Capítulo 6 – O Perfume da Maldade

Florencia nunca foi de desconfiar fácil. Cresceu acreditando nas pessoas, mesmo quando a vida mostrava o contrário. Mas depois do segundo bilhete, algo dentro dela mudou. Um tipo de desconfiança amarga começou a tomar espaço no peito.

Naquela manhã, ela voltou à vila mais cedo. Precisava pensar. Pensar e juntar peças.

Foi aí que viu Marta, a governanta da mansão, saindo da vendinha com uma sacola pequena nas mãos. Era um perfume. Flor reconheceu pela embalagem: "Jardins de Espanha", importado, cheiro forte, doce… o mesmo que sentiu no primeiro bilhete.

Esperou Marta ir embora. Depois entrou e perguntou ao velho vendedor:

— “Dona Marta compra sempre esse perfume?”

O homem deu de ombros, limpando o balcão com um pano já sujo.

— “Não é pra ela. Ela diz que é pra patroa dela. A tal da madame Montenegro.”

Flor congelou.

Agora fazia sentido.

O papel caro. O cheiro. A ameaça velada.

Verónica.

Mais tarde, no galpão onde ajudava a organizar os legumes, Flor não conseguia mais esconder a raiva. Cada vez que lembrava do jeito suave com que a mulher a cumprimentava em público, a falsidade embrulhava seu estômago.

Decidiu ir até a mansão.

Sem avisar.

Chegou no final da tarde, ainda com a roupa simples de trabalho. O sol estava se pondo, tingindo o céu de laranja e sangue. Foi recebida por uma criada, que tentou barrá-la.

— “A senhora Verónica não recebe sem hora marcada...”

— “Pois diga que quem veio foi a flor do lixo. Aquela que não devia ter nascido.”

A criada empalideceu, mas foi. Minutos depois, Verónica apareceu no topo da escada, impecável como sempre, com um robe de seda vinho e um sorriso que não chegava aos olhos.

— “Florencia... que surpresa desagradável.”

— “Não mais do que seus bilhetes.”

O rosto de Verónica não se moveu. Mas os olhos… os olhos brilharam com um fogo gélido.

— “Não sei do que está falando.”

— “Sabe sim. O perfume te entregou. E a sua governanta também.”

Verónica desceu os degraus devagar, como uma atriz num palco. Parou a poucos passos de Flor.

— “E o que você vai fazer com essa informação, menina pobre? Me denunciar? A quem? Ao seu Deus? Ao meu marido?”

Flor olhou firme.

— “Não preciso de ninguém. Só queria que soubesse que não tenho medo.”

— “Mas devia.”

Verónica se aproximou, baixou o tom da voz, como quem conta um segredo sujo.

— “Eu já destruí a mãe que te pariu. Não vou pensar duas vezes antes de acabar com você também.”

Flor sentiu um frio na espinha. Mas não se afastou.

— “A senhora pode ter matado minha mãe. Mas eu sou feita de espinho. Vai se cortar toda antes de conseguir me arrancar.”

Verónica sorriu, um sorriso de cobra.

— “Veremos, bastarda.”

Naquela noite, Flor não dormiu. O passado voltava como faca. A certeza de que sua mãe fora assassinada por Verónica a corroía.

Mas agora ela tinha algo novo.

Motivo. Coragem. E sede de justiça.

E uma promessa silenciosa nasceu em sua boca:

— “A senhora vai pagar.”