Capítulo 22 - Parte 1

Após dois dias de caça implacável, as previsões de Leonhard começaram a se confirmar.

— Não vão aparecer muitas mais por aqui — disse ele, folheando um caderno amassado cheio de anotações rabiscadas. — Ficar significa perder tempo.

A fogueira crepitava baixo, projetando sombras nos rostos do grupo. Klaus, Lisette, Branik e Emília, reunidos em torno do fogo, hesitavam em abandonar a clareira que se tornara um refúgio temporário. Em dois dias, haviam derrotado mais de sessenta salamandras de fogo — comuns e elites —, um feito impressionante, mas exaustivo. Cada combate deixava marcas: arranhões, roupas rasgadas, músculos doloridos e a fadiga que se acumulava como poeira nos ossos.

A relutância cedeu à lógica. Desmontaram o acampamento com eficiência. Mochilas foram ajustadas, cordas amarradas, e Lisette, usando seu anel de inventário, armazenou a maior parte dos couros e pedras mágicas coletados. Branik inspecionava o escudo de carvalho, verificando rachaduras invisíveis, enquanto Emília limpava o local aonde estiveram nos últimos dias. Leonhard, absorto em cálculos, seguia atrás, resmungando sobre padrões de distribuição de mana.

O destino era claro: a montanha que se erguia ao longe.

A trilha os levou por uma floresta tropical densa, o ar pesado com umidade e o cheiro de terra úmida. Folhas largas farfalhavam sob o vento quente, e galhos estalavam sob as botas. Mesmo sem o sol presente no céu azul eterno da masmorra, o calor era opressivo, grudando as camisas à pele.

Aos poucos, a floresta mudou. Árvores tornaram-se esparsas, seus troncos retorcidos como garras. Arbustos ressecados deram lugar a rochas cinzentas, espalhadas pelo terreno como destroços de uma batalha antiga. O verde vibrante foi substituído por um cinza árido, e o caminho ficou traiçoeiro, pontuado por buracos escuros no solo — aberturas largas o suficiente para uma salamandra passar.

— Isso não é bom — murmurou Branik, batendo o escudo contra uma rocha próxima, o som ecoando na paisagem desolada. — Essas pedras e buracos são perfeitos para emboscadas.

Klaus assentiu, os olhos varrendo o terreno. Seu sexto sentido, agora no nível E+ após os combates intensos, vibrava intermitentemente, um zumbido sutil que o mantinha alerta. A sensação de ser observado era constante, como se a própria masmorra os estudasse. A marreta pesava em suas mãos, pronta para o próximo confronto.

Os perigos não demoraram a aparecer. Ao se aproximarem da base da montanha, a equipe se viu imersa em um combate quase constante contra salamandras elites. O que antes era um encontro raro agora era rotina, com as criaturas emergindo implacavelmente de fendas rochosas e sombras entre as pedras.

Maiores que as salamandras comuns, elas exibiam placas endurecidas que brilhavam como brasas e seus ataques eram vorazes, com mandíbulas escancaradas exalando um vapor quente e sufocante.

No entanto, o grupo havia evoluído, depois de tantos combates juntos. Lisette liderava o ataque com precisão mortal, suas duas espadas curtas encantadas com gelo cortando simultaneamente as juntas e pontos fracos das feras. Klaus e Branik protegiam os flancos com maestria: Klaus desferia golpes brutais com sua marreta, enquanto Branik bloqueava as investidas das salamandras com seu escudo robusto. Emília reforçava a equipe com auras de velocidade e resistência, mantendo a moral e a eficácia do grupo elevadas. Por fim, Leonhard lançava feitiços de contenção decisivos, seus feixes de mana mirando estrategicamente os olhos ou as caudas das criaturas, incapacitando-as e abrindo caminho para a vitória. A sinergia e a letalidade do grupo estavam em um nível extremamente elevado.

Se antes um ataque de um grupo de salamandra elite, com três ou mais delas, antes era quase intransponível, agora, com estratégia e coordenação, o grupo as enfrentava com eficiência, embora cada luta fosse um teste de resistência.

Com o passar do tempo e o avanço continuo, mesmo que lento, a montanha crescia à frente deles, sua silhueta rochosa mais nítida, mais imponente. Entretanto uma sensação inquietante crescia. Klaus sentia que estavam sendo atraídos para algo. Ele não sabia o que era, mas a sensação ruim não diminuía.

“Talvez seja uma área mais perigosa, só isso” – Pensou.

Passo a passo, eles seguiam em frente com cuidado. A masmorra testava não só suas forças, mas suas mentes, e mesmo assim, eles continuavam avançando.