Capítulo 19 – Parte 2

A ligação mágica do Fragmento de Ancoragem pulsava em seu pulso, guiando Klaus como uma bússola invisível.

Diferente da primeira masmorra, onde enfrentara o desconhecido sozinho, agora ele tinha companheiros—e a certeza de que não estava isolado dava-lhe um foco renovado.

Os pontos de conexão, vibrando com a energia dos cristais, não estavam fixos.

Eles se moviam, indicando que Lisette, Leonhard, Branik e Emilia também buscavam se reunir.

A força da ligação mágica apontava para um ponto central, provavelmente onde Leonhard estava, já que seus dois fragmentos amplificavam o sinal.

Klaus desceu os terrenos acidentados da ilha, os pés afundando na areia fofa, misturada a tufos de vegetação seca, que estalavam sob suas botas.

A marreta, firme em suas mãos calejadas, balançava com cada passo, enquanto seus sentidos, afiados por meses de treino na Falkenflug Akademie, permaneciam em alerta máximo.

De repente, seu sexto sentido—ainda preso ao ranking F-, mas cada vez mais confiável—disparou como um sino de alarme.

Sem hesitar, Klaus girou a marreta num arco instintivo, golpeando o ar.

Um borrão avermelhado cortava em sua direção, rápido como uma flecha.

O impacto foi preciso.

A marreta atingiu o corpo escamoso de uma salamandra de fogo, maior que a anterior, com veios incandescentes pulsando como brasas em sua pele.

A criatura caiu com um baque seco na areia, levantando uma nuvem de poeira.

Mas não ficou caída por muito tempo.

Com uma agilidade surpreendente, ergueu-se, as mandíbulas escancaradas, exalando vapor quente, que distorcia o ar ao redor.

Seus olhos, como contas de ônix, fixaram-se em Klaus com fúria.

Ele reagiu rápido, girando a marreta num movimento ascendente, acertando a barriga exposta da salamandra, no meio de seu salto.

O impacto, reforçado por sua força bruta, foi devastador—a criatura foi lançada ao ar, o som de escamas rachando ecoando na clareira.

Antes que ela tocasse o chão, Klaus girou sobre o próprio eixo, o corpo movido por reflexos afiados, e desferiu um golpe lateral, com toda a potência de seus ombros.

A salamandra voou metros, colidindo contra uma rocha, com um estalo úmido.

Ainda se contorcia, a respiração fraca, as garras arranhando a areia.

Sem dar chance, Klaus correu até ela e, com um golpe final, esmagou seu crânio, o som seco reverberando pela planície desolada, misturando-se ao rugido distante do mar.

Ofegante, o suor escorrendo pela testa e pingando na areia quente, Klaus avaliou a situação.

O calor úmido da ilha, carregado de maresia e do cheiro acre de vegetação queimada, pesava nos pulmões.

Não valia a pena perder tempo extraindo o couro, um processo demorado, que o deixaria vulnerável.

Com eficiência treinada, ele se agachou e vasculhou o cadáver, a faca de caça cortando a carne escamosa, em busca de uma pedra mágica.

Nada.

Frustrado, limpou a lâmina na perna da calça e se levantou.

Ficar parado era arriscado—a última masmorra ensinara que predadores eram atraídos por movimento lento ou sangue fresco.

Seus companheiros dependiam dele.

Leonhard, com sua constituição franzina e habilidades mágicas teóricas, seria presa fácil para uma criatura como aquela.

Emilia, apesar de sua magia de suporte, carecia de força física para enfrentar um ataque direto.

— Preciso encontrá-los logo.

Pensou Klaus, apertando o cabo da marreta, os nós dos dedos embranquecendo.

Ele acelerou o passo, descendo uma encosta íngreme, onde raízes expostas se entrelaçavam com pedras vulcânicas.

O terreno traiçoeiro exigia cuidado, mas a urgência o impulsionava.

O Fragmento de Ancoragem vibrava com mais intensidade, a conexão com Leonhard agora um puxão quase físico, guiando-o para o nordeste, onde a floresta tropical se adensava, suas copas bloqueando o sol, lançando sombras esverdeadas.

O ambiente da masmorra intensificava a tensão.

O calor pegajoso grudava a camisa ao corpo, e o zumbido de insetos invisíveis misturava-se ao canto esporádico de aves exóticas.

Cada passo era um cálculo:

Evitar galhos secos, que denunciassem sua posição.

Manter a marreta pronta, para reagir a qualquer ameaça.

Escutar o menor sinal de perigo, sem deixar o foco vacilar.

A memória dos treinos exaustivos na academia—horas brandindo a arma até os braços tremerem, noites estudando padrões de monstros—sustentava sua determinação.

Klaus sabia que cada segundo era crucial.

Com a marreta erguida e o coração disparado, ele avançava, movido pela certeza de que seus companheiros estavam tão desesperados para se reunir quanto ele.