A mansão Montenegro, com seus portões de ferro e janelas altas, parecia menor do que Florencia lembrava. Talvez porque agora ela não fosse mais uma menina pobre que olhava tudo de baixo.
Ela agora vinha olhar nos olhos de Verónica.
— “O que pensa que está fazendo aqui?”, disse a governanta, ao vê-la entrar sem aviso.
Flor não respondeu. Caminhou pelo saguão como quem pisa no próprio passado.
Verónica surgiu no alto da escada, vestida de vinho escuro, os cabelos presos com precisão cruel.
— “A bastarda resolveu voltar ao ninho?”
Flor ergueu o queixo.
— “Você mandou os bilhetes. Você matou minha mãe. Agora tem medo de que a verdade se espalhe?”
A mulher riu, seca.
— “Provas? Testemunhas? Está se baseando em histórias de bêbados e parteiras gagás?”
— “Não. Estou me baseando no que você é. Uma mulher podre. Que se esconde atrás do nome Montenegro como se isso fosse limpar a sujeira das mãos.”
Verónica desceu um degrau. Cada passo parecia pesar um século.
— “E o que pretende? Justiça? Acha que algum juiz vai ouvir você?”
— “Não preciso de juízes. Só preciso do povo. Eles já começaram a escutar. E vão continuar ouvindo. Eu vou falar. Gritar, se for preciso.”
Verónica, pela primeira vez, hesitou.
— “Você é igualzinha à sua mãe… atrevida, orgulhosa, e burra. Mariana morreu porque se meteu onde não devia.”
— “Ela morreu porque você a matou.”
Silêncio. As palavras ficaram presas no ar como uma faca antes de cair.
De repente, uma porta se abriu atrás delas.
Leonardo.
O pai. O covarde. O ausente.
Ele ouviu tudo.
— “É verdade?”, perguntou, a voz fraca, olhando para Verónica.
Ela não respondeu. Mas o rosto endurecido falava mais do que qualquer palavra.
— “Você sabia que era minha filha?”, perguntou ele a Florencia.
— “Soube desde que olhou nos meus olhos.”
Ele abaixou a cabeça.
— “Mariana me escreveu. Mas Verónica... ela escondeu tudo. Disse que a criança tinha morrido com ela.”
Flor deu um passo à frente.
— “E mesmo assim ficou em silêncio. Deixou ela ser enterrada como um bicho. Me deixou crescer na miséria, cercada de mentiras.”
Leonardo chorava.
— “Eu não tive coragem. Me perdoa…”
Florencia sentiu o coração pesar, mas não amoleceu.
— “Não estou aqui por perdão. Estou aqui pra avisar: acabou. Eu vou tirar tudo de vocês. Nome, fazenda, respeito. Como tiraram da minha mãe.”
Verónica explodiu.
— “Você não é nada! Não é uma Montenegro!”
Flor se virou na porta.
— “Não. Eu sou uma Ferreira, filha de Mariana. E isso já é mais do que você jamais foi.”
E saiu, com o vento soprando os cabelos e o sangue pulsando nas veias.
A cidade era dela agora.
O ódio não calava mais a verdade.