Anna não conseguia parar de pensar na voz que ouvira na rua, naquele sussurro ameaçador e, ao mesmo tempo, curioso. Ela sabia que não fora fruto da imaginação — algo ou alguém realmente estava ali, nas sombras, vigiando seus passos, manipulando suas certezas.
Naquele dia, tudo parecia mais pesado, como se uma névoa invisível cobrisse seu mundo. No trabalho, ela tentava sorrir, falar com os colegas, mas seus olhos denunciavam o turbilhão interno. Júlia percebeu a mudança.
— Anna, a gente precisa conversar. Tem coisa errada com você, e eu quero ajudar.
Ela segurou a mão da amiga com firmeza, como se procurasse ali um ponto de apoio. Mas Anna só conseguiu balançar a cabeça.
— Não sei o que é, Júlia. Só sinto que... que tem alguém me seguindo.
Júlia franziu a testa, preocupada.
— Você vai chamar a polícia?
— Não, não posso. Não é só isso... é como se essa pessoa estivesse perto, mas não fosse inimiga. Como se... fosse parte de algo maior, algo que ainda não entendo.
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Naquele exato momento, a poucos quarteirões dali, Rafael observava de seu carro preto, o olhar fixo no pequeno apartamento de Anna.
Seus dedos tamborilavam no volante, impacientes. O ciúme latejava como uma ferida aberta.
— Como pode ela estar aqui, tão perto, e ainda assim ser tão vulnerável? — murmurou para si mesmo.
Ele sabia que precisava agir, mas também sabia que precipitar-se poderia afastá-la para sempre.
— Paciência, Anna. Eu vou te proteger, mesmo que você não queira. Mesmo que você fuja.
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Horas depois, ao anoitecer, Anna saiu para caminhar pela vizinhança, o ar frio acariciando seu rosto, mas a sensação de ser seguida continuava sufocante.
Ela tentou racionalizar: "Talvez sejam só paranoias, efeito do cansaço...".
Mas quando um carro preto estacionou lentamente à sua frente, e uma sombra se moveu na calçada, seu coração quase parou.
De repente, uma voz familiar a chamou do meio da penumbra.
— Anna.
Ela girou o corpo lentamente e viu Rafael, o homem que até então só vira em flashes, em encontros breves e furtivos, aproximando-se dela com a expressão tensa, os olhos brilhando com uma mistura de desejo e possessividade.
— Você me assustou. — Anna disse, tentando manter a voz firme.
— Desculpa — respondeu ele, aproximando-se ainda mais, a respiração pesada. — Mas eu precisava te ver. Precisava saber que você está bem.
Anna sentiu o peito apertar. Era estranho sentir-se tão vulnerável perto dele, e ao mesmo tempo tão protegida.
— Por que está aqui? — perguntou, o olhar fixo no dele.
— Porque ninguém vai te machucar. Porque eu não deixarei ninguém se aproximar de você sem minha permissão. — A voz dele era firme, quase um comando.
Ela recuou um passo.
— Eu não preciso que você me proteja assim, Rafael.
— Precisa sim — ele respondeu, com uma intensidade que fez seu coração disparar.
Eles ficaram ali, parados na calçada, com a noite envolvendo-os em um silêncio carregado de tensão.
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Rafael deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles.
— Eu sei que isso é estranho para você. Que eu sou estranho para você. Mas não consigo tirar você da cabeça, Anna.
Ela desviou o olhar para o chão, sentindo o calor da presença dele invadir seu espaço pessoal.
— Eu também não consigo parar de pensar em você. Mas tudo isso é muito rápido, muito intenso.
Ele sorriu, um sorriso que misturava desejo e possessividade.
— Intensidade é o que vai te proteger no fim das contas.
Anna sentiu as mãos dele, firmes e quentes, segurando seus braços com delicadeza, mas também com uma determinação que não permitia dúvidas.
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No apartamento de Anna, longe dali, a noite trouxe seus próprios segredos.
Rafael, sozinho, observava uma camisa dela, esquecida em um canto do carro. A textura do tecido fazia sua imaginação correr solta. Ele lembrou da última vez que esteve na casa dela — como entrara furtivamente, como tocara aquela roupa de dormir que ela usava, como aquele momento proibido alimentava sua obsessão.
Seu corpo reagia involuntariamente, a mente dominada por fantasias e desejos que ele não conseguia controlar.
Mas ele também sabia que aquela obsessão precisava ser controlada para não destruí-la — e para não destruí-lo.
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No dia seguinte, Anna acordou com uma mistura de medo e excitação que lhe apertava o peito. Rafael tinha invadido seus pensamentos como uma tempestade, ao mesmo tempo ameaçadora e sedutora.
Enquanto se preparava para o trabalho, seu olhar pousou na janela, onde a sombra de um homem desaparecia lentamente atrás de um muro.
Ela sabia, no fundo, que a noite passada não fora um acaso.
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Durante o turno na lanchonete, Anna recebeu uma mensagem no celular: “Estou perto. Cuide-se.” Sem remetente. Seu coração disparou.
Ela mostrou a mensagem para Léo, que franziu a testa.
— Tá acontecendo coisa feia, Anna. Você tem que ter cuidado.
Mas ela não podia correr. Não podia fugir daquilo.
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À noite, Rafael estava em sua mansão, sozinho com seus pensamentos.
Ele sentia a necessidade urgente de tê-la perto, mas também sabia que a intensidade dele podia assustá-la.
A possessividade era uma faca de dois gumes — uma promessa de proteção, mas também uma prisão invisível.
Ele pegou o celular, digitou uma mensagem e hesitou.
“Eu vou cuidar de você. Mesmo que não queira.”
Envio.
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Anna recebeu a mensagem e sentiu um calafrio. Queria fugir, queria se afastar, mas ao mesmo tempo algo dentro dela queria acreditar que Rafael era seu único refúgio naquele mundo sombrio que começava a engoli-la.
O jogo entre o medo e a sedução havia começado.
E nenhum dos dois sabia até onde aquilo iria levar.