Han Jiwon está deitada em sua cama, ouvindo música de olhos fechados, quando sente alguém acariciar seus cabelos. Assustada, ela arranca o fone de ouvido.
Seo Minjae ri da reação.
— Se assustou, foi? — provoca ele, com um sorriso leve.
— O que está fazendo aqui? — pergunta Jiwon, franzindo o cenho.
— Vim fazer companhia — responde, se jogando na cama ao lado dela e pegando um dos fones para ouvir também.
Jiwon o observa em silêncio, e sua mente a leva de volta ao dia em que chegou ali, perdida. Ele foi seu porto seguro. Ela nem sabia o seu nome... e desde então, nada do passado voltou à memória.
— O que foi? — pergunta Seo Minjae, notando o olhar dela.
Ela balança a cabeça, dizendo que não é nada. Minjae se inclina e beija sua testa com delicadeza.
— Eu sempre vou te proteger. Boa noite, Jiwon.
Ao sair do quarto, ele encosta na porta, respira fundo e murmura:
— Eu te amo, Han Jiwon. — e se retira.
Jiwon se levanta e vai até a janela. Abraça a si mesma, com os olhos marejados.
— Como eu queria sair daqui... Mamãe... papai... Por que não me levaram com vocês?
Naquela noite, Jiwon viu encarando um feixe de luz que atravessava uma fresta, sentindo um medo profundo em meio à escuridão e o coração disparado no peito. De repente, ouviu algo que parecia um tiro — Acordou assustada, sem conseguir conter as lágrimas. Abraçou as pernas, trêmula, incapaz de voltar a dormir. Teve somente um breve cochilo antes que o despertador tocasse.
— Ah, não... mal dormi, e já tenho que me levantar para ir à escola.
Ela desce apressada nas escadas e se depara com a mulher parada no corredor.
— Vai sair assim? — pergunta a tia, com o olhar crítico percorrendo a sua roupa.
— Não se enxerga, não?
Jiwon respira fundo, os dedos apertando a barra da blusa
— Posso escolher o que vestir... — diz em voz baixa, sem a encarar.
O som da bofetada ecoa antes mesmo que o silêncio termine.
— Insolente! — Rosna, uma Mulher. — Quem você pensa que é? Jiwon leva a mão ao rosto, sentindo ardência.
— Você não tem o direito de se portar como se fosse gente. Lembre-se de onde veio.— Você vive, dorme e respira aqui por PENA. Não pense que isso é amor. E não pense que vou deixar você roubar meu filho de mim, entendeu?
Nesse momento, Seo Kyungwoo e Seo Minjae aparecem.
— Você está louca? O que você acha que está fazendo? — grita Kyungwoo.
Minjae segura a mão de Jiwon, a puxa dali, e a mãe dele grita ao fundo — e começa uma discussão com Kyungwoo, dizendo-lhe que não entende por que ele sempre está protegendo a garota, e seu filho também.
Jiwon sente como se, mais uma vez, o chão fosse tirado dos seus pés. Mas ela sabia: não poderia desabar agora. Passou por tantas humilhações que aprendeu a se manter firme. Sobreviveria mais um dia.
— Me desculpe, Jiwon. Você não merece isso. Vou te proteger… sempre. Prometo — diz Minjae, abraçando-a com força.
— Minjae… Eu só quero conseguir um emprego. Sair da sua casa. Nunca mais incomodar sua mãe. Desaparecer!
Minjae fica paralisado e a afasta. Os seus olhos enchem-se de lágrimas, mas a sua expressão muda. — Há algo estranho no seu olhar.
— O que você está dizendo? Você vai me deixar? Eu te defendo, estou sempre do seu lado… e você quer me abandonar? Eu não sou a minha mãe! Ele fecha os punhos, irritado, e entra na sala, batendo na porta.
— Minjae! Espera! — Gritou Jiwon, mas ele não respondeu.
Lee Soyeon sua amiga, vê Jiwon sentada sozinha no pátio, com os olhos vermelhos. Sem perguntar nada, senta ao lado da amiga, tira um pacote de balas do bolso e oferece.
— Não precisa dizer nada. Só mastigue. As duas ficam ali, em silêncio, partilhando o peso que Jiwon carrega.
— Sei que ele te protege, mas, Jiwon… às vezes proteger demais também é controlar.
— Minjae não é assim. — Defenda Jiwon.
