Capítulo 5 – Cartas Sem Assinatura

Na manhã seguinte, Florencia encontrou algo estranho preso no portão da casa. Era um envelope branco, sem remetente, dobrado com cuidado demais pra ser casual.

Ela olhou pros lados antes de pegar.

Dentro, um bilhete:

“Rosas não florescem no lixo. Volte pro esgoto de onde saiu.”

Não havia assinatura. Mas o cheiro do papel era doce, enjoativo. Quase como um perfume caro.

Flor arregalou os olhos, com a respiração presa no peito. O papel tremia nas mãos dela. Por um segundo, pensou em rasgar e esquecer — mas não conseguiu. O bilhete queimava como fogo escondido.

Guardou no bolso e entrou.

No fundo, ela já sabia. Aquilo tinha nome. E o nome era Verónica Montenegro.

Mas não ia se intimidar.

Mais tarde, no campo onde ela ajudava a colher tomates, uma sombra parou ao lado dela.

— “Flor.”

Ela se virou, e o coração deu um salto. Leonardo estava ali de novo, suado, com a camisa levemente aberta e a cara de quem não sabia se devia estar ali.

— “Tá me seguindo?”, ela falou, tentando parecer firme.

— “Não. Só... passei por aqui. Quis ver você.”

— “Pois tá vendo.”

— “Você tá bem?”

Ela olhou pra ele com raiva, mas também com um nó na garganta. Queria contar do bilhete. Mas não queria parecer fraca.

— “Tô. Melhor que muito rico de alma podre.”

Leonardo suspirou, e pela primeira vez, pareceu mais cansado que arrogante.

— “Eu não sou meu pai. Nem minha madrasta.”

— “Mas carrega o mesmo sangue.”

Ele deu um passo na direção dela.

— “E você carrega o quê, Flor? Vergonha do que sente?”

Ela empalideceu. Por dentro, a resposta era um grito. Mas por fora, ela mordeu os lábios e desviou o olhar.

— “O que eu sinto ou deixo de sentir não é problema seu.”

— “É sim. Porque eu tô começando a achar que você é o único pedaço de verdade nesse mundo sujo.”

Flor se calou. A dor do bilhete ainda pulsava dentro dela. Mas naquele momento, olhando pra Leonardo, alguma coisa balançou. Algo quase bonito. Quase perigoso.

— “Você devia ir embora.”

— “Não quero.”

— “Então vai se machucar. E me machucar também.”

Leonardo estendeu a mão e tocou o braço dela. Um toque leve, mas que queimou.

— “Eu aguento.”

Mas ela... não sabia se aguentava.

Naquela noite, Flor encontrou mais um bilhete, escondido entre as roupas no varal:

“Se você se aproximar dele de novo, vai pagar caro. Não diga que não foi avisada.”

Dessa vez, não havia cheiro de perfume. Só medo.

E o medo, ela conhecia muito bem.