Parte 8 – Segredos na Penumbra

Anna

O dia amanheceu cinzento, com nuvens pesadas que prometiam chuva. Anna sentiu o peso daquele clima refletir seu próprio estado — confusa, inquieta, como se algo estivesse prestes a desabar.

Ela não conseguia tirar da cabeça a sombra que viu na janela na noite anterior. Será que estava realmente sendo observada? Ou seria apenas o medo crescendo dentro dela, alimentado pela intensidade de Rafael?

No trabalho, tentou se concentrar, mas cada barulho, cada movimento, fazia seu coração disparar.

— Anna, está tudo bem? — perguntou Júlia, percebendo o silêncio da amiga.

— Só cansada — respondeu, forçando um sorriso.

Mas a verdade era outra. A vida que ela conhecia estava mudando rapidamente, e as coisas que antes pareciam simples agora ganhavam novos contornos — sombrios, perigosos.

Ela lembrava das palavras de Rafael, da ameaça de Henrique, do olhar possessivo dele.

— Será que ele está certo? — pensou. — Será que essa relação vai me salvar ou me destruir?

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Rafael

No escritório, Rafael não conseguia parar de pensar em Anna. Cada ligação, cada mensagem, era para garantir que ela estivesse segura, mas o ciúme e a paranoia cresciam como fogo dentro dele.

Ele ordenou que seus homens monitorassem todos os passos dela, sem que Anna soubesse.

— Ninguém pode chegar perto dela — murmurou para o braço direito, Lucas.

— Pode confiar, chefe. Vou cuidar disso — respondeu Lucas, com um sorriso que não chegava aos olhos.

Mas Rafael sabia que o perigo vinha de dentro, de seus próprios inimigos e das dúvidas que começavam a corroer a confiança que queria construir.

Naquela noite, Rafael recebeu uma ligação que fez seu sangue ferver. Henrique havia aparecido perto da lanchonete onde Anna trabalhava, provocando e ameaçando.

— Não vou permitir — disse Rafael, com voz fria. — Vou acabar com ele.

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Anna

Ao final do expediente, Anna sentiu o peso dos acontecimentos como nunca antes. O medo crescia dentro dela, mas também a vontade de enfrentar aquilo tudo.

Quando saiu da lanchonete, sentiu um calafrio ao notar um carro preto estacionado à distância, com vidros escuros.

— Será que...?

Ela acelerou o passo, o coração quase saindo pela boca.

Quando virou a esquina, uma mão firme a puxou para trás, segurando-a contra o corpo forte de Rafael.

— Você não deveria andar sozinha assim — disse ele, a voz baixa e intensa.

Anna sentiu o calor do corpo dele e, ao mesmo tempo, a tensão do perigo.

— Eu não quero viver com medo — respondeu, olhando nos olhos dele.

Rafael segurou seu rosto, os dedos trêmulos pelo desejo e pelo medo.

— Então fique comigo. Eu vou te proteger. A qualquer custo.

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Rafael

Mais tarde, em seu apartamento, Rafael lutava contra seus próprios demônios. Sabia que o ciúme o consumia, mas não podia evitar.

Quando pensava em Anna com outros homens, sentia uma raiva quase insuportável.

Ele começou a planejar movimentos para eliminar Henrique, para garantir que ninguém ameaçasse o que já considerava seu.

Mas, no fundo, Rafael temia que sua obsessão pudesse ser a ruína dos dois.

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Anna

Sozinha no quarto, Anna sentou na cama e colocou as mãos no rosto. A mistura de emoções era quase insuportável.

Ela queria confiar em Rafael, queria se entregar a esse amor intenso, mas sentia que estava se perdendo em um jogo que não compreendia totalmente.

E a sensação de ser observada não a abandonava.

O telefone vibrou. Uma mensagem anônima: "Cuidado com quem você confia."

Anna engoliu seco. Sabia que sua vida estava prestes a mudar — para sempre.

O dia parecia pesar sobre os ombros de Anna como uma nuvem negra. Cada passo que dava pela rua, cada rosto que passava por ela parecia carregar um mistério, uma ameaça invisível que fazia seu coração acelerar de um jeito que ela não sabia explicar. A sensação era como se algo — ou alguém — estivesse sempre um passo atrás, observando cada movimento, esperando o momento certo para agir.

Ela tentou se concentrar no trabalho, mas as vozes na lanchonete soavam distantes, abafadas. Júlia, como sempre, era a primeira a notar sua inquietação.

— Anna, você não está bem. Me diz o que tá pegando. — Ela falou com cuidado, o olhar preocupado.

Anna sorriu, mas era um sorriso quebrado, de quem tenta esconder a tempestade que carrega dentro.

— Só um pouco cansada, Júlia. Não se preocupa.

Mas as palavras pareciam vazias até para ela mesma. A verdade era que o medo e a ansiedade a dominavam. Aquela noite em que vira o carro preto, o som de passos atrás dela na rua, o frio na espinha — tudo isso não era coincidência. E, mais do que isso, a presença de Rafael, aquele homem intenso, protetor e ao mesmo tempo assustador, tornava tudo mais confuso.

No fundo, Anna sentia um misto de fascinação e medo por ele. Rafael não era apenas um homem da máfia — ele era um furacão de emoções que ameaçava engoli-la por inteiro.

