entusiasmo silencioso, uma dedicação que não buscava aplausos, mas resultados.

Enquanto outros alunos sonhavam com glória rápida nos campos de batalha, eles construíam suas fortalezas, tijolo por tijolo, entre páginas amareladas e golpes de aço.

Nos últimos meses, porém, algo inesperado começara a colorir a rotina de Klaus.

Lisette von Stragberg, com seus olhos castanho-claros atentos, sua estatura elevada e postura reservada, iniciara uma aproximação sutil.

Não eram conversas longas ou gestos chamativos de amizade, mas pequenas trocas:

Uma pergunta sobre sua postura com a marreta. As vezes algum comentário sobre a técnica de equilíbrio. Em outras, um leve aceno ao cruzarem caminhos no refeitório.

Era no pátio de treinamento, sob o sol escaldante ou a chuva fina, que ela começava a se destacar.

Os dias na academia não davam trégua.

As manhãs eram tomadas por aulas teóricas, onde Klaus lutava para acompanhar cálculos complexos de trajetórias mágicas e as histórias densas da formação de Reisenmark, rabiscando pergaminhos gastos que já começavam a rasgar nas bordas.

A professora Gretel von Albrecht era ainda mais implacável que Makonnen Dula, seu antigo instrutor na Classe Eule 3. O quadro vivia cheio de matéria para copiar.

As tardes eram dedicadas aos treinos práticos, com o clangor de armas ecoando e o suor escorrendo pelo rosto dos alunos. As noites, quando não estava na biblioteca com Leonhard, Klaus praticava sozinho no pátio externo, sob a luz prateada da lua, aprimorando sua habilidade com a marreta.

Seu Domínio de Armas Pesadas estava cada vez mais refinado, e ele sentia, com uma certeza instintiva, que logo alcançaria o Ranking C+. Por enquanto, mantinha-se no sólido C, um progresso que devia muito à insistência implacável da professora Annemarie von Drachenfels.

Annemarie, com seus cabelos presos em um rabo de cavalo e olhos que pareciam atravessar a alma, não dava trégua.

— Se você é bom com a marreta, então tem que ser no mínimo aceitável com armas correlacionadas.

O tom carregado de sarcasmo e desafio veio enquanto ela apontava para uma prateleira de armas no arsenal da academia.

Foi assim que Klaus foi forçado a treinar com machados e maças, armas que exigiam força bruta e controle preciso, qualidades que se alinhavam ao seu estilo de luta.

Seu Domínio de Armas de Impacto, no entanto, alcançara apenas E+, um progresso lento e frustrante, mas que ele aceitava como parte do processo.

Pior ainda era o treinamento com escudos, imposto por Annemarie com um sorriso quase cruel.

O Domínio de Escudo de Klaus era um deplorável G+, e cada sessão era uma batalha contra sua própria inaptidão.

Segurar o escudo de madeira reforçada já era desconfortável. Tentar se mover, bloquear golpes e contra-atacar ao mesmo tempo parecia uma piada de mau gosto.

Ele tropeçava, o peso do escudo desequilibrava seus movimentos, e os risos abafados dos colegas só pioravam sua frustração.

Ainda assim, Klaus persistia.

Ele sabia que seu caminho não era pavimentado pelo talento natural, como o de Greta, mas pela determinação incansável.

Seus dias eram uma dança exaustiva de sangue, suor e pergaminhos, uma rotina que testava cada fibra de seu corpo e mente.

No fundo, a chama que o movia não era apenas o desejo de acompanhar o brilho da irmã.

Era a vontade de se tornar alguém de quem ela pudesse se orgulhar, alguém que pudesse protegê-la quando o mundo se tornasse cruel.

Com esse propósito ardendo no peito, Klaus enfrentava cada treino, cada aula, cada noite de estudo, sabendo que cada passo, por menor que fosse, o aproximava de ser o porto seguro que Greta merecia.