Capítulo 20 – Parte 1

O combate era uma dança frenética de instinto e exaustão, cada movimento carregado de desespero e determinação.

Desde que Klaus se lançara na batalha ao lado de Branik e Leonhard, a situação havia estabilizado, mas apenas o suficiente para evitar uma derrota imediata.

A salamandra diante deles, uma fera colossal comparada às anteriores, movia-se com uma inteligência predatória, que gelava o sangue.

Seu corpo robusto, coberto por escamas rubras, reluzia como lava solidificada, sob a luz tremeluzente da masmorra.

A cauda longa e espinhosa, chicoteava o ar com precisão mortal, deixando sulcos profundos na areia rochosa da clareira.

Klaus girou a marreta num arco amplo, mirando a lateral da criatura.

O impacto ressoou como um trovão abafado, o ferro colidindo contra as escamas, com um estalo que reverberou em seus braços.

A salamandra cambaleou um único passo, mas seus olhos de ônix, brilhando com fúria, não demonstraram dor.

Klaus mal teve tempo de recuar antes que a fera se voltasse para ele, as mandíbulas escancaradas, exalando uma baforada de calor, que distorceu o ar, carregada com o cheiro acre de enxofre.

Atento, Branik, avançou com o escudo de carvalho reforçado erguido, interceptando uma investida brutal da criatura.

O impacto fez o escudo gemer, e os pés de Branik deslizaram na areia, deixando rastros profundos.

Grunhindo de esforço, ele empurrou a salamandra para trás, os músculos dos braços tremendo sob a pressão.

— Não abaixe o escudo!

Gritou Klaus, a voz rouca, mais um apelo instintivo do que uma ordem.

À esquerda, Leonhard permanecia focado, os olhos semicerrados sob os óculos tortos, o rosto pálido de tensão.

Uma esfera de mana azulada formou-se em sua palma, pulsando com energia instável, e foi lançada como um projétil contra a lateral da salamandra.

O impacto liberou faíscas, que iluminaram a clareira, mas as escamas absorveram o golpe, e a criatura apenas rosnou, irritada.

Klaus sentiu o peito apertar.

Uma salamandra comum já teria sucumbido, mas essa... era uma classe Elite.

Um monstro cuja resistência desafiava tudo o que aprenderam na Falkenflug Akademie.

Klaus contornou a fera, aproveitando que Branik a mantinha ocupada.

Ergueu a marreta e golpeou a perna traseira com toda a força, o impacto reverberando até seus ombros.

O som foi seco, como bater em granito.

Nada.

A salamandra virou-se, a cauda varrendo o ar, numa tentativa de esmagá-lo.

Klaus saltou para trás, a ponta espinhosa passando a centímetros de seu rosto, o vento do golpe bagunçando seus cabelos úmidos de suor.

— Que droga...

Murmurou, os dentes cerrados, o coração disparado.

O padrão se repetia, implacável.

Klaus atacava pelos flancos. Leonhard lançava magias à distância. Branik resistia heroicamente na frente.

Cada tentativa exigia mais esforço, cada golpe parecia menos eficaz.

Klaus já havia acertado a criatura mais de vinte vezes—pernas, torso, até um golpe arriscado na cabeça—mas ela lutava como se estivesse apenas se aquecendo, seus movimentos cada vez mais precisos.

O suor escorria pela testa de Klaus, misturando-se à poeira que grudava em sua pele.

Seus músculos ardiam a cada balanço da marreta, e cada respiração era um esforço para ignorar o cansaço que pesava como chumbo.

Apesar de sua postura firme, Branik, mostrava sinais de fadiga.

Klaus notava os tremores sutis em seus braços, o leve atraso na recuperação do escudo após cada investida, a respiração ofegante que ele tentava disfarçar.

Por sua vez, Leonhard, mudava de posição constantemente, mantendo-se fora do alcance da fera.

Suas magias variavam—esferas de luz, feixes cortantes, pequenas explosões de mana—truques que teriam destruído inimigos menores, mas que, contra essa salamandra, eram meros arranhões.

— Ela é dura demais!

Gritou Leonhard, desviando de uma rocha, que a criatura arrancara do chão com a cauda e arremessara em sua direção, a pedra espatifando-se contra uma árvore.

— Então vamos ser mais duros!

Retrucou Klaus, avançando novamente, a marreta erguida.

Seu sexto sentido vibrava incessantemente, um zumbido mental que o salvava a cada ataque.

Era por causa dele que Klaus antecipava as investidas, esquivava-se no último segundo e encontrava brechas para contra-atacar.

Ainda assim, a salamandra parecia invencível, suas escamas um escudo natural, que desafiava até os golpes mais fortes.

Por um instante, enquanto recuava de outra caudada, que fez o ar sibilar, Klaus foi assolado por uma dúvida fria.

Ajustou o cabo da marreta, o couro úmido sob seus dedos, e preparou-se para mais um golpe.

A luta estava longe de terminar.