— Espero que não. Porque se um dia ele te magoar, ele vai precisar de socorro, vou dar umas tapas nele.
As duas riem e vão para sala.
Na sala de aula, a professora entra com um novo aluno e o apresenta à turma. Em seguida, solicite que ele seja apresentado.
— Olá, meu nome é Nam Dohyun! — diz ele. Todos o cumpriram de volta, e a professora pede para que ele se sente ao lado de Han Jiwon.
— Olá! Seja bem-vindo! — diz Han Jiwon, sorrindo.
— Obrigado! — responde Dohyun, um pouco tímido.
Seo Minjae observa a cena com uma expressão contrariada. O ciúme o consome em silêncio, principalmente ao notar o jeito com que o novato olha para Jiwon. Ele não reage, mas por dentro está furioso. Na saída, Minjae deixa a escola sem dizer uma palavra a Jiwon. Ela tenta alcançá-lo, tenta pará-lo, mas ele simplesmente vai embora.
Jiwon está sozinha quando Lee Soyeon, o oposto de Jiwon — falante, energética, um pouco intrometida, mas com um coração enorme — aparece logo em seguida e convida uma amiga para tomar sorvete.
— Você precisa parar de andar com essa cara de drama triste! Vamos comprar um sorvete.
— Não tenho dinheiro.
— Eu tenho! Diz, Soyeon.
Nam Dohyun, que escutava de longe, se aproximava.
— Posso ir com vocês? Pago o sorvete.
— Claro! Responde Soyeon. Sem dar tempo de resposta de Jiwon.
Na sorveteria, os três começam a criar um laço de amizade. As risadas são leves, e o clima, por um momento, é tranquilo. Mais tarde, quando Soyeon e Jiwon voltam para casa, param em um parquinho. Sentadas no balanço, Soyeon finalmente pergunta:
— Quando cheguei hoje, percebi o clima entre você e Minjae. O que aconteceu?
Jiwon respira fundo e conta tudo o que houve. Soyeon segura a sua mão e fala com firmeza e carinho:
— Você não é um peso, Jiwon. Você é um sobrevivente. E quem sobrevive carrega luz. Se a sua tia te bateu, é porque ela tem medo de você ser amada. Sou sua amiga, não só nos dias bonitos. Pode contar comigo quando tudo estiver um desabar.
Jiwon não segura as lágrimas e se debruça sobre as pernas da amiga, chorando. Soyeon a acolhe em silêncio, com o coração cheio de afeto.
— Não sei o que seria de mim sem você, creio que Deus ainda tá comigo. Porque ele me deu você. — Diz Jiwon.
As duas se abraçam e fazem promessas de sempre estarem juntas.
— Você lembra quando derrubei suco na sua blusa no primeiro dia de aula? Achei que você me odiaria. — Pergunta Soyeon.
— Na verdade, eu pensei ser o suco mais frio do mundo por ser a primeira vez que alguém veio falar comigo.
As duas riem.
Ao chegar em casa, já um pouco mais tarde, Jiwon sente um frio na barriga devido a toda a confusão do dia. Mas tudo parece normal. Ela não encontra a sua tia nem o seu tio, então sobe direto para o quarto. Assim que entra, alguém bate à porta. Era Minjae.
— Posso entrar? Pergunta.
— Sim. — Respondeu de leve.
— Me desculpe… Eu não devia ter sido grosseiro com você. Me perdoa? — implora Minjae, com expressão abatida.
— Claro que sim. Você sempre foi meu protetor. — responde Jiwon com um sorriso frágil.
Depois de um certo silêncio. Minjae hesita por um momento, coça a nuca, e então pergunta:
— E o que você achou do novato?
— Ele parece legal. Foi gentil comigo. — responde Jiwon, balançando a cabeça suavemente.
Antes que a conversa pudesse continuar, um leve ranger na porta interrompeu o momento, uma sombra surgiu na porta do quarto. O coração de Jiwon disparou antes mesmo dos seus olhos refletirem a figura. Era como se o ar se tornasse denso de repente, difícil de respirar. Jiwon não precisou virar o rosto para saber quem era. Minjae levantou-se da cama rapidamente, curioso para saber por que sua mãe estava ali. Ainda assim, mantinha-se calmo — sabia que, com ele por perto, ela não ousaria fazer nada contra Jiwon.