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Enquanto isso, em um prédio luxuoso no centro da cidade, Rafael trancava a porta do escritório com força. A tensão no seu corpo era palpável, os dedos ainda latejando do aperto do telefone momentos antes.

— Henrique apareceu perto da lanchonete — falou para Lucas, seu braço direito — E não vai parar até causar problemas.

Lucas, impassível, apenas assentiu.

— Vou mandar meus homens atrás dele agora. Ele não vai se atrever a se aproximar da Anna de novo.

Rafael deixou escapar um suspiro pesado, seus olhos escuros brilhando com uma mistura de raiva e preocupação.

— Ela é minha. Não vou permitir que ninguém a toque, a ameace ou a olhe de jeito errado. Se alguém tentar, vai se arrepender para sempre.

Ele virou-se para a janela, olhando a cidade abaixo, sentindo o peso da responsabilidade que assumira.

Mas, no fundo, Rafael sabia que a possessividade que sentia ia além da proteção. Era quase uma obsessão — um desejo de controlar tudo ao redor dela, até mesmo o que Anna nem sequer desconfiava.

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Naquela noite, Anna estava exausta, os olhos pesados demais para ficar abertos por muito tempo. O quarto simples e frio parecia menor, quase sufocante. Ela se deitou, mas o sono demorava a chegar, perturbado pelas lembranças daquele homem misterioso e pelo medo constante de estar sendo seguida.

Em seus pensamentos, a imagem de Rafael se misturava com flashes confusos do passado — o orfanato sombrio, a máfia usando crianças como fachada, ele olhando para ela com aqueles olhos intensos, tão cheios de segredos e intenções ocultas.

Anna tentou afastar essas memórias, mas eram como sombras que a perseguiam. Cada som da casa, cada ruído da rua fazia seu corpo se arrepiar.

Ela finalmente adormeceu, mas o sono foi agitado, cheio de sonhos borrados, onde sentia um olhar penetrante sobre ela, uma presença invisível no quarto.

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Enquanto isso, Rafael estava em um apartamento escuro, no coração da cidade. A festa de luxo havia acabado, mas ele ainda sentia o cheiro da bebida e da pele de uma mulher em sua pele. Naquele momento, havia cedido à tentação — uma mulher linda, vestida de vermelho, que tentara seduzi-lo.

Eles haviam se entregado a uma noite de sexo rápido, quase frenético. Mas, mesmo durante o ato, Rafael não conseguia apagar da mente a imagem de Anna. Seus pensamentos escapavam para ela, para a mulher que ocupava todos os seus desejos e angústias.

Depois que a mulher adormeceu ao seu lado, ele ficou acordado, olhando para o teto, a mente presa numa prisão de obsessões.

— Por que não consigo esquecer ela? — murmurou, fechando os olhos, sentindo uma mistura de culpa e desejo.

Ele sabia que aquela mulher não significava nada para ele — não como Anna. Ela era diferente, única, mesmo que ele ainda não pudesse explicar por quê.

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Na manhã seguinte, Anna acordou com a sensação incômoda de que algo estava errado. Seu corpo doía, não só pela rotina exaustiva, mas por um peso invisível que apertava seu peito.

Ela passou a mão pelo rosto, tentando espantar o sono, e logo seu pensamento voltou para Rafael. Aquele homem que surgira de repente em sua vida, com seus olhos que pareciam ler sua alma, com sua voz que reverberava dentro dela como uma promessa e uma ameaça ao mesmo tempo.

— Quem é ele, afinal? — pensou, sentindo um frio na barriga.

Ela nunca fora de se entregar tão rápido a alguém, mas Rafael a fascinava e a aterrorizava. A sensação de estar sendo observada não diminuía — muito pelo contrário. Parecia que a qualquer momento alguém poderia aparecer, aparecer para levá-la para longe, ou para destruí-la.

Anna levantou da cama, caminhou até a janela e olhou para a rua. Lá embaixo, um vulto desapareceu atrás de um carro escuro.

Ela sentiu o coração gelar.

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Horas depois, quando o sol começava a descer, lançando uma luz alaranjada sobre a cidade, Anna decidiu sair para uma caminhada, tentando clarear a mente.

Mas a sensação de ser seguida não a abandonava.

Ela sentia olhos sobre ela, mesmo quando virava as costas, e às vezes ouvia passos atrás de si — passos que paravam quando ela se virava.

Sua respiração ficou acelerada, as mãos começando a suar.

Ao virar a esquina de uma rua quase deserta, alguém finalmente falou, em voz baixa, quase um sussurro:

— Você sente isso, não é?

Anna congelou, o corpo rígido. Não reconhecia a voz, mas o tom era familiar — carregado de uma ameaça velada e uma promessa.

— Quem está aí? — ela perguntou, a voz tremendo.

— Apenas alguém que cuida de você... mesmo que você não saiba ainda.

A figura saiu da sombra, mas Anna não conseguiu ver o rosto. Só sentiu que o jogo havia começado — e que sua vida nunca mais seria a mesma.

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**Rafael (pensando em silêncio, enquanto observava o apartamento dela de longe)**

— Ela não sabe... Mas eu a tenho sob meu olhar, minha proteção. E se alguém ousar atravessar essa linha, vai pagar caro. Cada passo dela, cada respiração... são meus.

A voz da obsessão ecoava em sua mente.