Capítulo 19 – Parte 1

O calor da conversa entre os cinco integrantes do grupo ainda aquecia o ar, um momento de camaradagem que contrastava com a iminente aventura.

Klaus, Leonhard, Lisette, Branik e Emilia, reunidos num canto isolado do pátio interno da Falkenflug Akademie, faziam os últimos ajustes em suas bolsas de couro reforçado.

Eles verificavam cordas, frascos de poções, lâminas de reserva e os Fragmentos de Ancoragem, os cristais azuis brilhando suavemente, enquanto eram distribuídos, cada um amarrado com cuidado em pulsos ou pendurado em correntes.

Havia algo quase reconfortante naquele ritual cuidadoso.

O murmúrio distante de outros alunos ecoava pelos corredores de pedra da academia, misturando-se ao aroma de pergaminhos antigos e mana residual que impregnava o ambiente.

A luz do sol, filtrada pelas altas janelas ogivais, banhava o chão em tons dourados, criando a ilusão de uma manhã comum, como se a incursão na masmorra fosse apenas mais uma aula prática.

Klaus ajustava a marreta nas costas, o peso familiar do ferro ancorado por alças gastas, enquanto trocava ideias com Branik sobre táticas defensivas.

Branik, com seu escudo de carvalho preso ao ombro, sugeria formações para proteger o grupo contra emboscadas inesperadas.

A poucos passos, Leonhard, com seus óculos tortos e o cabelo desalinhado, examinava um mapa encantado da região onde o portal fora detectado, suas bordas brilhando com runas.

Ele resmungava sobre a inutilidade do mapa, já que a masmorra criaria um ambiente imprevisível, mas não resistia à tentação de traçar linhas imaginárias com o dedo.

Lisette, sempre alerta, polia a lâmina de sua espada curta, os olhos castanhos varrendo o entorno, enquanto Emilia testava a flexibilidade de sua túnica, garantindo que as runas protetoras estavam intactas.

De repente, uma buzina mágica ressoou pelos corredores, seu som grave reverberando nas pedras e silenciando as conversas.

Era o sinal tão aguardado, carregado de um peso que fez Klaus endireitar a postura.

O chamado para a masmorra.

Sem demora, a multidão de quatrocentos e três alunos convergiu para o pátio principal, onde círculos de teleporte, gravados com runas intricadas, brilhavam sob o sol.

Instrutores com mantos escuros orientavam os estudantes a formar fileiras, suas vozes cortantes acima do burburinho.

No centro, quase invisível em sua banalidade, o professor de rosto esquecível supervisionava.

Sua presença era tão sutil que Klaus precisava se esforçar para notá-lo.

Pisando no círculo de teleporte com seus companheiros, Klaus sentiu a mana densa envolver seu corpo.

A pressão era familiar, mas sempre desconfortável, como se fosse espremido por mãos invisíveis.

Num piscar de olhos, o mundo se desfez.

A areia fustigou seus olhos, o ar seco queimando a garganta.

Klaus e seus companheiros surgiram numa vasta planície desértica, onde o horizonte tremeluzia como uma miragem dourada sob o calor opressivo.

O sol, alto e impiedoso, tornava o ar quase sólido, cada respiração um esforço.

Nenhum som além do uivo baixo do vento, carregando grãos de areia que dançavam sobre as dunas.

À frente, numa clareira de areia compactada, erguia-se o portal:

Uma massa cintilante de energia verde-musgo, tão densa que distorcia a luz ao seu redor, como um espelho líquido pulsando com vida própria.

Professores auxiliares, com varinhas erguidas, e oficiais da academia, identificados por insígnias prateadas, organizavam a área.

Pequenos grupos de alunos ainda chegavam, materializando-se em clarões de teleporte, suas expressões variando entre determinação e nervosismo.

Klaus observou o entorno, o calor fazendo o suor escorrer por sua testa.

O portal, embora estável, não poderia ser mantido aberto indefinidamente—os instrutores haviam alertado sobre os riscos de colapso mágico.

Um chamado cortou o ar:

— Grupos, preparem-se! Entrada liberada em cinco minutos!

Klaus apertou os punhos, o couro das luvas rangendo, e verificou o Fragmento de Ancoragem amarrado ao pulso, o cristal emitindo um leve zumbido contra sua pele.

Seus companheiros fizeram o mesmo:

Lisette, com um aceno rápido.

Leonhard, murmurando cálculos ansiosos.

Branik, batendo no escudo como um ritual.

Emilia, ajustando a corrente no pescoço, os olhos atentos ao portal.

Menos de meia hora após chegarem, a ordem final ecoou, firme e inegociável:

— ENTREM!

Um a um, ou em pequenos grupos, os alunos avançaram, engolidos pelo portal.

Quando chegou sua vez, Klaus sentiu a garganta secar, o coração acelerando.

Ele trocou um último olhar com seus companheiros:

Os olhos confiantes de Lisette. O sorriso tenso de Leonhard. A postura firme de Branik. O aceno descontraído de Emilia.

Respirando fundo, ele deu o passo final.

O vórtice de mana o envolveu, uma onda de energia que apagou o mundo.

Tudo sumiu—o deserto, o calor, os sons.

Tudo mudou.