Capítulo 20 – Parte 3

O peso da batalha ainda pairava no ar, denso como o calor úmido da ilha.

Klaus deixou-se cair sobre uma pedra plana, o corpo exausto protestando a cada movimento.

A marreta, fiel companheira na luta, repousava ao seu lado, o ferro manchado com o sangue seco da salamandra.

Os ombros doloridos exigiam um alívio imediato, e ele massageou a tensão acumulada, sentindo os músculos rígidos sob a camisa rasgada.

O vento quente soprou suavemente, carregando o cheiro salgado do mar, misturado ao odor metálico da criatura caída, enquanto o grupo saboreava a trégua rara.

Um gemido baixo quebrou o silêncio.

Ainda agarrado ao escudo de carvalho, Branik, desabou de costas na areia, resmungando algo sobre seus músculos entrarem em greve.

Leonhard jogou-se para trás, os braços abertos, encarando o céu tingido de laranja pela luz filtrada da masmorra.

— Isso foi... mais difícil do que eu imaginava.

Disse, a voz arrastada pela fadiga.

— Duro demais.

Murmurou Branik, o escudo caindo de lado, com um baque surdo.

— Achei que minha marreta ia rachar de tanto bater.

Klaus respondeu, lançando um olhar cansado para a arma, como se ela tivesse sofrido tanto quanto ele.

A calmaria envolveu o grupo, interrompida apenas pelos sons das respirações pesadas e pelo farfalhar da vegetação ao redor.

A poeira fina flutuava sobre a areia, suspensa pelo calor, enquanto a brisa carregava fragmentos da batalha, como uma lembrança persistente da luta intensa que acabara de acontecer.

O silêncio carregado de alívio se instalava, trazendo uma sensação de vitória misturada à exaustão.

O descanso era merecido, mas a certeza de que a masmorra não os pouparia por muito tempo permanecia como uma sombra sobre todos.

A respiração ainda descompassada, Klaus moveu-se devagar, percebendo a presença discreta de Emília a poucos passos.

Ela apoiava o bastão mágico no chão, os olhos fixos no cadáver da salamandra, enquanto ajustava a corrente do Fragmento de Ancoragem ao redor do pescoço.

A expressão pensativa, como se calculasse o custo da magia usada para reforçar o grupo, revelou a exaustão que ela tentava esconder.

— Quase esgotei minha mana.

Murmurou baixo, o suficiente para que apenas Klaus ouvisse, antes de esfregar as têmporas com uma careta discreta.

O impacto do suporte de sua magia não foi pequeno, e Klaus sentia a gratidão pulsar sob a fadiga que dominava seu corpo.

— Sem isso, acho que a gente teria caído antes da criatura.

Disse, sem levantar a voz, mas sabendo que ela entenderia a sinceridade por trás das palavras.

Passos leves cortaram a calmaria.

O corpo ainda sem forças para se erguer de imediato, Klaus virou o rosto, reconhecendo a figura que emergia das sombras das palmeiras.

Lisette von Stragberg surgiu, caminhando com sua elegância característica, o uniforme de combate levemente empoeirado, mas impecável, como se tivesse enfrentado um treino leve, em vez de uma batalha feroz na masmorra.

— Desculpem a demora.

Disse ela, a voz calma e contida, como se atrasos fossem algo trivial.

— Demorou, mas está tudo bem.

Klaus respondeu, forçando um sorriso, o peito ainda arfando.

— Um pequeno contratempo.

Explicou, limpando as luvas de couro com gestos precisos.

— Encontrei uma criatura no caminho. Na verdade, duas.

Arqueando as sobrancelhas, Leonhard com seu cabelo bagunçado.

— Duas?

Branik levantou a cabeça, a expressão franzida de desconfiança.

— Que tipo de criatura?

A pergunta veio carregada de suspeita, como se soubesse que a resposta não seria simples.

O vento soprou, e Lisette não hesitou.

Com a naturalidade de quem comentava o clima, ela apontou para o corpo da salamandra morta ao lado do grupo.

— Iguais a essa.

O silêncio que se seguiu era quase palpável, quebrado apenas pelo som distante das ondas.

Klaus ergueu os olhos, percebendo a incredulidade estampada no rosto de cada um ao seu redor.

Haviam suado sangue para derrotar uma única salamandra classe Elite.

E Lisette, sozinha, enfrentara duas?

Leonhard ergueu a mão, como se pedisse uma pausa no tempo.

— Você derrotou duas dessas? Sozinha?

O tom soava mais como um desafio do que uma pergunta.

Klaus sentia a mesma incredulidade, mas esperou.

O brilho suave de mana rompeu o chão quando Lisette ativou o anel de inventário.

Dois corpos de salamandras de fogo materializaram-se, caindo com um baque pesado, tão imponentes quanto a que o grupo havia derrubado.

O cheiro de enxofre voltou a impregnar o ar, e o impacto visual foi imediato.

Branik sentou-se de um pulo, o escudo esquecido ao lado. Leonhard soltou um palavrão abafado, os óculos quase caindo. Emília arregalou os olhos, a mão cobrindo a boca, enquanto Klaus balançava a cabeça, um sorriso torto se formando.

— É... parece que estamos com uma campeã no time.

Murmurou, a voz carregada de ironia e admiração.

O grupo riu, um riso rouco, misturado de exaustão e respeito genuíno.

A presença de Lisette, tão calma e letal, reacendia no grupo uma certeza tácita:

Com ela, tinham uma chance real de sobreviver à masmorra.

Por ora, restava descansar alguns minutos, agradecer por estarem vivos, e se preparar para o que ainda viria.