Anna
O sol mal começava a pintar o céu de tons rosados quando Anna acordou, mas a sensação de inquietação já a dominava antes mesmo dos primeiros raios entrarem pela janela. A noite passada parecia um sonho vívido e confuso, como se seu corpo ainda estivesse ardendo com as lembranças de Rafael — seu toque, seu cheiro, o calor que parecia ter deixado marcas invisíveis em sua pele.
Ela se sentou na cama, os olhos fixos no vazio, tentando entender o turbilhão que sentia. Por mais que seu coração batesse acelerado, havia também um nó no estômago, uma ansiedade que não sabia explicar.
— Será que ele confia em mim? — pensou, mordendo o lábio inferior.
A relação deles já estava longe de ser simples. Rafael, com toda sua força e intensidade, era um mistério. Ele não escondia a possessividade, mas havia momentos em que a dureza dava lugar a uma vulnerabilidade que a assustava e atraía na mesma medida.
No reflexo do espelho, Anna viu uma mulher cansada, com olheiras fundas e uma expressão que misturava esperança e medo. Um misto que ela nunca tinha sentido antes, mas que parecia se intensificar a cada dia.
Na lanchonete, a rotina era quase um conforto. O cheiro do café fresco, o barulho das conversas baixas, o toque dos copos e pratos — tudo isso a ancorava no presente, tentando afastar os pensamentos que insistiam em se agarrar a Rafael.
— Você está diferente — comentou Léo, enquanto ela servia um cliente.
Ela sorriu, tentando esconder o que realmente sentia.
— Só cansada — respondeu, sem querer entrar em detalhes.
Mas no fundo, sabia que não era só cansaço. Era um conflito entre o que queria sentir e o medo do que poderia vir.
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Rafael
Do outro lado da cidade, Rafael sentia o mesmo fogo consumindo suas noites. O ciúme, uma fera selvagem, rugia dentro dele cada vez que imaginava Anna perto de outro homem, mesmo que fosse apenas um garçom ou um cliente casual.
Ele não podia controlar essa obsessão, e não queria.
Para ele, Anna era uma peça rara, uma joia que ninguém mais podia tocar. O pensamento de perdê-la o deixava inquieto, quase desesperado.
Naquela noite, após uma reunião tensa com membros da máfia, Rafael voltou para seu apartamento sentindo-se exausto e irritado. Ele sabia que precisava se concentrar nos negócios, mas seu pensamento estava completamente preso àquela mulher.
Mesmo em meio ao luxo e ao poder, ele sentia-se vulnerável na presença dela.
Quando chegou, recebeu uma mensagem de uma mulher que vira na festa dias antes — uma tentativa de distração, um convite para esquecer por um momento o que sentia por Anna. Ele sabia que deveria ignorar, mas a tentação era forte.
Foi até o apartamento dela, e os corpos se encontraram mais uma vez, mas dessa vez, Rafael estava distante, preso em pensamentos sobre Anna. Mesmo com a mulher em seus braços, ele sentia que nada se comparava àquela conexão.
No silêncio depois do sexo, Rafael ficou olhando para o teto, os olhos fixos no vazio.
— Ela é minha — murmurou para si mesmo —, e ninguém vai me tirar isso.
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Anna
Naquela tarde, quando Rafael a chamou para sair, Anna sentiu um misto de ansiedade e excitação. Sabia que aquela relação não seria fácil, mas algo dentro dela a empurrava para frente, para aquele mundo desconhecido e perigoso.
Eles foram a um bar discreto, longe dos holofotes, onde Rafael podia ser só ele mesmo, sem máscaras.
Sentados em uma mesa no canto, ele a observava como se fosse a única coisa que importasse no mundo.
— Anna — começou ele, a voz baixa e firme —, eu sei que isso tudo é rápido, e talvez demais para você.
Ela olhou nos olhos dele, sentindo o peso das palavras.
— Eu não sei se estou pronta — confessou, com um suspiro.
Rafael aproximou a mão da dela, os dedos entrelaçando-se com suavidade.
— Eu vou te proteger de tudo. De verdade. Mas você precisa confiar em mim.
Ela apertou a mão dele, a respiração acelerada.
— Eu quero confiar... mas tenho medo.
Ele sorriu, um sorriso que misturava ternura e possessividade.
— Medo é normal quando se está prestes a se entregar. Eu sinto o mesmo, Anna.
Mas naquele momento, a porta do bar se abriu, e uma figura familiar entrou. Um homem alto, com um olhar provocador, dirigiu-se até eles, sorrindo de maneira sarcástica.
— Rafael — disse ele, com um tom debochado —, ainda perdendo tempo com essa garota?
Rafael se levantou devagar, o corpo tenso.
— O que você quer, Henrique? — perguntou, a voz cortante.
Henrique deu um passo para mais perto, encarando Anna.
— Só estou dizendo que ela não é para você. Tem muita gente interessada, sabia?
Anna sentiu um frio subir pela espinha. O clima ficou pesado.
Rafael posicionou-se entre Anna e Henrique, os olhos faiscando.
— Ela é minha. Entendeu? — disse, a voz ameaçadora.
Henrique riu, um som seco e cruel.
— Vamos ver quanto tempo você aguenta, meu amigo.
Ele saiu, deixando para trás um silêncio carregado.
Anna olhou para Rafael, que respirava fundo, tentando controlar a raiva.
— Eles não vão nos deixar em paz — disse ele, segurando o rosto dela com força.
Ela sentiu o calor do toque e, ao mesmo tempo, a urgência por estar protegida.
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**Rafael**
Quando voltou para o apartamento, a possessividade o consumia. Pensava em Anna como se fosse uma extensão dele mesmo, um objeto precioso a ser guardado a qualquer custo.
Cada mensagem dela, cada olhar, fazia seu coração disparar e, ao mesmo tempo, seu cérebro a pensar em todas as formas de mantê-la longe de perigo.
Ele sabia que o mundo em que viviam não era feito para o amor — era feito para o controle, para o poder.
Mas Rafael queria mudar isso, pelo menos para ela.
Pegou o celular e começou a mandar mensagens para seus aliados, preparando um plano para afastar Henrique e qualquer outro que ameaçasse Anna.
Enquanto isso, sua mente voltava para aquela noite, para o corpo dela entrelaçado ao seu, para o som da respiração ofegante dela em seus ouvidos.
Um misto de ciúmes, desejo e um medo profundo de perdê-la o deixava vulnerável — algo que nunca tinha sentido antes.
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Anna
Naquela noite, sozinha no quarto, Anna sentiu uma solidão que apertava o peito. Por mais que Rafael prometesse proteção, havia algo no olhar dele que assustava.
Era um brilho intenso, quase selvagem, que a fazia sentir-se ao mesmo tempo amada e presa.
Ela olhou para o celular, lendo as mensagens dele, que ora eram carinhosas, ora cheias de possessividade.
— Até onde isso vai me levar? — pensou, mordendo o lábio.
O desejo de estar com ele era tão forte quanto o medo de se perder.
E, quando se ajeitou na cama, sentiu como se alguém estivesse observando.
A sensação cresceu, um arrepio percorrendo a espinha.
Na janela, uma sombra se moveu rápido, quase imperceptível.
Anna prendeu a respiração.
— Será que estou mesmo segura? — sussurrou para o escuro.
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O jogo entre amor, obsessão e perigo só começava.
E ninguém sabia até onde eles iriam para proteger ou destruir aquilo que estava nascendo entre eles.