O dia da nova incursão na masmorra finalmente havia chegado, trazendo com ele a tensão que pairava sobre a Falkenflug Akademie.
Diferente da primeira experiência de Klaus, o portal à sua frente não era o azul-claro geralmente destinado a iniciantes, mas um verde-musgo vibrante, com tons que pareciam ondular como um lago sob a luz do crepúsculo.
Na escala de dificuldade das masmorras, o verde indicava um salto significativo: criaturas com maior densidade de mana, ambientes mais hostis e armadilhas imprevisíveis que testariam até os alunos mais preparados.
Klaus, apesar do turbilhão interno que sempre o acompanhava, exibia uma serenidade aparente. Externamente, seu rosto era uma máscara de calma, mas por dentro, as dúvidas e a pressão fervilhavam.
Ele havia se dedicado incansavelmente aos estudos, como de costume, passando noites em claro na biblioteca, com velas tremulando e pergaminhos espalhados. Ainda assim, no recente exame teórico, seu resultado foi, na melhor das hipóteses, medíocre: nono lugar entre os vinte alunos da Classe Eule 2.
Não era o pior, mas estava longe de ser um destaque.
Ele suspirou, o peso do resultado ainda fresco na memória.
— Tanto estudo, tantas noites na biblioteca, e mesmo assim... — pensava, enquanto caminhava pelo terreno rochoso que levava ao portal.
Klaus conhecia suas limitações. Ele não tinha a mente brilhante de Greta, sua irmã prodígio, que, mesmo aos dez anos, memorizava fórmulas arcanas e textos complexos com a facilidade de quem respira.
Lembrava-se dela ainda bebê, balbuciando enquanto apontava para runas em livros infantis, como se já entendesse seu significado. A lembrança o fazia sorrir, mas também acendia uma faísca de determinação.
Os livros agora eram passado. A masmorra era o presente. E ele estava pronto para enfrentá-la.
Desta vez, tudo era diferente.
O responsável pela incursão era um professor novo, um homem tão comum que Klaus mal conseguia fixar seus traços na mente. Nem alto, nem baixo; nem magro, nem robusto; com um rosto que parecia desvanecer assim que se desviava o olhar, como um desenho apagado pela chuva.
Entre os veteranos, corria um rumor de que não era apenas falta de carisma, mas uma habilidade rara chamada “Presença Ofuscada”, perfeita para monitorar discretamente uma masmorra com quatrocentos e três alunos. Sim, quatrocentos e três — um número impressionante.
Nesta nova etapa, seriam três expedições a portais verdes diferentes. O portal designado a Klaus reunia as cinco principais classes da academia.
Cada classe carregava um espírito único: Eule, a classe de Klaus, conhecida por sua estratégia e equilíbrio entre magia e combate; Bär, focada em força bruta e ataques frontais; Fuchs, especializada em furtividade e velocidade; Wolf, com seu trabalho em equipe e resistência; e Falke, voltada para magia de longo alcance e suporte aéreo.
O ambiente era carregado de tensão. Não havia mais a leveza de uma excursão escolar.
Os quatrocentos e três alunos reunidos diante do portal verde, que pulsava com uma energia quase viva, formavam um mosaico de rostos: alguns confiantes, outros visivelmente nervosos, com mãos trêmulas segurando armas ou varinhas.
A orientação havia sido clara e incisiva: formem grupos de três ou quatro assim que entrarem, pois, ao contrário da incursão anterior, os alunos seriam separados automaticamente dentro da masmorra.
Um único professor supervisionaria tudo, deixando cada um à mercê da sorte — ou do azar.
— É mais sério agora — pensou Klaus, observando os rostos ao redor.
Reconhecia alguns da Classe Eule, como o garoto franzino de olhos claros que sempre carregava um caderno de anotações, e a garota ruiva de expressão fechada, cujas lâminas duplas brilhavam ao sol.
Outros, das turmas Fuchs e Falke, eram completos desconhecidos, com posturas que variavam entre arrogância e medo.
Klaus se aproximou do garoto franzino e da garota ruiva, que discutiam estratégias de formação em voz baixa, quando ouviu seu nome.
— Klaus.
A voz era firme, mas não áspera. Ele se virou e viu Lisette von Stragberg, sua postura impecável como sempre, os cabelos castanhos presos em uma trança prática, os olhos castanho-claros avaliando-o com uma seriedade que não era fria.
Ela se aproximou com a naturalidade de quem já tomara uma decisão.
— Você vai entrar comigo — disse, não como uma pergunta, mas como uma constatação.
Klaus respondeu com um meio sorriso, sentindo um leve alívio.
— É uma boa ideia. Dois a mais e o grupo está feito.
Lisette olhou ao redor, seu olhar perspicaz analisando a multidão.
— Tem alguém em quem confia?
— Talvez o Leonhard — respondeu Klaus, pensando no amigo que dividia suas noites de estudo. — Ele é mais teórico, mas se trouxermos alguém forte da Bär, podemos equilibrar.
Assim, começaram a planejar, sabendo que a masmorra poderia separá-los no momento em que cruzassem o portal.
Se tivessem sorte, seriam alocados próximos; se o azar prevalecesse, talvez nem se vissem até o fim da missão.
O portal verde pulsava à frente, sua luz ondulante refletindo nas armaduras e armas dos alunos, como um coração vivo pronto para engolir os corajosos — ou tolos — que ousassem atravessá-lo.